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OPINIÃO

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Axie Infinity e NFTs são o futuro dos games? Impacto no mercado gera dúvida

Axie Infinity - Divulgação/Axie Infinity
Axie Infinity Imagem: Divulgação/Axie Infinity

Colunista do UOL

31/10/2021 04h00

"Você sabia que pode ganhar dinheiro jogando videogame?". À primeira vista, parece uma frase de efeito utilizada por um telemarketing qualquer, mas é verdade. Em 2021, a categoria foi impulsionada e atingiu um patamar pouco imaginável há alguns anos.

Os NFTs (sigla em inglês para "token não-fungível") surgiram em outros setores da tecnologia, mas acabaram virando um gênero próprio dentro dos games. São jogos que remuneram os usuários com criptomoedas e que, por isso mesmo, acabaram virando um "trabalho" para vários jogadores. Mas quais são os riscos e conclusões que eles trazem?

Para fugir de termos complicados e conceitos difíceis, vamos usar como exemplo Axie Infinity, um jogo que virou uma febre nos últimos meses. Nele, jogadores convivem com gráficos infantis, cartunescos, mas dependem de muita estratégia e movimentações inteligentes para alcançar o sucesso. A dinâmica consiste em cuidar de monstrinhos criados para batalhar, à la Pokémon. Cada um tem seus próprios poderes, com vantagens e desvantagens.

Até aí, beleza... A grande questão é que esses monstrinhos precisam ser comprados. Para montar um time com três, hoje, é preciso gastar cerca de R$ 5 mil, no mínimo. Uma vez com a equipe, é possível valorizá-la e negociá-la dentro do jogo. Também é possível fazer Smooth Love Potions (SLPs), por meio de desafios, e depois revender esses ítens. Mas tudo, claro, demanda tempo.

Jogos "freemium" (que são grátis, mas você pode gastar dinheiro dentro dele) já causam certa polêmica na nossa comunidade. Jogos "pay-to-win" (que dificultam especificamente o jogo do usuário, forçando-o a comprar ítens que facilitem o avanço), mais ainda. Agora imagine jogos que, em teoria, são investimentos. E nos quais você não "gasta" centavos, mas sim milhares de reais. A controvérsia é inevitável.

A questão aqui é analisar o caminho que podemos traçar, nos games e nos eSports, a longo prazo, para preservar camadas mais jovens, com acesso cada vez mais precoce às redes sociais, mas sem a real percepção do valor do dinheiro. É preciso, também, frear a romantização de que esses jogos podem estabelecer um "sonho de fácil alcance".

Axie, por exemplo, abre a possibilidade de competição dentro dos seus modos de jogo. Em teoria, a intenção é ensinar que investimentos são sempre um risco, dentro e fora dos jogos, e que cabe a cada pessoa saber onde aplicar o próprio dinheiro de forma responsável.

Será preciso observar, de perto, qual será a postura das grandes publishers diante de games desse tipo. Até que ponto vale embarcar nessa narrativa e absorver os efeitos a curto, médio e longo prazo?

Sob uma ótica geral, é um sério risco também para a percepção de que jogos são uma forma de diversão ou esporte. Nada contra quem joga exclusivamente para ganhar dinheiro, à parte de qualquer profissão, mas conceitualmente, há uma grande quebra nisso.

Não se trata de duvidar que criptomoedas são o futuro, mas sim de preservar o senso crítico . A reação do mercado endêmico provavelmente ditará o futuro desse nicho. Até que ponto é válido marcas se envolverem nesse sentido? É, de fato, o futuro? Ainda é cedo para responder, mas o movimento, sem dúvida, merece atenção.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL