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"Assassin's Creed III" é um jogo longo, enrolado, e decepciona na história

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Imagem: Divulgação

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

09/11/2012 16h02

Em essência, "Assassin's Creed III" mantém e refina os principais elementos que fizeram da série um sucesso: exploração fácil e divertida, ampla variedade de armas e equipamentos e, principalmente, diversos tipos de missões (com destaque para as divertidíssimas missões navais).

Contudo, o jogo falha ao apresentar uma história fraca e decepcionante. A trama faz um ótimo trabalho em retratar (e até ensinar sobre) a Revolução Americana, mas deixa de ter um herói forte e, principalmente, vacila no desfecho da campanha de Desmond, que se desenrola desde o primeiro "Assassin's Creed".

Para piorar, há uma infinidade de bugs que, quando não atrapalham as missões, resultam em situações absurdas e hilárias que quebram um pouco da ambientação proporcionada pelos gráficos incríveis e tiram muito do brilho da obra da Ubisoft.

Introdução

Ao longo de 2012 a Ubisoft não cansou de bradar aos quatro ventos como "Assassin's Creed III" é a maior produção da casa. O game pega a popular série de ação e viagem no tempo e adota desta vez como pano de fundo a Revolução Americana, durante o século XVIII, quando os norte-americanos expulsaram os britânicos da América e assim nasceram os Estados Unidos.

A história apresenta um novo assassino, Connor, filho de um britânico com uma indígena que acaba desempenhando papel fundamental no conflito. Enquanto isso, a trama paralela de Desmond, no presente, também ganha capítulos decisivos conforme ele e sua trupe de assassinos modernos encontra um templo antigo e precisa das chaves para descobrir seus segredos.

Assassin's Creed III - Divulgação - Divulgação
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A mecânica de escalada e exploração volta renovada com a introdução de cenários orgânicos e irregulares na florestas, o arsenal ganha novos e interessantes equipamentos e a produtora ainda ousa com inesperadas missões em alto mar, no comando de um navio.

Pontos Positivos

Essência intacta

Entre falhas e qualidades, "Assassin's Creed III" continua sendo um "Assassin's Creed": você corre, pula, escala, luta contra grupos de inimigos (que continuam só atacando um por vez, no máximo dois) e coleta dezenas de itens enquanto realizam missões que se resumem a seguir pontinhos coloridos no mapa.

Você pode não gostar da história ou da ambientação, se irritar com os muitos bugs e descartar totalmente o multiplayer, mas não há como negar que "ACIII" entrega o mínimo necessário, o arroz e feijão, de forma competente.

A máxima é válida também para o modo multiplayer, que continua entregando uma divertida - ainda que superficial - experiência de "polícia e ladrão", onde jogadores se enfrentam em uma arena repleta de personagens iguais e devem usar suas habilidades para se esconder e identificar os alvos. A única novidade fica por conta de uma opção cooperativa, o Wolfpack, que propicia partidas rápidas e frenéticas.

Missões, missões e mais missões

A jornada de Connor capricha na quantidade de objetivos diferentes para cumprir. O cardápio de missões principais e opcionais de "ACIII" é variado e extenso. O destaque fica por conta das missões navais, que oferecem gráficos lindos e uma variedade saudável à franquia.

Os combates em alto mar trazem algo totalmente novo e emocionante, mas sem perder qualidade. Fora da água salgada, é possível também caçar diferentes tipos de animais, coletar tesouros, libertar bairros das cidades de Boston e Nova Iorque e muito, muito, muito mais.

AC3 Navios - Divulgação - Divulgação
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"Assassin's Creed III" é um jogo longo para os padrões da série - leva cerca de 14 horas para terminar fazendo só as missões principais -, mas os objetivos opcionais podem facilmente duplicar ou triplicar esse contador.

Tudo isso conta com opção de legendas em português, que ajudam bastante a entender a trama e certos objetivos. O trabalho não é totalmente isento de falhas - há alguns pequenos casos de palavras traduzidas errado e erros de ortografia -, mas não compromete a experiência. O bacana é que tudo mesmo está traduzido, até mesmo a base de dados com informações e curiosidades sobre pessoas, lugares e eventos, funcionando como uma ótima aula de História interativa.

Visual incrível

De cara, "Assassin' Creed III" impressiona por seus gráficos e animações. É impressionante como ano após ano a Ubisoft consegue aperfeiçoar os movimentos de combate e escalada dos assassinos, mas o salto nesta edição é muito maior.

Connor move-se com naturalidade, enquanto as bolsas no cinto e penas penduradas balançam com o movimento. Efeitos de névoa e chuva pontuam os cenários em certos momentos, o sol brilha na floresta de forma tranquila e suave enquanto a noite é dominada pelas estrelas no céu. Nos combates navais, o balançar das ondas é assombroso de tão realista e o estalo dos canhões se traduz em fumaça, fogo e lascas da madeira nos navios.

Nas cenas de corte, a sincronia labial com o idioma original em inglês é precisa e as texturas de objetos se destacam pela nitidez com que representam materiais como couro, metal e madeira. Nas pessoas, o brilho dos olhos é especialmente impressionante.

