Exposed nos eSports: responsabilidade vai além do "tribunal das redes"
A última semana do esporte eletrônico brasileiro ficou marcada por uma série de "exposeds" - relatos e denúncias publicados por mulheres que se envolveram com figuras de diversos cenários, como League of Legends, Counter-Strike: Global Offensive e Rainbow Six Siege - de pro players a criadores de conteúdo, passando por casters e membros de estafe. Casos de assédios físicos e psicológicos que constituíram uma mensagem alarmante.
Este texto não tem a premissa de analisar caso a caso. Seria leviano simplesmente citar os nomes envolvidos sem desenvolver para cada um deles uma análise aprofundada e colocar tudo o que aconteceu em um mesmo patamar. A ideia é entender como já nos primeiros dias de 2021 recebemos diversos indícios de como é possível melhorar o cenário com ações práticas e como não há espaço para amadorismo.
Primeiramente, é necessário entender como a vítima sempre deve ser a prioridade em qualquer caso desse tipo. Vivemos em uma sociedade na qual a palavra da mulher é descredenciada de forma inacreditável, e dar voz a quem muitas vezes guarda dentro de si qualquer tipo de trauma é um dever de todos. Ao mesmo tempo, é necessário entender como casos dessa magnitude devem ser tratados com a correspondente responsabilidade.
O que mais se viu nas redes sociais no que diz respeito à interação entre fãs e organizações foi uma enxurrada de condenações prévias e cobranças exacerbadas sem qualquer critério. É evidente que a responsabilidade das equipes é a de conduzir investigações o mais rápido possível, mas cobrar decisões imediatas e achar que os acusados sequer têm direito à defesa é igualmente equivocado. Redes sociais não são tribunal. Afinal, já pensou: e se o acusado for inocente?
O maniqueísmo, essa linha de pensamento na qual tudo se divide entre dois lados, de bom e mau, não contribui em nada com o debate. Achar que uma investigação deve ser conduzida de maneira consciente e responsável, ouvindo ambos os lados, ponderando provas, testemunhas e contextos, não é "passar pano". É possível mostrar empatia com as vítimas, entendendo a gravidade das acusações, sem destilar ódio.
Cobrar as organizações e a imprensa por um veredicto imediato é um ato populista. É preciso ir além do óbvio. Pensar em como é possível fazer com que tornemos o ecossistema dos esports cada vez mais saudável. Colocar em prática atitudes para que não tenhamos de lidar com tais situações no cenário. Educar está muito acima de apontar o dedo, muitas vezes de maneira anônima, em redes sociais.
A "cultura de cancelamento" não deseja transparência ou elucidação dos fatos. Não quer saber de apuração ou compreensão dos problemas e busca de soluções. Busca única e exclusivamente uma solução mágica, um comodismo que trata questões sérias sem um pingo de responsabilidade. A seriedade deve ser aplicada em todas as esferas, entendendo que o cenário de esports é um pedaço do reflexo da sociedade.
Transmitir solidariedade e apoio a vítimas de assédio e dar crédito aos relatos é o mínimo. Amadurecer o debate e a fiscalização sobre a forma com que profissionais se portam também. Desde que se entenda que ninguém está acima da Justiça e que condenações não se dão de forma instantânea, mas sim após uma análise aprofundada que pondere todo o contexto. Responsabilidade é mais importante do que barulho.
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