20 anos de Xbox

Os bastidores da história do videogame da Microsoft no Brasil

Bruno Izidro Do START, em São Paulo

Em novembro de 2001, a Microsoft deixou de ser só a empresa do Windows ao lançar seu primeiro console de videogame: o DirectX Box, ou só Xbox.

Foi uma aposta ousada. Mas, depois de 20 anos, não tem como dizer que não deu certo.

O que Bill Gates nem esperava era que a marca Xbox iria ser tão importante para o mercado de games também no Brasil, e muito mais do que os jogadores imaginam.

Para desvendar os bastidores dessa história cheia de altos e baixos, o START conversou com as pessoas que fizeram e ainda fazem parte da trajetória do Xbox aqui no país.

Como o Xbox se adaptou ao Brasil

Ex-funcionários da Microsoft e fãs lembram os primeiros anos do videogame

Divulgação/Microsoft

Por que o videogame deixou de ser fabricado aqui?

O começo da fabricação local do Xbox, em 2011, foi um marco e ajudou a popularizar o console. Mas durou poucos anos.

Menos de uma década depois, em 2018, nenhum videogame da Microsoft era mais produzido no país. O Xbox One X, versão mais potente do One, até foi lançado, mas não vinha mais da Zona Franca de Manaus.

Afinal, o que aconteceu?

Willen Puccineli, ex-gerente da marca no Brasil, revela que o One X era tecnicamente tão diferente do One que era praticamente um novo videogame. Por isso, ficou inviável fazê-lo aqui.

Do Xbox 360 prara o One, foi feito um investimento [para adequar fábrica e linha de produção]. Do One para o One X, teria que ser feito um novo investimento. E, na época, o mercado brasileiro, a taxa do dólar, toda essa conjuntura não fechava a conta.

Era o sinal de que não teria como a Microsoft sustentar a produção local por muito mais tempo.

Vale lembrar que o Brasil era o único lugar no mundo em que o Xbox era produzido fora da fábrica central, na China. E isso demandava uma logística própria e maiores gastos.

O executivo também fala que, com a crise econômica, ficou cada vez mais caro fabricar os aparelhos. Os incentivos fiscais não justificavam mais a permanência em Manaus.

"O mercado caiu muito também por causa do dólar, e aí os volumes projetados de vendas não conseguiam sustentar uma fabricação por vários anos", resume.

A história completa, por quem estava lá

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As desventuras de Phil Spencer no Brasil

Visitas do chefão de Xbox tiveram futebol, fãs e tour pelo centro de São Paulo

As Conquistas da Comunidade

Mais do que Phil Spencer ou qualquer outro executivo, a comunidade é o aspecto mais importante para a história de Xbox no Brasil.

São fãs que surgiram ainda nos primeiros anos de Xbox 360. Eles liam a Revista Oficial do Xbox no Brasil, a ROX, e eram membros do Portal Xbox (hoje PXB), que chegou a ser um dos maiores fóruns de games no país, com mais de 200 mil usuários.

Segundo a socióloga Thayná Santos, que fez um estudo sobre os jogadores de Xbox, um único elemento implementado pela Microsoft no Xbox 360 mudou a dinâmica da comunidade: as Conquistas.

Conquistas (ou Achievements) são emblemas ou pontos concedidos ao jogador por realizar façanhas como passar de fase, achar um item raro ou concluir um desafio. Elas são exibidas publicamente, para todos da comunidade.

Além da satisfação pessoal, alguns jogadores sempre buscam desbloquear as Conquistas para ter um reconhecimento e se sentir pertencente à comunidade.

A socióloga, que também joga Xbox e é fã de Sea of Thieves e Destiny 2, diz que o sistema de Conquistas funciona como um reforço positivo de identidade. Mas, para ela, os verdadeiros laços que conectam os jogadores vão muito além disso.

"Essa comunidade significa amizade, companheirismo, diversão e informação. É um grupo de pessoas de diversas partes do Brasil que interagem entre si e se ajudam", diz.

Nos últimos anos, porém, a comunidade Xbox ganhou fama de ser "tóxica" - em decorrência, principalmente, do comportamento do grupo conhecido como "Mil Grau", acusado de racismo e ataques a minorias.

Os casos tiveram grande repercussão nas redes socais, ao ponto de exigir que a própria Microsoft se posicionasse.

Esse é um capítulo triste na história do Xbox. Por isso que Guilherme Camargo, gerente responsável por trazer o videogame da Microsoft ao Brasil, sabe muito bem o que dizer para essas atitudes.

Eu tenho uma frase que é 'stop making stupid people famous'. 'Vamos parar de deixar as pessoas estúpidas famosas'. Se a gente seguisse essa linha de raciocínio, não teríamos metade dos problemas que temos hoje.

Na comunidade Xbox, há muitos criadores de conteúdo e jogadores que estão longe de serem estúpidos.

Divulgação/Microsort

Futuro nas nuvens

Ao completar 20 anos, a marca Xbox vive um momento em que não representa mais só os consoles da Microsoft. Agora, ela se transformou também em um serviço de jogos.

Isso por causa do Xbox Game Pass, o serviço de assinatura com um catálogo de títulos no Xbox One, Xbox Series e PC.

Este ano, chegou também ao Brasil o serviço de nuvem, o Xbox Cloud Gaming (xCloud), que permite jogar no celular e PC sem nem mesmo precisar de um videogame.

Daqui a 20 anos, se a gente for olhar pra trás, Cloud Gaming via ser visto como o divisor de águas do mercado. Esse é o tipo de tecnologia que vem para transformar a forma como consumimos games, da mesma forma que a Xbox Live foi lá atrás.

As palavras ousadas são de Bruno Motta, atual gerente de Xbox no Brasil.

O Xbox Cloud Gaming ainda está em beta e precisa de melhorias, mas é essa nuvem carregada que a Microsoft quer formar para depois chover Xbox em todos os lugares.

"O futuro do Xbox é dar escolhas para jogar da forma com que fizer sentido para você", resume Motta. "Se for no celular, a Microsoft está trabalhando para você ter uma forma de chegar nisso que seja boa e que te atenda. Se for no PC, a gente também quer estar lá. E se você quer jogar no console, vai ter a melhor experiência, a melhor performance no Xbox Series X."

Pelo visto, os próximos 20 anos de Xbox se mostram tão intensos quanto foram essas primeiras duas décadas.

Os bastidores de Xbox no Brasil em imagens

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