O Império das Sete Mulheres

Silvio Santos chega aos 90 anos e vê filhas assumirem comando de seus negócios

Daniel Palomares, Felipe Pinheiro e Mari Monts São Paulo

São 60 anos de televisão. Desde que fez sua estreia à frente do programa "Vamos Brincar de Forca", na extinta TV Paulista, Silvio Santos nunca ficou tanto tempo longe das telinhas. Isso porque desde o começo de 2020, o dono do SBT está afastado da emissora por causa da pandemia do coronavírus.

Silvio completa seus 90 anos longe do seu "sétimo filho". Mas seu legado é celebrado por suas filhas e funcionários.

Um patrimônio, aliás, que vai muito além da emissora. O homem do Baú é um "empresário nato", como avaliam pessoas próximas a ele. Um patrão bravo e exigente, disse uma das filhas. Mas também muito responsável e gentil, avaliam outras pessoas entrevistadas.

Silvio Santos se eternizou no imaginário popular como uma das pessoas mais importantes da TV brasileira. Aos 90 anos, pensar num futuro sem ele no SBT já não é tão distante assim. Mas substituí-lo? Esquece, não vai rolar...

O império SS

O homem de negócios e também do rosto mais conhecido da televisão brasileira possui atualmente seis grandes empresas de diferentes áreas. Por isso, Silvio Santos é um dos poucos bilionários do nosso país, com uma fortuna estimada em R$ 1,9 bilhão, de acordo com o ranking de 2020 da revista Forbes.

"Líder nato, ele arrebanhou pessoas para trabalharem junto com ele. Assim, formaram esse grupo de empresas que o tornou empresário", avalia a atual presidente do grupo, e a filha caçula do apresentador, Renata Abravanel.

O império de Senor Abravanel começou a ser construído em 1958, quando fundou o Grupo Silvio Santos. O primeiro empreendimento do apresentador foi o Baú da Felicidade, comprado do pai de Carlos Alberto de Nóbrega, o Manuel de Nóbrega. Mas isso nós vamos explicar mais para frente.

A filha, Silvia Abravanel, exalta o papel do pai no comando das empresas, especialmente do SBT. A emissora, parte fundamental da família, também é responsabilidade de todas elas. "Sempre tive noção que ele tinha formado um império. O SBT, eu chamo do nosso sétimo irmão. Eu apelidei assim. Por ser a menina dos olhos do meu pai. O SBT foi algo que ele construiu, pelas mãos dele."

O meu pai sempre cuidou muito bem do SBT como cuidou muito bem de nós filhas. É muito bom que nós filhas também estejamos cuidando do SBT como ele cuidou.

Silvia Abravanel

Mas o império quase ruiu. Em 2010, Silvio Santos teve de vender o banco PanAmericano, um de seus maiores patrimônios, após ser descoberto um rombo de R$ 4 bilhões, provocado por fraudes entre 2006 e 2010.

São seis os carros-chefes do conglomerado do empresário e apresentador de TV

CARAS

Quem comanda o império?

O presidente que controlava o grupo na época da crise do banco PanAmericano, Luiz Sebastião Sandoval, deixou o cargo e foi substituído por Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio.

Foi um pedido do Silvio, eu aceitei. Mas nunca foi meu desejo ser presidente da empresa. Eu não sou especialista em administração, sou do marketing, dos negócios. A responsabilidade na época me pressionou muito.

Stoliar esteve à frente da presidência por dez anos, ele avalia a experiência como difícil, mas exalta os frutos positivos que a empresa colheu durante esse período.

"O maior símbolo do resultado foi termos conseguido construir os nossos próprios recursos, todo o projeto Anhanguera [conglomerado em que ficam os estúdios do SBT e Jequiti]. Foi um grande prêmio".

Além disso, é só elogios para Silvio, e disse que não há uma pessoa que não se inspire em sua trajetória. Stoliar também conta que a palavra que o define é determinação. E a grande lição que aprendeu com o tio: agir corretamente.

Enxergar as empresas como parte da família é, segundo Silvia, o segredo para o sucesso. "Eu sempre vi meu pai falando de todas as empresas dele com muita responsabilidade. Eram famílias que dependiam delas. Ele nunca deixou a desejar porque ele sempre se preocupou com o próximo, com as famílias que trabalhavam com ele. Ele sempre valorizou os funcionários. Como empresário, ele me ensinou a ser humana".

Ana Carolina Fernandes/Folhapress Ana Carolina Fernandes/Folhapress

Abram alas para a imperadora

Mais uma passada de bastão na presidência do grupo aconteceu em agosto deste ano. Stoliar deixou o posto para Renata Abravanel. A filha número seis de Silvio aparece pouco à frente da televisão, o que ela gosta mesmo é de administrar os negócios da família.

Ela foi a pessoa que mais se dedicou. Ela é a que tem mais interesse em administrar as empresas do grupo. Ela é muito esforçada, estudiosa, tem muita vontade de acertar.

E quem pensa que Renata já chegou e sentou na janelinha por causa do sobrenome, não foi bem assim. A atual presidente do Grupo Silvio Santos está a par das movimentações da presidência desde 2010, quando tinha 25 anos.

Mastrangelo Reino/Folhapress

Mas afinal, quem é Renata?

Renata se formou em administração e business na Liberty University, nos Estados Unidos, em 2007. Logo depois, trabalhou no departamento de Novas Mídias do SBT como coordenadora. Em 2010, como mencionado acima, ela virou assessora de Stoliar.

"Meus pais sempre me apoiaram muito a encontrar meus interesses, abraçar as oportunidades que a vida me apresentou, superar meus medos e desafios, e trilhar caminhos ainda mais altos".

E ela chegou no patamar mais alto possível. Hoje, Renata administra uma empresa com faturamento bilionário e que emprega mais de vinte mil pessoas.

Sem dúvida meu pai é um exemplo, uma referência e uma verdadeira inspiração para mim. Tudo que ele conquistou, com muito suor e as vidas que ele conseguiu tocar através do talento e do trabalho dele

Eu e meu pai conversamos muito ao longo de momentos importantes na minha vida, desde a escolha da faculdade até meu primeiro emprego

Renata Abravanel

De pai para filha

Toda essa formação de Renata tem uma influência grande de quem é Silvio Santos. Como observadora, desde mais novas, ela foi sugando um pouco da experiência do empresário.

É incrível observar ele 'em ação' como patrão e homem de negócios. Ele tem uma visão, uma sensibilidade e uma sabedoria ímpar. Sei que sou suspeita, mas trabalhando junto com ele é fácil de enxergar como ele conquistou o carinho e admiração de tantos brasileiros.

E a palavra número um de seu caderno de anotações sobre os aprendizados com o pai é: responsabilidade. Isso serve para família, colegas de trabalho e clientes.

As mulheres de Silvio

  • Íris Abravanel

    A patroa! Íris é casada com Silvio desde 1981 e mãe de quatro das seis filhas do apresentador. Além de autora de diversas novelas do SBT, ela também é diretora da Jequiti.

    Imagem: Reprodução/Instagram/liviaandrade
  • Cíntia Abravanel

    A filha mais velha também é a mãe do ator e apresentador Tiago Abravanel. Cíntia é conselheira do Grupo Silvio Santos

    Imagem: Marcos Ribas e Manuela Scarpa /Photo Rio News
  • Silvia Abravanel

    Apresentadora do "Bom Dia & Cia", Silvia trabalha ao lado do pai desde a adolescência no SBT, já tendo comandado uma série de outros programas.

    Imagem: Silvia Abravanel (Foto: Reprodução/Instagram)
  • Daniela Beyruti

    Filha mais velha de Silvio e Íris, Daniela já atuou como diretora artística do SBT e atualmente é conselheira do Grupo Silvio Santos e também do canal.

