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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vacinas são triunfo da ciência, e eSports precisam dar exemplo

Colunista do UOL

05/01/2022 04h00

2022 mal começou, e já visitamos a primeira polêmica no esporte eletrônico brasileiro. Rodrigo "Onur" Dalmagro, prestes a ser contratado pela LOUD na função de técnico de VALORANT, declarou que "estava prestes a ser deportado do Brasil por não ter o calendário vacinal atualizado", acrescentando que, por conta disso, "a liberdade não estava triunfando". A repercussão foi gigantesca, o profissional foi duramente criticado e acabou dispensado pela organização antes de assinar o vínculo. Há aí uma série de reflexões sobre posturas, escolhas e alinhamentos.

Primeiramente, embora óbvio, é necessário reforçar: vacinas salvam vidas. Exigi-las é um meio de reduzir danos, aumentar a imunidade em massa e combater doenças como o coronavírus de forma eficiente a curto, médio e longo prazo. Não se trata de criminalizar a opinião de ninguém, mas falar em "liberdade" quando a sua escolha não afeta somente você, mas todos que o circundam, em menor ou maior grau, é extremamente incorreto.

A segunda postagem de Onur relativa ao assunto deixou claro que ele "não iria ceder" - palavras do próprio técnico. Disse que vacinas eram algo bom, mas que não concordava com passaportes sanitários e que estava disposto a perder um trabalho para "ser consistente com o próprio pensamento". Foi o que aconteceu - fato, este, confirmado em postagem seguinte do próprio técnico e também em post de Jean Ortega, sócio da LOUD.

Onur fala, em sua carta, em reação "tóxica, desmedida e injusta" do público nas redes sociais. À parte de uma discussão sobre como os usuários se portam nas redes, por trás de monitores e tendo como instrumentos os respectivos teclados, é, no mínimo, inocente da parte do técnico achar que, em um país onde a pandemia matou 619 mil pessoas, um discurso que coloque qualquer aspecto relativo às vacinas sob questionamento vá ser bem aceito.

Faz todo sentido que se peça "um debate mais tolerante" nas redes sociais, como diz o próprio técnico ao finalizar seu texto, mas não sobre vacinas. Tudo o que ajudar minimamente a conter o coronavírus (e qualquer outro tipo de risco á saúde), seja em menor ou maior grau, tem de ser defendido. Ouvir a ciência é o caminho. Vacinar-se é o caminho. Não deve haver outra alternativa que fuja disso.

Falar em autoritarismo pela exigência de uma vacina é raso e irresponsável - para qualquer pessoa, especialmente para alguém com relevância pública. De acordo com dados divulgados em reportagem recente no site oficial da Câmara dos Deputados, em julho, quando havia aproximadamente 20% da população vacinada, a média era de mil mortes por dia no país. Agora em dezembro, com 64% de pessoas imunizadas, a média é de menos de 200 óbitos por dia.

O esporte eletrônico se aproxima sempre da imagem do futuro, de uma área que olha à frente, e não de forma retrógrada. Em pouquíssimos anos, o mercado competitivo de games atingiu patamares inquestionáveis e provou que caminha com as próprias pernas. Não se pode correr o risco de ter a imagem associada a posturas que contrariam a ciência. Vacinas nos ajudarão a ter mais eventos presenciais e arquibancadas cheias - e é tudo o que queremos para 2022.

Cada vez mais, organizações e publishers terão de tomar cuidado extremo com a forma como lidam com esse tipo de situação. A pandemia não acabou, e todo cuidado segue sendo necessário. Em respeito a quem se foi, vítima do coronavírus, e a quem tanto se esforçou para encontrar vacinas e salvar vidas de tantas e tantas doenças. Que os eSports deem o exemplo positivo para outras modalidades.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL