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Ricardo Feltrin

OPINIÃO

Fiasco de "Um Lugar ao Sol" mostra como Globo depende de pesquisas

Felipe (Gabriel Leone) e Rebeca (Andrea Beltrão) em "Um Lugar ao Sol" - Reprodução/TV Globo
Felipe (Gabriel Leone) e Rebeca (Andrea Beltrão) em 'Um Lugar ao Sol' Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

20/03/2022 00h09

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Principal novela da Globo, "Um Lugar Ao Sol" vai chegando ao fim como líder absoluta de audiência no país, mas, com um porém: terminará com a pior média já registrada para uma trama nessa faixa horária na história da emissora.

Segundo dados até o momento, a novela de Lícia Manzo deve terminar na casa dos 21,5 ou 22 pontos de ibope na média nacional (258 mil domicílios), e com 35% de share (35 em cada TVs ligadas no Brasil). Isso é quase quatro pontos a menos que o pior resultado do horário: a novela "Babilônia", em 2015.

Definitivamente os números de "Um Lugar ao Sol" não são nada desprezíveis. A novela das 21h30 ainda é o produto mais visto da TV brasileira. Mesmo assim, para a Globo, é um resultado decepcionante. Mas, nesse caso, foi algo inevitável.

Sol "congelado"

Inevitável porque, pela primeira vez, a Globo produziu uma novela nessa faixa "100% fechada". Ou seja, a história foi gravada do começo ao fim antes de entrar no ar.

Por causa da pandemia, dos riscos de contaminação e também por uma nova política de cortar custos, a emissora da família Marinho acabou sendo obrigada a lançar -perdão pelo trocadilho- "Um Lugar ao Sol Congelado".

O roteiro, os personagens, os núcleos, o desenrolar da história, nada disso poderia mais ser modificado depois do primeiro capítulo.

Sim, havia cenas extras suficientes para ampliar o nº de episódios, o que de fato ocorreu, como antecipou em janeiro o site "Notícias da TV".

Prezados telespectadores

O problema é que, como a novela era "imutável", a Globo pela primeira vez não conseguiu lançar mão de seu maior trunfo: as pesquisas de opinião e qualidade junto ao público noveleiro.

São telespectadores comuns: mulheres e homens de todas as idades que são levados até a emissora. recebidos com muita cortesia (e às vezes mimos simples) para dar sua opinião sobre a novela que estão assistindo.

Claro que a equipe da Globo faz perguntas específicas sobre o andamento da história, os núcleos e os personagens mais importantes. Mas, o seleto grupo pesquisado também contribui com opiniões absolutamente pessoais e fora do "questionário"

Sem dúvida, essa também é uma das ferramentas que fez a Globo ser líder inconteste na dramaturgia brasileira: o respeito à opinião de seu telespectador.

Terremoto já extinguiu elenco

A Globo já mudou o rumo das histórias, alterou foco e protagonismo, baixou a bola de alguns personagens ou subiu a de outros; criou bordões; ampliou a participação de núcleos ou diminuiu a de outros; e até já matou quase um elenco inteiro num terremoto numa ilha, em "Anastasia, A Mulher Sem Destino", de 1967.

Tudo isso também por causa de pesquisas de opinião com telespectadores.

No caso de "Um Lugar ao Sol", provavelmente alguma coisa seria mudada também. Ou não.

Havia um outro problema crônico: como a novela foi curta (pouco mais de 100 capítulos), seria muito difícil fazer alterações significativas, mesmo com pesquisas e dados de ibope na mão.

Como dito acima, a novela foi líder isolada de ibope sem qualquer ameaça, só que o resultado podia ser melhor.

Tudo voltará ao normal

Graças ao enfraquecimento da Covid, a emissora da família Marinho já voltará a lançar mão das pesquisas com a próxima novela das 21h30, "Pantanal", que terá mais de 200 capítulos.

De qualquer forma, o resultado de "um Lugar ao Sol" provou como a Globo precisa do telespectador não só diante da TV, mas dentro da própria emissora.

Que as outras TVs a copiem.

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