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Duke Nukem Forever

ANDRÉ FORTE

Colaboração para o UOL

29/06/2011 13h54

Com tantos anos de produção, a expectativa por "Duke Nukem Forever" era das maiores. É notável o esforço da Gearbox em reviver um projeto tão antiquado e sua tentativa de adaptá-lo aos dias atuais, mas é fato que o jogo chega com conceitos visuais ultrapassados e erros graves de design para os padrões contemporâneos, o que é até natural, com tantos problemas, indas e vindas em sua execução.

Recomendar a compra de "Duke Nukem Forever" é fácil, desde que o jogador tenha a autocrítica de quão fã do herói ele é. Os fãs de longa data tem a obrigação de ao menos conhecer a nova aventura, tirar as suas próprias conclusões e festejar o esforço da Gearbox. Já os recém-chegados talvez não se empolguem com um game com conceitos tão ultrapassados e gráficos medíocres para a atualidade.

Introdução

O jogo com maior tempo de desenvolvimento da história finalmente chega aos consoles e computadores. Iniciado em 1996, "Duke Nukem Forever" foi anunciado oficialmente pela 3D Realms no ano seguinte, mas desde então, o projeto foi adiado e reiniciado com diferentes motores gráficos para se adaptar às plataformas de cada época.

Após um cancelamento praticamente definitivo em 2010, a Gearbox assumiu a responsabilidade de terminar "Forever" para os fãs, mesmo sabendo da responsabilidade de trabalhar em um jogo de tanta expectativa com conceitos e visuais antiquados. Sua missão, de fato, foi ingrata, e o resultado é um misto de alegria e tristeza para os jogadores.

Pontos Positivos

O Rei está de volta, baby

"Forever" pode ser feio, bobo e chato, mas convenhamos: o Rei voltou! Tirando alguns exageros nas piadas egocêntricas do novo "Duke", diversos elementos dos anos 90 marcam presença, como a grande interação de Duke Nukem com os elementos do cenário, seja bebendo uma cervejinha ou dando uma urinada demorada no mictório.

Além disso, o game não cansa de enaltecer a história do herói e a si mesmo, estampando a suíte de Duke com diversos quadros que ilustram a história da série desde os primeiros jogos de plataformas lançados para computadores. Há também referências a outros jogos, como um capacete de "Master Chief" junto a caixa de armamentos na parte externa do cassino.

Além disso, o herói continua garanhão e canastrão, soltando frases de efeito como uma metralhadora giratória e pérolas como no diálogo em que ele incentiva um garoto a tomar esteroides para um dia ser como ele. Tudo isso, claro, com a voz do dublador original do jogo, Jon St. Jon.

Armas e mais armas

Assim como nos dias de  "Duke Nukem 3D", os armamentos de "Forever" empolgam pela diversidade. Sem a obrigação de seguir nuances realistas como "Call of Duty", os produtores tiveram liberdade para incluir acessórios dos mais bizarros e divertidos, que vão desde pistolas e lançadores de mísseis até armas de laser que desintegram os inimigos, raios de encolhimento e o clássico "Holoduke", que cria um holograma do herói para enganar os inimigos.

Nesse ponto, o título realmente é bem sucedido, oferecendo novidade como o óculos especial para enxergar em locais mais escuros e os impagáveis esteroides, que dão força extra para Duke Nukem explodir os alienígenas com um soco fulminante.

O fator EGO

Apesar de não ser a adição mais inovadora de "Forever", ao menos a barra de EGO se mostra um conceito competente e divertido para unir um sistema tão clássico como uma barra de energia com uma moderna recuperação automática de vitalidade. O sistema de EGO funciona como uma barra de força, que aumenta conforme Duke faz ações como urinar, se olhar no espelho, malhar em sua academia ou tomar algo na máquina de bebidas. O ego do herói, entretanto, diminui conforme ele leva tiros dos inimigos e ao chegar ao fim, o expõe à morte em um sistema de recuperação automática similar ao de jogos como "Call of Duty".

Pontos Negativos

Gráficos recauchutados

Visualmente, "Forever" pode ser considerado uma colcha de retalhos de texturas lavadas e efeitos interessantes. A idade da produção fica nítida na modelagem antiquada dos personagens, com texturas muito borradas, sem ao menos um capricho dos produtores de incluir elementos como pêlos ou escamas nos inimigos que parecem feitos de plástico. Os diversos personagens secundários apresentam animações tão "anos 90", que parecem ter rompido os ligamentos dos joelhos.

