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Lúdica, gráfica e colorida, Dior muda de direção para promover bem-estar

28/09/2021 15h29

Paris, 28 Set 2021 (AFP) - A pandemia trouxe uma mudança radical na nova coleção feminina da Dior: cores vivas, roupas esportivas, silhuetas visíveis e simples inspiradas nos anos 60.

Vestidos com corte trapézio nas cores verde e laranja fluorescente, laços enormes, casacos coral e lavanda, shorts, minissaias e jaquetas estruturadas: a coleção primavera-verão 2022 rompe com o estilo fluido e matizado da diretora artística de moda feminina da Dior, Maria Grazia Chiuri.

A pandemia mudou a maneira como nos vestimos? "Há uma mudança em como nos sentimos, todos nos vemos mais vulneráveis, e cada um responde à sua maneira, alguns querem se isolar e outros vivem intensamente. Para mim, você tem que viver todos os dias", declarou a estilista italiana à AFP.

Para isso, segue os passos de Marc Bohan, diretor artístico da casa nos anos 60, que fez a primeira coleção de prêt-à-porter e esporte, com macacões de esqui confeccionados com materiais "técnicos" da época.

Há várias temporadas, Maria Grazia Chiuri tem procurado repensar a Bar Jacket justa, emblema histórico do New Look de Christian Dior após a Segunda Guerra Mundial, para torná-la mais flexível e solta do corpo.

No entanto, nesta última coleção, a peça esteve totalmente ausente, enquanto Chiuri optou por acentuar a linha "boxy" - quadrada e com uma silhueta menos ajustada.

"Há um trabalho importante na jaqueta. Queria mostrar que não existe só a Bar Jacket" no vocabulário da casa, disse.

- Oficinas-surpresa - A moda esportiva, muito presente na coleção de cruzeiro da marca, apresentada no estádio Panathinaikó, em Atenas, neste verão, chega com tecidos como scuba (neoprene) e trajes inspirados no boliche.

"Durante a pandemia entendemos a importância do esporte, não no sentido de praticá-lo, mas na ideia de se sentir bem. Estávamos presos e tínhamos a necessidade de cuidar de nós mesmos fisicamente", explica Maria Grazia Chiuri.

A nova coleção surpreendeu até mesmo os artesãos da Dior.

"É minimalista, muito geométrico e com tecidos rígidos. Quase não tem bordado. Com relação ao que costumamos fazer, é muito diferente", disse à AFP Pascal Coppin, chefe das oficinas de vestidos e conjuntos soltos.

Os vestidos são, desta vez, estruturados, com bolsos e com muito menos vestidos de noite arejados e esvoaçantes, característica de Maria Grazia Chiuri.

E tecidos técnicos como o neoprene colocam os costureiros à prova: foram necessárias "várias tentativas para conseguir os acabamentos".

- Brincar com a moda -"Gosto muito, é uma mudança radical. É lindo, jovem, otimista", diz Pascal Coppin. "Precisamos disso - das cores - para sair do preto e do azul escuro, para ver estampas quase um pouco brasileiras".

A cenografia do desfile, desenhada pela italiana Anna Paparatti, figura da cena romana dos anos 60, acompanhou a sensação do inesperado, assim como a coleção, entre o "jogo do absurdo" e a performance.

"A coleção nasceu da necessidade de mostrar até que ponto a moda é um jogo com aspectos lúdicos muito importantes, mas também educativos", destaca Maria Grazia Chiuri.

"As pessoas usam a moda como forma de expressão, para brincar, para se representar. No final, a moda é uma grande performance", finaliza.

As modelos desfilaram ao som da música eletrônica do grupo italiano Il Quadro di Troisi, em um palco que girava em torno de uma enorme plataforma circular e escalonada como algo saído de um game show.

Um desfile de ares disruptivos, após praticamente dois anos de confinamento vital devido à pandemia.

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CHRISTIAN DIOR