Topo
OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Esporte eletrônico merece análise profissional - e não aventureira

VALORANT brasileiro reúne ex-profissionais e analistas competentes - Bruno Alvares/Riot Games
VALORANT brasileiro reúne ex-profissionais e analistas competentes Imagem: Bruno Alvares/Riot Games

Colunista do UOL

14/02/2022 04h00

O crescimento e a "emancipação" dos esportes eletrônicos trouxeram e trazem à tona a criação de diversas profissões diretamente relacionadas ao mercado. Há muita gente que, hoje, vive de narrar, analisar ou escrever sobre games competitivos. Nesse contexto, muito se questiona: afinal, qual é o caminho para começar a trabalhar no cenário competitivo? O que é necessário saber ou fazer para entrar nesse setor cada vez mais legitimado como uma potência do entretenimento a nível mundial?

Tomemos o futebol como exemplo. Definitivamente, ninguém acha que é necessário ter habilidade suficiente para driblar Messi ou Cristiano Ronaldo para emitir opiniões inteligentes sobre clubes ou campeonatos. Porém, é necessário muito estudo, aplicação e empenho. Não é preciso jogar futebol para entender futebol. Nos games, essa relação é bem mais complexa. É praticamente impossível encontrar alguém que entenda muito de um jogo sem jogá-lo.

Definitivamente, não se trata de ter um elo alto, ter habilidade suficiente para jogar contra um pro player ou qualquer coisa do tipo. Porém, é totalmente utópico que alguém reúna condições de analisar profundamente uma partida de esporte eletrônico, seja qual for a modalidade, sem ter contato com o game. Após anos e anos acompanhando o cenário de diversos jogos, eu, ao menos, nunca tive contato com alguém que entendesse muito de eSports sem jogar.

Obviamente, estar em estágios mais avançados de consumo de um jogo depende de diversos fatores - que passam desde a comodidade de um dispositivo mais avançado (seja ele um PC, um console ou um celular) até a rotina de assistir a vídeos e conteúdos diversos sobre o game em questão. Porém, é natural que a comunidade sempre vá cobrar um nível de entendimento à altura da fidelidade que ela devota ao cenário como um todo.

Com o passar dos anos, a tendência é que cada vez mais ex-profissionais de diversos jogos sejam inseridos como casters nas transmissões - o que amplia ainda mais a responsabilidade de quem trabalha com esporte eletrônico sem um dia ter sido jogador, técnico ou algo que o valha. O mínimo que um jornalista de eSports tem a fazer é estar atualizado sobre o game com o qual trabalha. E isto, sim, demanda que o profissional jogue.

É evidente que certos tipos de cobertura - como a do mercado de transferências, por exemplo - não dependem do entendimento do jogo, especificamente. Porém, para julgar qualquer atuação de um pro player de forma fidedigna, sem se apegar a lugares-comuns e à opinião generalizada, é necessário entender o game. E, de novo: é praticamente impossível entender o suficiente sem jogar.

É louvável que o esporte eletrônico tenha crescido de forma tão astronômica ao ponto de atrair jornalistas ou analistas e profissionais em geral de outros assuntos para ele. Porém, também é necessário entender que o nível de exigência da comunidade é alto - e totalmente justificável. Ninguém quer ser respaldo para quem vê nos eSports um trampolim. Trata-se de um nicho que demanda dedicação e entrega.

Quando chega a hora de um Mundial, por exemplo, o que o fã quer ver ao analisar o time brasileiro, que representa o nosso país, é alguém que tenha lastro suficiente para falar sobre o que está assistindo. O esporte eletrônico é carente de profissionalismo e, muitas vezes, se contenta com pouco em busca de legitimação. Do meu lado, fico com os exigentes. É um assunto sério, é realidade, e tem de ser encarado como tal.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL