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Ricardo Feltrin

Opinião: Música ganha espaço na TV aberta, mas diversidade é quase zero

Gugu em gravação do programa "Canta Comigo", competição musical da Record - Edu Moraes/Record
Gugu em gravação do programa "Canta Comigo", competição musical da Record Imagem: Edu Moraes/Record

Colunista do UOL

22/07/2018 09h18

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A TV aberta vive um momento incomum de “amizade” com música.

De repente, parece que todas as emissoras descobriram a importância dessa forma de arte e decidiram lhe ceder um espaço relativamente nobre nas grades de programação.

Há muito tempo não ocorria uma fase como a atual, em que todas as maiores TVs abertas do país estão investindo em música e musicais --seja por meio de atrações onde os artistas se apresentam ou reality shows e concursos.

A Globo é uma das poucas que nunca deixou de investir em música, desde os longínquos anos 70, com os finados “Globo de Ouro”, ou, mais tarde, com o excelente “Som Brasil”.

Neste momento a emissora tem dois programas fixos dedicados somente à música: o reality “The Voice” e o “Só Toca Top”.

Além disso outros programas da casa, como “Domingão”, “Caldeirão”, “Encontro com Fátima”, “Conversa com Bial”, “Altas Horas” etc, sempre recebem bandas e ou cantores em seus quadros.

PASSADO E PRESENTE

A Record, por sua vez, até foi pioneira musical uma década antes da Globo, com os famosos festivais da canção, mas depois passou anos (ou décadas) relegando-a ao segundo plano.

Apenas, talvez, seguindo a tendência do momento, a emissora da Barra Funda também estreou um reality musical na semana passada, o “Canta Comigo”, adaptação do formato inglês da BBC “All Together Now”.

Vale dizer, a Record já teve também realities como o “Ídolos” no passado, e alguns de seus programas, como “Hora do Faro” e o "Domingo Show", também dão algum espaço à música. Mas, convenhamos, bem pouco.

O SBT nunca esqueceu totalmente a música --inclusive seu dono é compositor de marchinhas de Carnaval.

Só que ela quase sempre foi confinada a quadros ou convidados dentro de atrações. 

Com exceção de reality shows eventuais ou programas finados como “Ídolos”, “Sabadão Sertanejo” etc, para o SBT a música parece ser só um item a mais do menu.

A música está presente em quase todos os seus programas de auditório: Ratinho, Eliana, Celso Portiolli e , principalmente, Raul Gil, convidam ou incluem artistas --famosos ou desconhecidos-- para se apresentar. Mas, repito, como um item a mais.

Raul Gil --justiça seja feita-- é um dos poucos apresentadores brasileiros que sempre investiu e descobriu novos artistas.

Por outro lado, funcionários de sua produção (assim como a do “Domingão”) já foram envolvidos em escândalos e acusações de cobrar “propina” para receber alguns convidados menos conhecidos ou em evidência nas rádios.

A RedeTV! é outra que relega a música ao segundo (ou terceiro) plano.

Hoje tem apenas o “Ritmo Brasil”, apresentado por Faa Morena aos sábados, e raríssimos convidados em seus poucos programas --já que quase 50% da grade é ocupada por atrações terceirizadas.

Até a Band também tem agora a música em horário nobre: nas noites de sexta exibe o “Música na Band”.

Embora em seu site a emissora afirme que, com o “Música na Band“, a “diversidade musical brasileira tem seu espaço assegurado na programação nobre”, o programa tem insistido bastante só nas estrelas sertanejas.

A emissora da família Saad também tem o recente “Agora é Domingo”, outro que só recebe artistas renomados.

Por todos os parágrafos acima muita gente pode até pensar: “Poxa, então a TV tá cheia de música. Isso não é ótimo? Do que você vai reclamar?”

Está “cheia” de música em termos, amigos leitores. Não há quase nenhuma variedade artística.

São praticamente os mesmos dez artistas e bandas que se apresentam ou são convidados de todas as emissoras abertas todas as semanas.

Em alguns casos ocorre até de o mesmo artista aparecer ao mesmo tempo em duas TVs abertas --como ocorreu em maio com o cantor Eduardo Costa, “competindo” consigo mesmo no ibope.

Em outras palavras: falta às emissoras diversidade, falta saírem do conforto e da mesmice musical do sertanejo, do (pseudo) funk, do brega.

Nem vou aqui ser saudosista e lembrar dos anos 70 quando a Globo dedicava uma hora aos domingos para a música clássica com o “Concertos Para a Juventude”.

Mas, definitivamente, falta variedade e amplitude de estilos à música presente na TV aberta.

Isso não pode ser uma obrigação apenas de canais educativos e governamentais, como a TV Cultura e a TV Brasil. Tampouco monopólio da TV paga que, aí sim, tem boa variedade musical.

Não vivem dizendo que o Brasil é um dos países musicalmente mais ricos do mundo? Pois então cadê essa riqueza? Porque ela não está nas TVs abertas, isso eu posso garantir.

A gente esquece que a TV aberta é uma concessão pública, e como tal ela tem obrigação de levar à população não só diversão, mas também cultura.

Falta na TV o clássico, a MPB de fato, a música nacional de raiz, falta espaço para o surgimento de novos artistas e compositores, e não apenas intérpretes em reality shows.

Falta às TVs abertas principalmente escapar desse suspeitíssimo ranking das “mais tocadas” nas rádios.

Caso contrário passaremos toda a eternidade obrigados a ouvir o que está na moda, como a sofrência e o tal  “tum-tchá-tchá-tum-tchá-tchá”...

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