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'Fator Parisi': como uma campanha digital impactou a eleição no Chile

08/12/2021 11h19

Santiago, 8 dez 2021 (AFP) - Sem pisar em território chileno, processado por não pagar a pensão alimentícia de seus filhos e com uma campanha eleitoral feita apenas nas redes sociais, o economista Franco Parisi ficou em terceiro lugar na eleição presidencial e tem hoje uma das principais estratégias para a próxima eleição no Chile.

Com quase 900.000 votos e sem sair do Alabama, sul dos Estados Unidos, onde vive, Parisi continua influenciando o segundo turno de 19 de dezembro, em uma campanha na qual tanto o esquerdista Gabriel Boric quanto o candidato da extrema direita, José Antonio Kast, prestam atenção em como seduzir esses eleitores confusos, principalmente provincianos, que se entregaram ao seu discurso liberal e antissistema.

"Seus eleitores serão cruciais na eleição", disse à AFP o analista político da Universidade de Talca, Mauricio Morales.

No canal do YouTube "Bad Boys", no qual participa junto a outros três influenciadores na internet, Parisi articulou a campanha com a qual obteve 12,8% dos votos e conseguiu deixar em quarto e quinto lugar os candidatos que representavam as tradicionais coalizões políticas de centro-esquerda e centro-direita que governaram o Chile após o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

"O fenômeno real foi que os partidos e as coalizões tradicionais despencaram com seus respectivos candidatos presidenciais, terminando em quarto e quinto lugar. Essa é a grande surpresa e o fenômeno a se estudar", acrescenta Morales, detalhando que a votação de Parisi é parecida com a de sua estratégia eleitoral anterior , em 2013.

Com promessas populistas, Parisi, de 54 anos, se declara distante tanto da esquerda quanto da direita e discursa contra a política tradicional.

Seu discurso pragmático funcionou especialmente com homens jovens, que vivem no norte do Chile, onde existe uma grande massa trabalhadora de mineradores de cobre, e em cidades onde prometeu "colocar ordem" na crise migratória provocada pela chegada de cidadãos majoritariamente da Venezuela.

No Chile, 84% dos homens separados de suas parceiras mantêm dívidas no pagamento da pensão alimentícia de seus filhos, assim como Parisi, segundo dados do Poder Judiciário.

O ex-candidato disse que não pôde ir para o Chile porque um teste PCR deu um resultado "inconclusivo" e depois argumentou que havia contraído coronavírus. Mas são seus problemas com a Justiça chilena, que não permitiria que ele saísse do país, que estariam por trás desta ausência.

Sendo assim, sua campanha eleitoral aconteceu completamente no mundo digital. Não compareceu a nenhum debate; não fez nenhum "de porta em porta", tampouco participou de comícios. Não pendurou faixas nem cartazes nas ruas.

Com uma ampla penetração da internet no país e uma cultura digital melhorada após quase dois anos de pandemia, o sucesso de sua campanha virtual não surpreende os especialistas.

Com o recém-criado "Partido de la Gente", o economista obteve em novembro seis cadeiras no Congresso, uma proeza que transforma essa organização política na mais bem-sucedida na história recente do país.

No entanto, é difícil prever a inclinação de seus eleitores. Com um voto voluntário e várias surpresas em eleições recentes, o analista Axel Callís lembra que no Chile "os eleitores não têm donos há muito tempo".

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