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Alice Braga quer temas latinos na TV mais amplos que imigração e narcotráfico

07/04/2021 01h03

David Villafranca

Los Angeles (EUA), 5 abr (EFE).- Protagonista da série americana "A Rainha do Sul", em que dá vida à narcotraficante mexicana Teresa Mendoza, a atriz brasileira Alice Braga defendeu em uma entrevista à Agência Efe a importância de que, na televisão dos Estados Unidos, sejam contadas histórias sobre latinos que não abordem apenas imigração e tráfico de drogas.

"Interpretar uma mulher latina na televisão americana em um momento como este foi uma grande honra. Mas, claro, é uma história sobre narcotraficantes. Acho que temos de contar histórias latinas que não sejam apenas sobre imigrantes e narcotraficantes. Seria bom falar simplesmente sobre personagens que são latinos e têm histórias normais", afirmou a paulistana, de 37 anos.

Nesta quarta-feira (7), estreia nos EUA, na emissora "USA Network", a quinta e última temporada de "Rainha do Sul", que marcará o fim da tortuosa e sangrenta jornada de Teresa Mendoza, que começa como namorada de um traficante e se torna chefe de um cartel.

A série, lançada em 2016 e exibida no Brasil pela Netflix, mostrará nesta última temporada como Mendoza assume o controle de sua vida para acertar contas com o passado e desafiar seus inimigos em Nova York.

"Adoro que ela seja a dona do seu caminho, que tenha escrito a sua história", disse a sobrinha da atriz Sonia Braga, além de acrescentar que sentirá saudade da força da personagem que interpretou durante cinco anos.

A produção, em inglês, é baseada no livro "La reina del sur" ("A rainha do tráfico"), do jornalista e escritor espanhol Arturo Perez-Reverte, lançado em 2002 na Espanha e em 2015 no Brasil.

Antes desta versão protagonizada por Alice Braga e adaptada para o público americano, a história de Teresa Mendoza já tinha sido levada para a televisão através da série em espanhol "La reina del sur", estrelada pela mexicana Kate del Castillo.

Além do fim da saga, 2021 será um ano de intensas emoções para Alice Braga, já que a atriz, que tem no currículo participações em filmes como "Cidade de Deus" (2002), "Cidade Baixa" (2005) e "Eu Sou a Lenda" (2007), dará vida à personagem Sol Soria em "Esquadrão Suicida 2", produção dirigida por James Gunn que estreia em agosto e na qual contracena com Margot Robbie, Idris Elba e John Cena.

LEGADO DE "RAINHA DO SUL".

Agência Efe: Após cinco temporadas de uma série nos EUA, em inglês e com uma protagonista latina, que legado "Rainha do Sul" vai deixar?

Alice Braga: Para mim, na verdade, foi uma honra interpretar a Teresa.

Eu tinha lido o livro cerca de sete anos antes de gravar o episódio piloto (...) O primeiro capítulo foi mais parecido com o livro, mas depois os criadores (da série) escolheram caminhos diferentes para a trama, mas eu sempre adorei a personagem do romance.

Tentei encontrar a personalidade, a alma, a espinha dorsal e a "vibe" da Teresa do livro.

Interpretar uma mulher latina na televisão americana em um momento como este foi uma grande honra. Mas, claro, é uma história sobre narcotraficantes. Acho que temos de contar histórias latinas que não sejam apenas sobre imigrantes e narcotraficantes. Seria bom falar simplesmente sobre personagens que são latinos e têm histórias normais.

Procurei desconstruir nesta série esse jeito de traficante que é mau, que não tem coração, que está sempre matando e que tira vidas sem motivo. Procurei o anti-herói, mas Teresa é a heroína da sua própria vida.

Tentei encontrar o clássico traficante e a violência, porque temos muita ação na série, mas também (mostrar isso) em equilíbrio com a força das mulheres e as formas como elas decidem suas vidas.

FORÇA DE TERESA.

Efe: Você interpreta Teresa Mendoza desde 2016. O que mais vai te fazer falta?

Alice: Acho que a força dela. Ela é uma mulher que quer sobreviver, que não se faz de vítima diante dos problemas que a vida lhe impõe.

No início da série ela é namorada de um traficante, muito ingênua, delicada e um pouco perdida neste mundo. Depois, ela se transforma em uma traficante de sucesso.

Efe: Teresa é uma mulher que se destaca em um mundo dominado por homens. Como ela conseguiu sobreviver e ser bem-sucedida nesse ambiente?

Alice: Graças à sua inteligência (...) Quando Teresa passou por situações de vida ou morte, ela sempre soube como escapar por pensar mais adiante, por pensar no outro, por pensar em possíveis formas de se salvar.

Ela nunca procurou apenas o poder, mas também sobreviver. É um instinto muito primário, muito verdadeiro.

Efe: No primeiro episódio da quinta temporada, Teresa diz que está cansada de fugir e que chegou o momento de se tornar uma caçadora. Estamos diante de uma nova Teresa?

Alice: Ela está muito diferente nesta temporada.

Depois de tudo o que aconteceu na quarta temporada, o fato de ela ter perdido o afilhado e ter tido tantas perdas em sua vida (...) ela se vê num momento de "chega, agora tenho que colocar as minhas cartas na mesa e ser a chefe".

Eu adoro a quinta temporada, porque mostra um arco muito completo de uma mulher que decide sua própria vida desde que era uma criança em Culiacán (México) até se tornar líder de um cartel de drogas, de um negócio gigantesco.

Teresa é a dona de seu próprio caminho: ela criou e escreveu a sua história, e eu adoro isso.

Esta temporada é exatamente sobre isso: ela percebe que as escolhas que fez na vida a levaram até onde está. Ela diz: "Estou cansada de brincar, não quero mais. Agora vou com tudo" (risos).

AMOR BANDIDO?

Efe: A série fala muito sobre violência e vingança, mas há também uma parte romântica: a relação entre Teresa e James (Peter Gadiot). Há espaço para o amor na vida da protagonista?

Alice: É muito interessante, porque o amor sempre foi um tema muito difícil para ela.

Cada vez que ela se apaixonava ou gostava de alguém ou sentia, essa pessoa desaparecia (...) James era como um professor para ela, mas a dificuldade do amor em um negócio como o tráfico de drogas é o que torna você mais frágil, mais suscetível a ser pego pelo coração.

Quando James volta nesta temporada, ele traz muitas informações, e é um pouco lidar com isso, mas é impossível.

Acho que o amor sempre salva, mas é muito difícil em uma série como esta. O mundo das drogas não é muito apropriado para o amor, não é? (risos).