    Imagem: Mastrangelo Reino/Folhapress
  • Patrícia Abravanel

    Patrícia comanda diversas atrações no SBT: o "Máquina da Fama", o "Pontinhos em Casa" e ainda participa, junto com o pai, do Jogo dos Pontinhos no "Programa Silvio Santos". A apresentadora é casada com Fábio Faria, atual Ministro das Comunicações do Governo Jair Bolsonaro.

    Imagem: SBT
  • Rebeca Abravanel

    Apresentadora do "Roda a Roda Jequiti", Rebeca, a filha número 5, se casou, em 2019, com o jogador Alexandre Pato.

    Imagem: Reprodução/Instagram
  • Renata Abravanel

    A caçula de Silvio também foi a escolhida para assumir o comando. Renata é a atual presidente do conselho do Grupo Silvio Santos.

    Imagem: Mastrangelo Reino/Folhapress
Reprodução

Quase presidente

O império de Silvio quase se estendeu para muito além do SBT. O apresentador buscou a cadeira presidencial, quando concorreu ao cargo político mais alto do Brasil nas eleições de 1989.

Todo o processo da campanha de Silvio Santos à presidência do país foi descrito por Marcondes Gadelha, seu candidato a vice, no livro "Sonho sequestrado", lançado neste ano.

"A gente não queria o Silvio só como presidente, mas como exemplo de que o trabalho compensa, que vale a pena produzir. Por causa da história de vida dele: começou como vendedor de carteirinhas na balsa de Niterói e se tornou dono de um império de TV que faturava 1 milhão de dólares por dia. Ele dirigia 33 empresas saudáveis."

E como ficaria o SBT caso Silvio fosse presidente?

Se ele tivesse sido eleito, não afetaria em nada a vida do SBT ou da própria Globo. Ele me pediu para falar com Roberto Marinho para dizer que no governo dele, ele teria o mesmo tratamento. O pessoal do SBT não apoiava. O [Luiz] Sandoval, presidente da holding, dizia que com o Silvio indo para o Planalto, o SBT perderia a grande estrela do canal.

Diante de movimentações políticas que acabaram impugnando sua candidatura, lançada a apenas 15 dias da eleição, Silvio acabou nem tendo a chance de concorrer, mesmo sendo um dos favoritos das pesquisas. Em 1992, tentou novamente se eleger como prefeito de São Paulo e, mais uma vez, teve a candidatura impugnada. Desistiu da política.

"Ele ficou muito chateado. Fiquei preocupado de como aquilo ali afetaria a saúde mental dele, mas ele deu a volta por cima. Em 2005, conversei com Silvio de novo para tentar uma nova candidatura à presidência. Ele me recebeu, disse que poderíamos falar de qualquer assunto, mas política nunca mais."

O início do império

Você hoje está sentado nesse banco, Carlos. E se não fosse ele não teríamos esse banco nem essa televisão. Você veio como meu irmão, meu amigo. Uma pessoa que vai me ajudar a fazer o que o seu pai gostaria de fazer comigo.

Silvio Santos, em depoimento para Carlos Alberto de Nóbrega na estreia da "Praça é Nossa" em 1987 no SBT.

As palavras de Silvio remetem a Manuel de Nóbrega, pai de Carlos Alberto, a quem ele sempre se referiu publicamente com enorme gratidão. A consideração não poderia ser menor.

O início do Baú da Felicidade nada mais é do que uma história de amizade e de uma sociedade bem-sucedida. Silvio ajudou o pai de Carlos Alberto a reerguer a empresa, que passava por dificuldades financeiras, e depois assumiu o controle do negócio que se tornou o embrião do Grupo Silvio Santos no fim dos anos 50.

É uma coisa meio espiritual. O meu pai considerava o Silvio como um filho.

Carlos Alberto, sobre a ligação do pai com Silvio Santos.

Acervo / Folhapress Acervo / Folhapress
Roberto Nemanis/SBT

O faro do empresário

Filho de comerciante, Silvio nunca deixou de ter a essência do camelô que com menos de 18 anos encontrava maneiras criativas para ganhar dinheiro. Carlos Alberto de Nóbrega conhece o "patrão" há mais de 60 anos e conta uma história que ajuda a entender o tino do animador de auditório para os negócios.

Os dois viajaram juntos para Buenos Aires, na Argentina, com o objetivo de fazer as compras para o enxoval de casamento de Carlos Alberto. Foi quando Silvio teve uma brilhante ideia.

"Ele falou, Carlos, por que você vai comprar essas coisas aqui? Vamos comprar muamba para a gente revender. Vamos ganhar pelo menos cinco vezes mais no Brasil. Você vai comprar até com melhor qualidade! E foi o que nós fizemos. Ele já era muito esperto naquela época. Tinha uma visão comercial muito grande", conta Carlos Alberto.

Um carta de recomendação

O Silvio era locutor de uma rádio no Rio e amigo do meu tio, que mandou uma carta de recomendação para o meu pai. O Silvio fez uma coisa muito bonita, que mostra o caráter dele. Sem o meu pai saber, o Silvio fez um teste de locutor na Rádio Nacional, passou e aí ele foi falar com meu pai e entregou a carta. Ele não queria entrar só por causa da carta, mas pelo valor dele.

João Batista da Silva / SBT

A vitrine de Silvio Santos

O SBT não é só o maior xodó de Silvio Santos, mas se tornou a maior e melhor vitrine para as suas empresas. Sempre foi assim que Silvio atuou na TV, conciliando programas com venda de seus produtos. Mesmo antes dele ter um canal para chamar de seu.

Na estreia na TV, na década de 60, ele usava o espaço de seu programa para vender carnês do Baú, por exemplo. Com o SBT, ele ganhou mais poder para alavancar as empresas do grupo e já não precisava mais depender dos donos de TV para fazer o que bem quisesse.

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, se aproximou de Silvio quando ele alugava horário na Globo para exibir o seu programa entre os anos 60 e 70. Para o ex-diretor geral da Globo, o apresentador tem o mérito de ter criado o "mundo Silvio Santos", transformado-se em seu principal produto.

"Silvio Santos acima de tudo é um vendedor, mais até do que um animador de auditório ou comunicador de televisão. De comunicador tem gente melhor do que ele, mas como vendedor não tem ninguém".
Boni

Silvio Santos: relembre momentos marcantes da carreira

Lourival Ribeiro/SBT

"O patrão é exigente, mas?"

"...É a pessoa mais gentil que eu já conheci na vida", revela Ratinho. Há 22 anos no SBT, Carlos Massa, nome verdadeiro do apresentador, diz que não precisa puxar o saco do patrão, que Silvio é gente boa mesmo. Mas, como qualquer mero mortal, tem medo de ser demitido.

"Eu falo que não gosto de encontrar com ele, porque eu tenho medo de perder o emprego. E eu amo meu emprego, o SBT. De repente ele pode falar, o Ratinho tá enjoando, vou demitir ele. Por isso, eu corro do Silvio para não perder o emprego. Mas eu adoro encontrá-lo. Toda vez fui tratado com a maior dignidade do mundo".

Ratinho é fã de Silvio desde jovem, quando nem sonhava fazer parte da equipe do SBT, e diz que o apresentador sempre foi sua referência: "Silvio fala muito fácil com o público, a gente tenta chegar perto disso. Ele gosta de ser um vendedor na televisão, eu também gosto. Eu sigo muito o Silvio nesse aspecto, ele é o melhor do mundo".

CARAS

Pai, mestre e patrão

Por falar em funcionários, Silvio também é o chefe das filhas. Silvia conta que ele é bravo, faz críticas, mas também sabe elogiar. Ela conta que já trabalhou com "chicotinho", mas que aprender ao lado do pai foi melhor que uma universidade:

Dele, também sofri pressão, mas foi bom pra mim. Ele sempre me incentivou, disse que eu podia ir além do meu limite. No "Namoro da TV", ele pedia mudanças no programa ao vivo, eu tinha 3 telefones para me inteirar de tudo. Na hora que ele me ligava, eu ficava no viva-voz e todo mundo sabia que era uma ordem. Era muito gostosa essa pressão porque hoje eu faço programa ao vivo como se tivesse indo comer um açaí

Para Silvia, que está à frente do matinal infantil "Bom Dia & Cia" desde 2015, a lição mais importante que aprendeu com Silvio foi a de não pisar em ninguém para crescer profissionalmente: "Outra lição é que quando você ama o que você faz, você não trabalha um dia. Você ama o que faz, aquilo era divertido para mim", conclui.

Já para Patrícia Abravanel, apresentadora do "Máquina da Fama" e que participa no quadro "Jogo dos Pontinhos" no "Programa Silvio Santos", exalta a figura do pai como patrão: "Sinto ter um verdadeiro privilégio de ser 'colega' de trabalho e ainda filha, pois aprendo em dose dupla.".

Os personagens do mundo Silvio Santos

Reprodução/Instagram

Liminha

Na certidão de nascimento ele é Ailton Sampaio Lima, mas foi com o apelido que ficou famoso animando o auditório. O assistente de palco dos programas de Silvio Santos e começou a trabalhar com ele no ?Domingo no Parque?. há mais de três décadas.

Divulgação/SBT

Lombardi

?É com você, Lombardi!?. O dono da voz cujo rosto era um mistério para o público morreu aos 69 anos em 2009. O locutor trabalhou por mais de 40 anos para Silvio Santos e garantia a diversão do público em suas interações com o patrão.

Reprodução/Instagram

Jassa

O cabeleireiro mudou de vida quando seu caminho cruzou com de Silvio Santos nos anos 1960. ?Silvio foi uma loteria que eu ganhei?, diz ele, que passou a receber quase oito vezes mais com a propaganda espontânea do apresentador na televisão e possui o próprio salão.

Rodrigo Capote/UOL

Roque

O fiel escudeiro é diretor do auditório de Silvio Santos e acompanha o patrão desde antes do início do SBT, em 1981. Era porteiro da Rádio Nacional quando conheceu o animador.

Moacyr dos Santos / SBT

Primeiro funcionário do SBT

Roque é uma das pessoas da confiança de Silvio Santos e um desses personagens do entorno do apresentador, como Liminha e Jassa. Tanto é assim que ganhou a responsabilidade de cuidar do auditório e das "colegas de trabalho", como Silvio se refere ao público feminino de seus programas.

Conheceu o patrão há mais de 50 anos quando trabalhava como porteiro na Rádio Nacional. Ele se enche de orgulho ao dizer que foi o primeiro funcionário contratado do SBT, em 1981.

"Ele disse: você vai ser o responsável pelo meu público e meu auditório. Eu só quero uma coisa de você, trate bem esse povo que me deixou rico e famoso em todo Brasil", conta.

Roque deu conta do recado e se tornou diretor do auditório do Silvio Santos. Atualmente comanda uma equipe de 18 funcionários. Como é ter Silvio como patrão?

Ele não gosta que leve problemas para ele. É a única coisa que ele não gosta. Ele gosta que as pessoas sejam honestas. Um entende o outro. Ele é o patrão, passa as ordens e eu executo

Entre tantas memórias com Silvio, ele se recorda de quando se desesperou de medo de ser mandado embora. "Uma vez eu chorei no programa. Eu pedi aumento para ele e ele falou que ia me mandar embora", lembra. Era uma brincadeira. "Ele é um homem simples, humilde. Quando entra no SBT,, ele vê as pessoas que estão limpando o chão, chega e cumprimenta. É um homem supereducado", afirma.

Futuro sem Silvio

Como é o Silvio aos 90? Um dos homens mais poderosos do Brasil está enfrentando a passagem do tempo de maneira pacífica. Pelo menos é o que contam as filhas.

O Silvio chegando aos 90 é o melhor ser humano do planeta. Continua incrível, maravilhoso pai, chefe, empresário. É incrível ver como a cabeça dele funciona tão rapidamente. Ele continua o mesmo que há 10 ou 20 anos", elogia Silvia.

