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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Melhoremos, todos nós: sobre a polêmica no VALORANT Champions

Vivo Keyd VALORANT Champions - Michal Konkol/Riot Games
Vivo Keyd VALORANT Champions Imagem: Michal Konkol/Riot Games

Colunista do UOL

07/12/2021 09h00

O VALORANT vive, neste mês de dezembro, o primeiro Mundial de sua curta história. Em meio a uma produção de grandes proporções, com direito a diversos carimbos com o padrão Riot Games de qualidade, nos deparamos com polêmicas que acabaram desviando as atenções e gerando os mais diferentes questionamentos e sentimentos (em sua maioria, exagerados), tendo o Brasil como um dos protagonistas.

A esta altura, você, fã de Esports, certamente se deparou com as críticas relativas a uma pausa durante uma partida da FURIA e à anulação de uma vitória da Vivo Keyd, que se transformou em derrota. Este texto não tem como premissa entrar em pormenores técnicos, nem aprofundar no fato em si, mas sim opinar sobre o contexto geral e tudo o que cercou os últimos dias do VALORANT. Há muito sobre o que refletir - de fãs a jogadores, passando por imprensa e pela própria publisher.

O primeiro ponto é o de que, ainda que seja admirável a evolução do cenário a curto prazo, não é aceitável que o jogo chegue ao seu Mundial sem clareza sobre os exploits e como os oficiais da liga agem perante ele. É inadmissível que aconteça o que aconteceu com a Vivo Keyd. Sim, JhoW (player da VK) se valeu de um artifício proibido, admitiu e se desculpou por isso. Mas, em questão de horas, a decisão da Riot de algo tão sério mudou - e os impactos psicológicos, e de questionamento sobre a integridade esportiva, são inevitáveis.

A publisher acerta ao abaixar a cabeça, admitir o erro e prometer "comprometimento em reavaliar a própria abordagem para 2022", mas isso é o mínimo. Em linhas gerais, aliás, é preciso separar a razão da emoção. Os erros não anulam o crescimento do game enquanto Esport - bem como algumas iniciativas admiráveis, como o Game Changers, com um apoio ao cenário feminino que poucos jogos um dia contaram no país.

E falando em emoção, o que vimos nas redes sociais foi um show de horrores. Da estúpida postagem de Zombs (player da Sentinels dos EUA), chamando a região brasileira de "merda" e ostentando proezas financeiras de forma totalmente infantil, às reações ufanistas de quem deveria ter uma postura neutra. Questionar a sanidade de torcedores seria uma sandice. De profissionais do cenário, é o básico.

É óbvio que, como brasileiro e alguém que quer o crescimento do cenário, também torço para que as equipes do nosso país nos representem bem e voltem para casa, se não com o troféu, com o melhor desempenho possível. Porém, isso não significa fechar os olhos para um contexto maior e achar que se trata de uma guerra virtual entre Brasil e outras nações, com ameaças dignas de um jardim de infância e uma busca incessante por repercussão nas redes sociais.

Sim, é nojento ver o preconceito que jogadores brasileiros sofreram e sofrem longe das nossas fronteiras. É patética a forma como somos tratados em diversas situações. Mas também é ridículo que a resposta seja do nível: "Então venha pra cá e fale na nossa cara!". Se o que temos a oferecer como reação é uma face violenta e patriotista, estamos totalmente perdidos. E não entendam mal: não se trata de ficar calado, mas sim de saber responder, como explicou FalleN, em post em meio às polêmicas.

O Esporte, em qualquer modalidade, sempre despertará reações extremas. O filtro perante esses sentimentos é o que diferencia alguém consciente de alguém que simplesmente cai para dentro de pilhas desnecessárias. Provocações têm limites. Trocas de farpas entre regiões são saudáveis, mas quando tudo desbanca à ofensa e se resume a uma guerra verborrágica, não há mais o que analisar - e sim, somente lamentar.

A imagem do Brasil como uma torcida forte, diferenciada e que faz ecoar sua voz nas arquibancadas de qualquer lugar do mundo é maravilhosa. Na mesma proporção, é ridículo o convite ao país como uma ode à hostilidade física ou qualquer coisa desse tipo. Erro não se justifica com erro - ou partimos para um perigoso e arcaico "olho por olho, dente por dente". Sejamos melhores. Todos nós.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL