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Ricardo Feltrin

OPINIÃO

Relato: Em palco "padrão Globo", Faustão causa catarse em estreia na Band

Colunista do UOL

18/01/2022 10h44

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Cheguei à Band ontem (17) duas horas e meia antes do início da gravação do sexto novo programa de Fausto Silva, e que irá ao ar na próxima segunda (24).

Isso porque todos nós da imprensa teríamos de nos submeter a um teste de Covid-19 antes de entrar no estúdio-auditório.

Somos levados até um jardim externo na sede da emissora. Faço meu 15º (!) exame de Covid-19 e o resultado é negativo pela 15ª vez. Olho para a enfermeira que me deu o resultado e exclamo: "YES!".

Somos levados até o tal auditório com tecnologia de ponta que foi construído só para Faustão. Está "semi" lotado e a plateia é muito barulhenta.

Na plateia, conto 174 moças presentes e sentadas com um pequeno distanciamento umas das outras. Todas estão vestidas com jeans e camisetas azuis.

Nervos à flor da pele

A equipe de produção está visivelmente nervosa, tensa e ao mesmo tempo feliz. É um clima curioso.

Entram 16 bailarinas da equipe no palco e eu tenho meu primeiro assombro:

O PALCO. Ele parece muito mais bonito que o palco de Faustão na Globo.

A beleza da iluminação, também. Canhões de luz movidos por comandos remotos começam a se agitar e há uma explosão de cores que chega até os camarotes (onde estou sentado).

Noto que há luzes de LED enfeitando até a barra de segurança das frisas. Percebo que estou na Band, mas diante de uma produção "padrão Globo".

Duas bailarinas estão misturadas à plateia e brincam com as meninas. No palco as bailarinas fazem movimentos absolutamente sincronizados como um time extremamente bem treinado. Algumas vêm à frente das demais e "humilham" nos "espacates".

A catarse

Então, finalmente, após cerca de 10 minutos de preparação, uma voz anuncia a chegada de Faustão. Ele entra pelo fundo do palco (que abre e fecha)

É então que eu tenho uma experiência nova: vejo e escuto o som de uma catarse. A plateia simplesmente uiva, aplaude, grita e pula. Tudo ao mesmo tempo.

Sinto um pequeno tremor até na frisa onde estou alojado, um "andar" acima de onde está a plateia. São as meninas pulando.

Percebo que estou diante de um fenômeno e que essa é a diferença entre um apresentador e um "comunicador".

O apresentador faz fãs felizes. O comunicador provoca comoção.

Pelas próximas duas horas vou ver essa plateia dar um "show" tão bonito como o do Roupa Nova e seu novo vocalista, (o fantástico e carismático) Fábio Nestares.

A plateia não só vai cantar junto com a banda todos os seus sucessos.

174 meninas também vão cantar "à capela" PARA a banda, numa homenagem inesquecível a um grupo 42 anos de estrada, milhões e milhões de discos e CDs vendidos, e músicas baixadas, e que perdeu seu vocalista primário, Paulinho, para a Covid em dezembro de 2020.

Admito que sou meio manteiga, já chorei em filmes e até em desenhos ou filmes de aventura; não chego a chorar em minha poltrona assitindo a gravação de "Faustão na Band", mas definitivamente me sinto emocionado.

Fausto Silva tem o controle completo da plateia e da produção. Ralha com o filho, brinca com a assistente Anne Lottermann (ex-"JN"), faz perguntas capciosas. É Faustão, por incrível que pareça, no auge de sua carreira. Aos 73 anos.

Grito de gol nos bastidores

A gravação termina por volta das 19h50. Dentro de 40 minutos o primeiro programa "Faustão na Band" será exibido, com atrações como Zeca Pagodinho, Alexandre Pires e Seu Jorge. Estou morrendo de fome (sem comer desde 12h30)

Somos levados até um dos "saguões" da Band e ali estão sendo servidos pedaços de pizza (segunda Faustão terá sempre pizza para os convidados) com todo tipo de recheio.

Sim, recheio, porque essa pizza não vem em formato original, mas no de um "hot pocket", um enroladinho. Derretem na boca e o esganado aqui come três pedaços.

Começa o programa e as pessoas aplaudem. Nas próximas duas horas, conforme o ibope de Fausto Silva subir, acontecerá entre essa plateia uma comemoração como a de gols do Brasil na Copa.

Diretores da Band não tiram os olhos obcecados de seus celulares, enquanto acessam os dados do "real time" da Kantar Ibope.

"Sete pontos e meio!", exclama um diretor. "Bateu os oito", grita um assessor. Ponto dois. Oito ponto cinco. Estamos em segundo. Ponto seis. Pondo nove. NOVE!!"

Há muitos anos a Band não atingia tal audiência. Olho para Rosana Saad, mulher de RIcardo (irmão de Johnny), e seus olhos estão marejados. O do assessor André Rizzato, também.

Uma gerente perto de mim começa a brincar com o slogan: "Vai ter PLR! Vai ter PLR" (Participação nos Lucros Reais, bônus que algumas empresas dão aos funcionários além do 13º salário). É acompanhada.

O clima é realmente de Copa, e a Band acaba de ganhar uma, nem que seja por uma noite apenas.

Pela medição de ibope CONSOLIDADO em São Paulo, Faustão só ficou atrás da Globo, em segundo lugar do começo ao fim de seu novo programa.

Tenho acesso aos demais dados: no restante do país: sua audiência não foi tão boa; a Band subiu de patamar, mas ainda ficou em 4º.

Termina o programa e vejo as pessoas ainda estáticas com um sorriso meio 'bobo" no rosto. Num mesmo dia, estou diante de uma segunda catarse na TV brasileira.

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