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Phoenix Wright: Ace Attorney Trials and Tribulations

05/11/2007 18h24

Em 2001, a Capcom lançou no Japão um de seus mais inusitados títulos. O game que teria o nome de "Phoenix Wright: Ace Attorney" no Ocidente era um incomum jogo de batalha nos tribunais, com uma linguagem típica dos livros de detetive, e retomava um estilo que estava ficando raro nos videogames: o adventure clássico, sem ação. O game formou um nicho de fãs fiéis, primeiro no Japão e depois nos Estados Unidos, e virou uma das principais franquias da companhia.

"Trials and Tribulations" fecha a trilogia que tem o advogado Phoenix Wright como protagonista. Para o bem e para o mal, todas as edições têm estruturas muito semelhantes entre si. Aliás, muitos dos desenhos são reutilizados entre os três títulos. Esse terceiro episódio não traz um elemento novo sequer - no segundo game da série, por exemplo, houve a inclusão de um recurso chamado "psyche lock" -, o que soa como preguiça. Porém, a produtora não negou fogo na parte primordial: os casos e os personagens continuam sendo empolgantes.

Nesse sentido, "Trials and Tribulations" termina a trilogia de maneira satisfatória. Não é um "gran finale", mas mantém a qualidade da história e dos textos, com boa dose de suspense e ricos em piadas e referências à cultura pop. Pela última vez - até que a Capcom mude de idéia -, o jogador vive o papel de Phoenix Wright, uma espécie de São Judas Tadeu do mundo advocatício, especialista em casos impossíveis - e reviravoltas espetaculares.

Caso encerrado

O game é composto por cinco episódios. Em geral, cada um deles é contempla uma fase de investigação - como se vê, Wright também faz as vezes de detetive - e outra de batalha nos tribunais, que representam os momentos principais. Nos casos mais complicados, os estágios se alternam mais de uma vez e dois dos episódios contém apenas as fases de julgamento.

A história começa com um flashback, num caso em que Wright, ainda um estudante de arte, está sendo acusado de assassinato. Sua advogada é Mia Fay, que viria a ser sua mentora mais tarde. Como sempre, os primeiros movimentos do jogo servem de tutorial, para que o jogador se acostume com o jeitão do jogo, caso não tenha jogado os títulos anteriores. O jogador tem um conselheiro que vai orientando o que fazer, e nessas primeiras horas, não é penalizado por fazer uma decisão errada, como mostrar uma evidência fora de propósito ou fazer apontar culpados sem provas.

As partes de investigação funcionam como um adventure tradicional, em que você percorre diversos ambientes, verifica objetos no cenário (basta apontar com a caneta) e eventualmente coleta evidências. Pode-se também entrevistar pessoas, com o intuito de conseguir mais detalhes sobre o caso ou informações que levem a novas pistas. A progressão é linear, ou seja, em determinados pontos, é necessário fazer uma ação específica, como mostrar certo objeto para alguém, para poder avançar. Terminada essa parte, segue-se para o julgamento.

Ordem no recinto!

A batalha nos tribunais é a mecânica principal do game. Aqui, você e um promotor "lutam" para fazer prevalecer as respectivas versões dos acontecimentos. Não há júri popular; o veredicto está nas mãos de um juiz onipotente. Aqui, o andamento do roteiro se dá mais por textos. O momento crucial é fase do "cross examination", em que o usuário tem que encontrar inconsistências nas declarações das testemunhas.

É preciso ler cada frase com atenção e achar pontos dúbios com alguma evidência material que você tenha em seu poder. Usando a opção press, a testemunha fornece mais detalhes sobre sua declaração, o que ajuda a encontrar as incoerências. De tempos em tempos, o juiz faz perguntas cruciais sobre alguma questão pertinente, e nesse momento também é preciso apresentar respostas, quase sempre acompanhadas de alguma prova. Essa parte também é linear, e a evolução se resume a fazer a ação correta no momento certo.

Toda vez que der um palpite errado, você perde "energia". Quando a barra ficar vazia, é game over. No entanto, o mesmo truque dos games anteriores contorna esse "problema": basta salvar antes de momentos importantes. De fato, é uma trapaça, mas não é nada divertido ter que refazer o jogo a partir dos checkpoints, que estão bem espalhados. Muitas vezes, a procura pela resposta acaba sendo por tentativa e erro, pois nem todas as respostas são óbvias.

Livro digital de bolso

Para gostar de "Trails and Tribulations" - e da série "Phoenix Wright" como um todo - é preciso ter apreciação pela leitura. Nisso consiste grande parte do game. É como ler um livro, com a diferença que existem alguns elementos interativos. A semelhança com um livro também está no fato de o jogador estar livre da pressão do relógio. Pode-se tomar todo tempo do mundo para pensar sobre seu próximo movimento.

Além do enredo, o game conta com personagens interessantes. Os trejeitos são de desenho animado japonês, daqueles bem exagerados. É uma pena que, neste terceiro game, poucos são os estreantes que esbanjam o mesmo carisma do elenco principal. Um dos poucos que se encaixam nessa condição é o promotor Godot, que mais parece um personagem de ficção científica.

As animações são engraçadas e contagiantes como sempre. Na verdade, muito dos desenhos foram reaproveitados dos títulos anteriores e uma variedade maior de arte caberia muito bem (aliás, por que é sempre o mesmo juiz que cuida dos casos?) Deve ser proposital, mas trilha sonora soa como uma tecnologia meio ultrapassada. O que não interfere na qualidade das composições, que são fantásticas, combinando muito bem cada situação e capturando com precisão a descrição dos personagens.

Os controles foram adaptados para a tela sensível, de forma que tudo pode ser feito com a caneta ou os botões (e o direcional). O microfone também é usado. Isso não melhora a controlabilidade, mas alguns fãs não suportariam se não pudessem gritar "objection" , a todo pulmão, sempre que for apresentar aquela prova que pode mudar a maré no julgamento.

Nota: 7 (Bom)