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OPINIÃO

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Dirigentes de eSports: as peculiaridades de uma "nova profissão"

Jaime Padua, dirigente da FURIA, ao lado de Neymar - Reprodução/Instagram
Jaime Padua, dirigente da FURIA, ao lado de Neymar Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

16/03/2021 09h00

Amados ou odiados, discretos ou polêmicos, fanfarrões ou irritados... Dirigentes costumam ser figuras que polarizam opiniões em modalidades esportivas tradicionais. Quem cresceu assistindo ao futebol brasileiro sabe do que estou falando. Eurico Miranda no Vasco, Alexandre Kalil no Atlético-MG, Andrés Sanchez no Corinthians... Mas e no esporte eletrônico? Qual costuma ser o perfil dos responsáveis por comandar o lado de fora das organizações?

Primeiramente, é necessário entender que há diversas peculiaridades nessa função. O CEO do Flamengo eSports é um ótimo exemplo disso. Trata-se de Jed Kaplan, americano que é detentor da Simplicity, responsável por licenciar a divisão de esporte eletrônico do Rubro-Negro. Ele também trabalha com outras grandes entidades esportivas - como o Memphis Grizzlies (NBA), o Swansea (futebol inglês) e o Orlando City (futebol dos EUA).

E não pense que o fato de ser nativo de outro país impede o dirigente de também aflorar um "lado torcedor" - e, claro, ser centro de polêmicas por conta disso. No último sábado, por exemplo, após a derrota para a LOUD no CBLOL, a terceira consecutiva da equipe (líder do torneio na Fase de Pontos) àquela altura, Kaplan classificou o tropeço como "constrangedor" de forma pública, em seu perfil no Twitter.

Com as competições em formato online e uma maior possibilidade de interação e engajamento com as figuras responsáveis pelas organizações, os dirigentes se tornam personagens mais "alcançáveis" para os fãs. Um exemplo que procura sempre estar por perto nos processos que envolvem a sua organização é Marina Leite, CEO da VORAX - equipe que surgiu da união entre Prodigy e Falkol, e que hoje atua com alta relevância no League of Legends e no VALORANT.

- A verdade é que dirigir um time de esporte eletrônico é como dirigir qualquer empresa com funcionários. Há uma grande necessidade de precisar entender de todos os assuntos que envolvem o clube, mas também confiar nos profissionais que você emprega para que eles executem a tarefa da forma que você executaria. Simplesmente não dá tempo de cuidar de tudo e, para mim, o mais peculiar, considerando a minha personalidade centralizadora, é delegar - afirmou a profissional, em entrevista ao GGWP.

- É necessário que saibamos gerir pessoas, financeiro, administrativo, jurídico, redes sociais, relacionamento com imprensa, relacionamentos com demais gestores, relacionamento comercial. Sei tudo o que está acontecendo, mas simplesmente não consigo iniciar e finalizar a mesma tarefa. Sempre há uma prioridade necessitando da minha atenção em determinado momento e preciso saber identificar essas prioridades - completou Marina.

É claro que os protagonistas do show sempre serão os jogadores, mas é fundamental para suas organizações ter pessoas que trabalhem do lado de fora para difundir positivamente a imagem da equipe e "espalhar a palavra" de uma forma inteligente e estratégica. Que o diga Bruno Playhard, CEO da LOUD que, individualmente, já era uma figura relevante e, com a nova marca, conseguiu multiplicar o sucesso no ecossistema dos eSports. Ele próprio tem 13,1 milhões de seguidores no YouTube. Seu time, 11,3 milhões.

Entre investimentos e planos estratégicos, outro caso de sucesso é o da FURIA - que aliou experiência de dois campos diferentes, com Jaime Padua, especialista no mercado financeiro, e André Akkari, uma lenda do pôquer, na diretoria. Em meio a tantas dificuldades causadas pela pandemia do coronavírus e suas inerentes limitações, Jaime pontua que o competitivo dos games passou por um processo de amadurecimento.

- Acredito que a pandemia originada em 2020 acelerou o processo de popularização dos jogos eletrônicos. Em um cenário onde os torneios esportivos foram suspensos, os campeonatos de eSports se tornaram por muitos meses a única e principal atração de competição nos canais de mídia. Sendo assim, apesar das dificuldades inerentes do COVID, tivemos um crescimento expressivo em audiência, faturamento, patrocinadores, fã base e em outros aspectos - destacou o dirigente.

Seja qual for seu game favorito, à parte do que rola "dentro de campo", é interessante observar o outro lado, de quem comanda as organizações. As redes sociais permitem essa proximidade e fazem com que seja possível acompanhar seu time de coração 24 horas por dia - seja nas partidas, com criação de conteúdo ou postagens do dia a dia dos envolvidos. É, mais uma vez, o eSport mostrando às modalidades tradicionais conceitos avançados e originais.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL