Topo

Ricardo Feltrin

REPORTAGEM

Opinião: Eliminação de Linn do "BBB" indica força "conservadora"

BBB 22: Linn da Quebrada em noite de eliminação - Reprodução/Globoplay
BBB 22: Linn da Quebrada em noite de eliminação Imagem: Reprodução/Globoplay

Colunista do UOL

12/04/2022 00h09

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Embora eu não seja telespectador interessado do "BBB", este ano tenho dado umas olhadas. Além disso, tenho um casal de amigos que entende muito de TV, e os dois são assíduos do reality. Quando acontece algo relevante, eles me avisam.

A eliminação ontem de Linn da Quebrada, cantora e multiartista, que se identifica como travesti, definitivamente foi algo relevante para a Globo e para a TV, de forma geral.

O que impressiona foi sua taxa de rejeição no paredão: 77,6%.

Não é nenhum recorde do programa, mas impressiona porque Linn foi uma participante que pode ser considerada "do bem".

Não fez tramas, não fez declarações agressivas, não se vitimizou, não transmitiu nenhum tipo de energia que pudesse se materializar em uma votação negativa tão grande.

Então por quê?

Não posso dar a resposta definitiva, mas talvez possa explorar possibilidades.

Para isso, precisaremos voltar à TV Globo no início de 2019.

No primeiro trimestre daquele ano, com Bolsonaro recém-eleito, a Globo fez sua grande pesquisa qualitativa e quantitativa anual, como esta coluna informou à época, com exclusividade.

O objetivo desses estudos anuais, para a Globo, é saber ou tentar entender qual imagem que ela e seu conteúdo têm com seu telespectador, e o brasileiro como um todo.

Pois bem, em 2018 o resultado foi bem diferente de anos anteriores: como a própria emissora respondeu em nota a esta coluna:

"O que confirmamos, e não é surpresa, foi a polarização do país. Numa sociedade polarizada, o comportamento mais comum é: ou você pensa como eu ou estamos em campos opostos".

Público importante

O que a emissora concluiu com a pesquisa foi que, apesar da polarização, apesar de não apoiar Bolsonaro, ela ainda assim deveria se comunicar com o eleitor bolsonarista. "Falar" para ele (ter conteúdo que também consumisse, em outras palavras).

Como mídia, uma TV desse porte não poderia se dar ao luxo de abrir mão de parcela tão grande da população (naquele tempo, os 54 milhões que votaram nele).

Inicialmente até pareceu que a Globo faria uma pequena mudança de rota, o que ficou sinalizado quando acabou com seu setor de humor.

Esse setor (seguido de jornalismo e dramaturgia) foi o mais "atacado" na tal pesquisa. Chegou a ser considerado "imoral" por alguns entrevistados.

Só que ficou por aí. A Globo acabou não alterando seu histórico rumo: continuou mantendo um conteúdo repleto de diversidade e representatividade, independentemente de raça, cor ou gênero.

O "BBB22" foi prova dessa característica que a emissora tomou para si há alguns anos (nem sempre foi assim, como todos sabem).

E a Linn?

Dito tudo isso, chegamos a uma possibilidade sobre a saída de Linn da Quebrada.

Apesar do ódio e desprezo dos autointitulados "conservadores" à TV Globo, tudo indica que eles continuam diante da tela, de seu conteúdo, e todos os dias.

Ainda que seja só para xingar, lá estão eles dando ibope à arqui-inimiga do presidente.

Lembremos que, como a coluna de domingo (1) mostrou, quase 35 em cada 100 TVs do país ficam ligadas na Globo 24h por dia. É óbvio que nesse imenso universo estão direitistas, esquerdistas, liberais e apolíticos.

Por exemplo, para quem acompanha a "bolha conservadora" é fácil notar que, mal termina o "JN", já aparecem ataques ao âncora Bonner e à emissora nas redes sociais. Como sabem, não raro a "hashtag" "Globolixo" está nos termos mais postados.

Com as novelas, a mesma coisa.

Só que, com o "BBB", essa turba, digamos assim, "conservadora" ou "moralista", parece ter achado uma forma de se manifestar por meio do voto.

O que Linn fez para ter tal rejeição? Nada. Apenas criticou o machismo. E machistas grassam na casa do reality; um deles, inclusive, é sério candidato à vitória.

Tudo indica que a presença de Linn incomodou a "bolha da direita", os tais defensores dos "valores da família".

Já o público que se identifica com pautas libertárias, com a tolerância, a liberdade de expressão, os que defendem as minorias (que a direita chama pejorativamente de "lacradores"), esse não teve força para decidir no voto quem deveria sair ou ficar.

Portanto, pode-se considerar a hipótese de que foi justamente uma massa "conservadora" que tirou Linn do programa, por acachapante votação.

O que nos remete a outra possibilidade. Talvez, os conservadores bolsonaristas não estejam apenas assistindo à TV Globo e ao "BBB22". Talvez já estejam dentro dela e decidindo resultados.

Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops