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Luta pelo direito ao aborto é destaque no festival de Sundance

25/01/2022 11h15

Los Angeles, 25 Jan 2022 (AFP) - Com o direito ao aborto sob ameaça nos Estados Unidos, cineastas apresentam no Festival de Sundance três filmes que destacam os riscos históricos que as mulheres enfrentam ao passarem por procedimentos ilegais.

O documentário "The Janes" e o filme repleto de estrelas "Call Jane" retratam o coletivo de mesmo nome que nos anos 1960 ajudava mulheres grávidas em Chicago a entrar em contato com médicos que trabalhavam escondidos, enquanto o premiado drama "Happening" fala sobre uma jovem que arrisca tudo para abortar na França nessa mesma década.

"Tendo vivido essa época, acredite, não queremos voltar a isso", disse Sigourney Weaver, que protagoniza "Call Jane".

O festival traz essas produções no aniversário de 49 anos do caso Roe v. Wade completa, com o qual a Suprema Corte estabeleceu jurisprudência para endossar o direito ao aborto nos Estados Unidos.

Esse direito constitucional está sob ataque, em um momento em que vários estados dominados pelo Partido Republicano aprovam leis que dificultam o acesso a um aborto para as mulheres.

Os defensores do direito ao aborto temem que a atual configuração da Suprema Corte, que inclui três juízes conservadores indicados pelo ex-presidente republicano Donald Trump, restrinja ou até elimine esse direito.

Phyllis Nagy, diretora de "Call Jane", disse que estava "impactada pela necessidade de contar uma história sobre as mulheres que permita outras mulheres se emanciparem, e queria fazer isso com humor, com um toque de leveza, e com certa urgência".

"Acho que há muitos filmes, porque é um tema importante. Isso é extremamente necessário para que o nosso precioso direito de escolha não desapareça de imediato", comentou.

O coletivo "Jane", que surgiu no final dos anos 1960 enraizado nos movimentos dos direitos civis e contra a guerra do Vietnã, operou até 1973, quando o aborto foi legalizado.

Naquela época, voluntários, em sua maioria mulheres, forneciam conselhos telefônicos e ofereciam seus apartamentos para improvisar clínicas. Usavam seus carros para levar as mulheres grávidas e ajudavam quem não tinha recursos, arrecadando dinheiro para pagar por essas operações ilegais.

Algumas das "Janes" inclusive aprenderam a realizar os procedimentos.

"Sem essas mulheres, eu não teria conseguido aproveitar as liberdades das quais desfrutei por toda a minha vida", disse Elizabeth Banks, protagonista do filme.

Vários membros do grupo foram entrevistados para a gravação do documentário da HBO "The Janes", que estreou na segunda-feira.

Entre as entrevistadas está Heather Booth, que fundou o coletivo ao encontrar em médico que atendeu a irmã de uma amiga que começou a ter pensamentos suicidas depois de ficar grávida.

"Até falar sobre fazer um aborto era considerado uma conspiração para cometer um crime", lembra Booth.

Quando a decisão de Roe v. Wade foi anunciada e seu trabalho se tornou desnecessário, vários membros do grupo foram presos e julgados.

"Estávamos emocionados e pensamos que havia acabado. Quem sabia o que viria depois? Pensamos que havíamos vencido", disse outra integrante do grupo, identificada apenas como "Jeanne".

O festival de Sundance, que exibe o melhor do cinema independente, vai até 30 de janeiro.

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