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Ricardo Feltrin

REPORTAGEM

Análise: Band perde milhões de igrejas para tentar mudar imagem

Johnny Saad, 69 anos, presidente da Band - Divulgação/Band
Johnny Saad, 69 anos, presidente da Band Imagem: Divulgação/Band

Colunista do UOL

02/02/2022 00h09

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Há quase dois anos a Band está em um processo de mudança de imagem.

Isso começou ainda em 2020, quando a emissora surpreendeu ao anunciar investimentos em uma nova programação, com contratações e uma completa reformulação interna em quase todos os escalões.

Depois disso, a emissora passou a investir em esportes ("Show do Esporte", Fórmula 1 etc.) e, em seguida, chegou ao entretenimento (Zeca Camargo, Edu Guedes, Ticiana Villas-Boas e a grande estrela da casa, Fausto Silva).

Ao mesmo tempo continuou a investir na TV paga, com a estreia do canal Sabor e Arte e com uma programação refinada em um dos melhores canais da TV por assinatura no país: o Arte 1 —responsável por introduzir a emissora da família Saad no mundo do streaming.

Depois de investir em todas essas áreas, ainda faltava o jornalismo.

O primeiro passo nessa direção poderá ser o "relançamento" do canal 21, com uma programação voltada às reportagens e prestação de serviço regionais (SP).

No meio desse caminho, porém, todos sabiam que havia uma pedra chamada "igrejas".

Para vencer seus graves problemas financeiros, que perduraram por décadas, a Band passou a vender horários para várias denominações religiosas e espiritualistas: da Igreja Universal ao pastor Malafaia; de R.R. Soares à Seicho-No-Ie.

O problema maior era no horário nobre, onde o pastor Soares desabava a audiência do canal para o traço, justamente após um de seus melhores momentos, com o "Jornal da Band".

Ao tirar o pastor dali e colocar Faustão em seu lugar, a emissora saiu do "traço" para 4 ou cinco pontos de média em São Paulo (a expectativa interna era de 3 pontos).

No entanto, Faustão não emplacou no resto do país, como provam os números de audiência consolidados, em janeiro, publicados ontem por esta coluna.

Por outro lado, a saída da igreja também valorizou o jornalismo da casa, que não vê mais sua árdua batalha para bater os 4 pontos no mínimo, em São Paulo (principal mercado da publicidade), diariamente, ser jogada ao chão minutos após seu término, porque uma igreja ocuparia o horário a seguir.

Muitos milhões a menos

A BandTV fez uma aposta arriscada: vai perder muitos milhões em receitas das igrejas (um dinheiro absolutamente líquido, sem gasto nenhum, diga-se de passagem) para apresentar uma nova imagem ao mercado.

O resultado já começa aparecer: mesmo sem os pastores: a emissora já está faturando alto em 2022 com a Fórmula 1 e Faustão. Houve uma mudança de patamar (preço) de sua tabela comercial.

De olho no futuro

Também já está investindo em seu futuro com a compra de um pacote milionário de filmes e seriados que vai até 2024.

Outras medidas também estão em estudo: a maior delas, sem dúvida, é tirar boa parte da emissora do Morumbi.

Esse é um projeto de anos e também apoiado por muitos funcionários, que não moram no bairro e precisam fazer diariamente grandes deslocamentos de ida e volta.

De qualquer forma, além da gigante e líder Globo, a Band parece ser outra TV aberta que planeja sua existência no curto, médio e longo prazos.

É uma transformação e tanto para uma empresa que já teve tantos problemas e chegou a ser "desenganada" por uma agência de classificação de riscos. A Band já deixou o hospital.

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