Ele sempre se adapta e se reinventa. Este ano realmente foi um ano em que essa capacidade lhe foi bastante útil. Ele sabe, na ponta da língua, quantos dias fazem desde a última vez em que ele pisou no auditório, sente muita falta, mas aproveitou o tempo para trabalhar de "home office", ler, fazer amizade com assistentes digitais e até fazer compras online

Renata Abravanel

Silvia explica que, ao longo dos anos, o pai precisou abrir a cabeça e se adaptar às mudanças dos novos tempos. "Ele ainda é uma pessoa antiquada. Ele teve que se adaptar para acompanhar a adolescência da caçula, Renata. Ele foi mudando junto com o mundo. Meu pai não parou no tempo".

Mas como será o tempo sem Silvio? Como se desenha um futuro sem o todo-poderoso? É possível pensar no nome de um sucessor? Existe alguém à altura?

Moacyr dos Santos / SBT

Sucessão

Tiago Abravanel despontou para o grande público longe do SBT. A relação com o avô não foi das melhores na infância. Silvio trabalhava muito e não tinha tempo para construir essas pontes. Hoje, o respeito permanece.

"Quando era criança, não entendia o que significava ser neto do Silvio Santos. Hoje, acho que ele é uma força, um exemplo. É vivência. Significa tudo para a família", conta o ator e apresentador, que lança neste mês uma linha de pijamas em homenagem aos 90 anos do avô pela sua marca T-Jama.

Tiago não gosta de pensar num futuro sem Silvio. "Não quero nem pensar no que é o SBT sem ele. Não só a emissora, mas o mundo, a vida. A gente sabe que é inevitável, mas não quero pensar", admite.

Para a Silvia, também é difícil pensar num nome que suceda o pai. As filhas são as primeiras que vêm à cabeça. "Existem pessoas que fizeram sua própria história. São únicos. Ayrton Senna, Xuxa, Pelé, Roberto Carlos? Meu pai. Lógico que existem outros que podem fazer algo melhor, mas nunca vão substituí-las", pondera.

É inevitável. Não tem como as pessoas não nos compararem a ele. Sempre tive essa cobrança e essa pressão. As pessoas são cruéis. A Silvia é a Silvia, o Silvio é o Silvio, a Patricia é a Patricia. Ele criou um avatar dele e nós temos o nosso. É injusto comparar ele com a gente. Não dá para pensar num sucessor para ele. Não acho que meu pai vai ter um. Não existe um Silvio Santos 2. Eu espero que ele dure mais uns 100 anos. Ele pode ser o sucessor dele!

Silvia Abravanel

Luciano Callegari, ex-diretor do SBT, concorda com a ideia de que o patrão é insubstituível: "SBT é Silvio. Ele sempre fará falta".

O produtor trabalhou por 47 anos ao lado do patrão da emissora, desde antes da existência do SBT, quando Silvio estreou seu primeiro programa, o "Vamos Brincar de Forca", exibido pela extinta TV Paulista.

"É o maior animador que o país já teve. E eu duvido que aparecerá um outro".

E como fica o SBT?

Elas vão ter que começar de novo. Eu conheço todas elas, são moças inteligentes, mas ainda falta a experiência em televisão. Não é uma coisa que se aprenda da noite para o dia, leva muito tempo. Quando Silvio deixar de fazer programa no SBT, certamente haverá uma queda na audiência. Está nas mãos dela. Se elas souberem contratar os artistas e profissionais certos, aí então o SBT terá uma continuidade

Luciano Callegari, ex-diretor do SBT, sobre o futuro do canal na ausência de Silvio Santos

O Silvio Santos é o SBT. Não existe a mínima possibilidade de não associar o Silvio ao SBT e vice-versa. Futuro do SBT sem o Silvio? Não consigo imaginar. Vai ser um choque muito grande.

Carlos Alberto de Nóbrega

Roberto Nemanis/SBT Roberto Nemanis/SBT
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