Volta e meia alguns defeitos grotescos de colisão quebram o encanto, colocando pessoas presas em paredes, cercas e cavalos ou até objetos voando sem explicação pelo cenário e outras bizarrices, mas mesmo assim "Assassin's Creed III" é o jogo mais bonito da série e um dos mais belos do ano.

Pontos Negativos

Bugs, bugs e mais bugs

Assim como aconteceu com "Elder Scrolls V: Skyrim" em 2011, "Assassin's Creed III" é uma jornada densa e grandiosa povoada por muitos defeitos de programação.

A seleção varia de meros problemas estéticos a outros que chegam a atrapalhar missões. Ser capturado pelos guardas porque Connor ficou preso em um pedaço de uma casa ao tentar escalar suas paredes ou porque o cavalo de um dos aliados decidiu ficar andando sem sair do lugar é extremamente frustrante.

A lista vai longe: guardas somem e aparecem do nada em alguns trechos, inimigos por vezes te encontram mesmo que você não esteja na linha de visão deles, contra-ataques falham nas lutas e por aí vai.

De maneira geral, a impressão que fica é de que a Ubisoft foi vítima de sua própria ousadia: há tanta coisa rodando "por debaixo do capô" de "Assassin's Creed III", tantas rotinas e programações, que por vezes o game não aguenta e se confunde.

Combates confusos

As lutas nunca foram dos pontos mais brilhantes da série "Assassin's", mas vinham evoluindo de forma lenta e gradual nas últimas edições. "ACIII" erra na coreografia, tentando simplificar e errando na medida.

Connor pode realizar contra-ataques muito eficientes, matando inimigos com um único golpe e emendando sequências de assassinatos. Contudo, quando isso não funciona o jogo não é lá muito eficiente em mostrar o que aconteceu.

AC3 Combates - Divulgação - Divulgação
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Será que devo usar uma arma de fogo para acertar esse cara? Ou talvez quebrar sua defesa com um chute? Pode parecer que estou apenas reclamando - e que jogo mal pois não percebi que há diferenças entre os inimigos e o legal é testar formas diferentes em cada um, alguns podem dizer -, mas o fato é que isso acontecia de forma aleatória. Por vezes, um tiro de pistola resolvia o embate contra um tipo de inimigo, enquanto outro exatamente igual já exigia uma abordagem diferente.

Começo enrolado

Lembra quando em 2001 a Konami surpreendeu todo mundo com a aparição de Raiden em "Metal Gear Solid 2"? Antes do lançamento, a produtora só mostrou imagens do querido herói Solid Snake, para então no jogo em si colocar o velho protagonista apenas no início e depois passar o comando para o novato de cabelos brancos.

Enfim, "Assassin's Creed III" também aplica um 'Golpe do Raiden' - só que ao contrário - e não faz isso muito bem. Quem joga "ACIII" com a expectativa de controlar Connor terá de encarar primeiro três capítulos com Haytham Kenway, o britânico pai de Connor.

A etapa até serve como tutorial, mas é longa demais (demora entre 3 e 4 horas para terminar) e apresenta missões simplórias e mal resolvidas. Para alguns, o 'pedágio' pode ser caro demais e afastar alguns do restante da aventura.

História(s) decepcionante(s)

Em termos de história, "Assassin's Creed III" é uma decepção. Tanto no que tange à história de Connor, durante a Revolução Americana, como na trama de Desmond, que acontece no presente.

Por mais que o embate entre americanos e britânicos seja bem contado, recriando momentos chave como a Festa do Chá em Boston e a Batalha de Bunker Hill, o herói Connor é fraco e raso. Sua ingenuidade excessiva cansa e não enriquece a história. Em contraste com Ezio e Altaïr, Connor fica ainda menor.

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É de se levar em conta que os assassinos antigos tiveram mais jogos para serem desenvolvidos, mas mesmo assim: se levarmos em conta apenas o primeiro "Assassin's Creed" (que apresentou Altaïr) ou também somente "ACII" (no qual debutou Ezio) e colocarmos lado a lado com este terceiro episódio numerado o jovem Connor sai perdendo. É um personagem carismático que pode crescer em futuras versões, mas por ora é fraco para assumir o capuz de assassino.

No presente, com Desmond e sua turminha, a trama evolui de forma lenta, em banho-maria, com algumas missões ao redor do globo que colocam o cara para, finalmente, escalar paredes e enfrentar inimigos. A sequência inclui até uma missão no Brasil, hilária pela recriação imprecisa do país e os diálogos e vozes horríveis.

Essas partes até trazem alguma empolgação, mas o final é totalmente decepcionante, um verdadeiro anticlímax. Isso vale para quem está começando na franquia agora no "ACIII", mas a frustração é ainda maior para quem acompanha desde episódios anteriores. O arco de Desmond se arrasta desde 2007, ao longo de cinco jogos, e termina de forma lamentável.

A menos que a Ubisoft tire um coelho da cartola e invente uma maneira de continuar a história de Desmond de forma digna para depois, aí sim, encerrar sua participação de forma mais empolgante, essa trama paralela da série "AC" será facilmente lembrada como uma das grandes decepções desta geração de videogames.

Nota: 7 (Bom)

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