A luta no campo de futebol americano logo no início do jogo impressiona pelos belos efeitos da garoa caindo sobre o gramado, e, em "The Duke Dome"  um tentáculo de polvo gigante muito bem feito salta sobre o cenário repleto de texturas "lavadas" quanto as de "Duke Nukem 64". Os produtores se esforçaram para incluir belos efeitos de fumaça e pilares se espatifando durante o tiroteio, partículas em explosões ou reflexos na água. É uma pena que no conjunto, o resultado final não é tão agradável de se ver.

Uma nota importante é a disparidade entre as versões de PC e dos consoles de "Duke Nukem Forever". Apesar de ambas contarem com as mesmas inconsistências entre erros e acertos, nos computadores o jogo é muito mais bonito que nos consoles, apresentando texturas mais interessantes e efeitos visuais mais bonitos.

Multiplayer sem novidade

"Duke Nukem" foi um dos pioneiros em jogos multiplayer, mas os tempos são outros e "Forever" esbarra em uma forte concorrência de jogos mais atuais e passa a impressão de ter parado no tempo.

De novidade mesmo, há o "Change Room",  com opções de personalização do personagem com diferentes itens que são conquistados após o progresso do jogador no modo campanha. Já o "My Dig" é uma espécie de museu do Duke Nukem, onde é póssível colecionar diversos itens do heroi, como cinzeiro, quadros e outras quinquilharias.

Na hora da ação, há três modalidades: "Duke Match", que é partida simples em que o único objetivo é matar os inimigos até completar uma determinada pontuação , "Team DukeMatch", que segue o mesmo esquema de eliminação com colaboração de times de até 4 componentes e "Capture The Babe", uma espécie de captura de bandeiras cujo o objetivo é proteger a sua garota e roubar a do time adversário. Se a ideia desse último parece interessante, basta uma simples partida para ter a impressão de que o único trabalho dos produtores foi trocar a bandeira por uma garota que leva tapinhas nas nádegas.

Assim como no modo solo, os carregamentos e espera para entrar nas salas são lentos e cansativos e, se não fosse a inclusão de um navegador que lista todas as salas disponíveis, a tarefa de jogar online se torna monótona. Na hora da ação, o jogo flui bem, mas muitas vezes o jogo te chuta da sala alegando problemas de conexão.

Design Ultrapassado

"Duke Nukem 3D" saiu em uma época dominada por "Doom" e "Wolfenstein", cujo foco era escapar de fortalezas que mais pareciam labirintos. Naquela época, o jogo se mostrava inovador pelo design das fases e cenários mais lineares. Os anos na geladeira destruiram qualquer chance de "Forever" repetir o mérito de seu antecessor. Os cenários são simples e não oferecem muita dificuldade para encontrar o objetivo, mas falta elementos hoje indispensáveis para um jogo de tiro em primeira pessoa, como setas indicando o caminho ou até uma lista de objetivos para realizar.

O objetivo, assim como em jogos dos anos 90, é chegar ao final da fase, mas para encontrar a saída é preciso vencer desafios e pequenos puzzles. Porém, falta ao menos uma indicação de que se está diante de um quebra-cabeças que ser resolvido. No Cassino, por exemplo, Duke Nulem precisa atingir o andar superior, mas ao chegar na sala, o game sequer mostra qual é o ponto em que Duke deve ir, algo tão rudimentar e básico que até o primeiro "Tomb Raider", de 1996,  já mostrava. Se não bastasse, há um quebra-cabeça em que Duke deve movimentar o braço de uma estátua para subir em cima dela e então pular para o segundo andar, mas não há qualquer tipo de insinuação ou dica, obrigando ao jogador a tentar outros meios sem ter certeza do que está fazendo.

Duke no volante, perigo constante

Dirigir veículos é tão interessante e divertido em jogos como "Halo" e "Borderlands", e tal novidade poderia cair como uma luva para o novo "Duke Nukem". De fato, o controle do veículo de Duke é até melhor do que no jogo da Microsoft, pois se apropria dos gatilhos de ombro do controle para acelerar e frear e abandona o confuso e nada intuitivo comando com as alavancas analógicas.

O problema com as fases de direção é o excesso. Jogar fases intermináveis controlando um veículo em um jogo de tiro não é divertido. E para  piorar, ao concluir um longo estágio sobre rodas, o jogador descobre que há outra igualmente demorada prestes a começar.

Nota: 5 (Medíocre)