Topo

Ricardo Feltrin

OPINIÃO

Análise: TV Globo virou abrigo de "renegados" da Record?

Sabrina Sato trocou a Record pelos canais pagos da Globo; mas, em breve, também estará na TV aberta - Reprodução/Instagram
Sabrina Sato trocou a Record pelos canais pagos da Globo; mas, em breve, também estará na TV aberta Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

29/03/2022 00h09

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Nos últimos anos, a Record abriu mão de artistas e celebridades renomados, sendo que alguns foram contratados no passado a peso de ouro.

Além disso, foram anos de "investimento" da Record nesses profissionais, em programas para eles, em formatos e, no fim, todos acabaram sendo dispensados (ou liberados para ir embora).

Sabrina Sato, Marcos Mion, Fábio Porchat, Xuxa e Paulo Vieira estão entre os mais famosos. Mas, ainda há celebridades como Jojo Todynho (que estará no "Dança dos Famosos) ou Amaral e Aline Wirley, que participaram do "The Masked Singer".

O que todos têm em comum? Todos tiveram passagens longas ou curtas pela Record, e hoje estão todos na líder Globo.

Artistas se deram bem

Mion se tornou o senhor dos sábados da TV aberta. Porchat é uma estrela sempre em ascensão em produções independentes e agora também na TV por assinatura do Grupo Globo.

Paulo Vieira é um dos poucos grandes nomes do humor sobreviventes do "passaralho" no Projac nos últimos anos.

Já Sabrina acaba de ser confirmada no "Saia Justa", no canal GNT, e estreia no dia 30 ao lado da veterana Astrid Fontenelle.

Além de Xuxa, que virou "parceira" em produções no serviço de streaming Globoplay, e tem sido convidada de honra em programas do Grupo.

Globo faz muito bem

Pode parecer estranho que uma emissora do porte (e empáfia) da Globo, sempre à frente das demais, hoje pareça se aproveitar de uma espécie de "xepa" de dispensados pela Record.

Mas, a explicação para isso é simples: pragmatismo.

Se, no passado, executivos da Globo chegaram a ameaçar artistas que fossem para a concorrência de "banimento eterno" do Projac, isso hoje não tem a menor importância.

Para a Globo, o que vale é o talento, a comunicação e a capacidade de gerar conteúdo que vai acabar sendo vendido por aí e trazendo (muito) mais dinheiro para a casa. Isso vale para a área de shows ou de dramaturgia.

TV multiplataforma?

Já do lado da Record o que se vê é uma TV com aparente determinação, mas cujo rumo é confuso e cheio de idas e vindas. De acertos e erros.

Ela acerta nas novelas bíblicas (os números do ibope provam), mas erra na área de shows, que não engrena.

Faz bem ao investir em futebol, mas seu jornalismo não ultrapassa a linha mediana.

Dias atrás, Alarico Naves, um de seus graduados executivos, alardeou durante um seminário que a Record é "a emissora do futuro", "a TV multiplataforma" etc. etc. e tal.

Olha, não parece. Para que isso fosse verdade, a emissora deveria estar investindo hoje em programação destinada a atrair jovens —a faixa etária mais ausente da TV aberta.

Como acreditar nessa declaração quando, em poucos anos, a Record perde gente como Mion, Sabrina e Porchat —que são exatamente os profissionais que mais falavam com o público jovem? Vai substituí-los por quem?

Porque, sejamos claros, novelas bíblicas podem até ir bem de ibope, mas não vão atrair jovem nenhum.

Rolam as pedras

Na mitologia grega existe a história de Sísifo, filho do vento, o herói absurdo que pena para levar uma enorme rocha até o topo de um penhasco apenas para vê-la rolar de volta; e assim se vê obrigado a recomeçar o esforço de novo, e de novo, de novo, de novo.

O herói foi punido pelo destino por ser cabeçudo, teimoso e enrolado.

A Record parece um pouco esse personagem. Não dá o braço a torcer. Não aceita críticas. Nem opiniões alheias. Acha que está sempre certa.

Para piorar, nos últimos anos desenvolveu também uma "estratégia" no mínimo estranha, na hora da renovação de contratos de seu elenco.

Segundo esta coluna apurou, a emissora deixa para fazer a proposta de renovação apenas aos 44min do segundo tempo da expiração do prazo.

Por quê? Provavelmente porque sabe que, se o artista ainda está trabalhando a esta altura do campeonato, é porque não conseguiu nada na concorrência.

Com isso ela pode oferecer uma proposta financeira com valor menor que a anterior.

Pode ter sido assim com Porchat. Foi assim com Sabrina. Quase foi assim com Ana Hickmann também.

É uma "estratégia" no mínimo desmotivante, e muitos não aceitaram. Antigamente a Record procurava contratados para renovarem contratos até um ano antes do prazo final. Hoje chega a rescindi-los mais cedo (Mion).

Agora a Record terá de rolar a pedra de novo, penhasco acima, até formar (ou contratar) uma nova leva de apresentadores relevantes e versáteis, que conversem com os jovens.

Até lá, vai ter de se segurar com a Bíblia e o público maduro.

Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops