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Juliette Gréco, a "menina linda" amiga de poetas e músicos

23/09/2020 17h22

Paris, 23 Set 2020 (AFP) - A grande estrela da música francesa Juliette Gréco, célebre intérprete de obras de Léo Ferré e Jacques Prévert, morreu nesta quarta-feira (23) aos 93 anos, anunciou sua família à AFP.

"Juliette Gréco morreu perto dos seus familiares em sua amada casa em Ramatuelle (sudeste de França). Sua vida foi extraordinária", disse à família em um texto enviado à AFP.

Ícone francês, amiga de poetas e músicos, encarnou como poucos artistas o espírito do bairro artístico parisiense de Saint-Germain-des-Prés.

"Ela personificava a elegância e a liberdade (...) Seu rosto e sua voz continuarão a acompanhar nossas vidas", escreveu o presidente francês, Emmnauel Macron, em um tuíte.

"Paixão, combate, amor e diversão intensa", dizia Juliette Gréco para resumir sua própria vida.

Com suas maçãs do rosto salientes, um olhar penetrante com olhos pretos sob os cabelos escuros e belas mãos que moviam-se pelo vestido, a cantora impôs ao palco a imagem de uma dama de preto.

"Sou um palhaça na vida e também gosto de rir. O maior atributo da sedução é o humor, a inteligência, a piada", disse a artista há alguns anos.

Juliette Gréco nasceu em 7 de fevereiro de 1927 em Montpellier, no sul da França. Após a separação dos seus pais, cresceu com sua irmã Charlotte próximo a Burdeos (sudoeste do país) na casa dos seus avós.

Sua infância foi melancólica e ela encontrou na dança o seu refúgio. A guerra obrigou a família a fugir para uma propriedade no Périgord, que serviu de lugar passagem para a resistência aos invasores alemães.

Em 1943, sua mãe e sua irmã foram deportadas e ela própria foi presa na França por uma dezena de dias.

Gréco contou essa parte da sua vida na autobiografia publicada em 1983, "Jujuba".

"Escrever 'Jujuba' foi muito cruel para mim, muito violento. Eu gostava de escrever, mas não gostava de voltar o filme. Não queria que outra pessoa fizesse isso, eu escrevi, não tinha dúvidas", explicou.

No final da guerra, com menos de 20 anos, seu ar rebelde, sua beleza e seus looks seduziram intelectuais e artistas de Saint-Germain-des-Prés em Paris, frequentado com Marguerite Duras, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e com noites animadas no mítico "Le Tabou".

A juventude explode em uma Paris livre, na qual o existencialismo nasce entre as paredes de clubes e cafés.

Juliette Gréco conhece Miles Davis, com quem terá um caso.

Raymond Queneau e Sartre assinam seus primeiros sucessos como cantora, "Si tu t'imagines ..." e "La Rue des Blancs-Manteaux". Com o tempo, ampliou seu repertório com Jacques Prévert, Boris Vian e Charles Aznavour.

A "menina bonita" se apresentou no Olympia, templo da música francesa, pela primeira vez em 1954, e se consagrou.

Depois de um casamento relâmpago com Philippe Lemaire, com quem teve uma filha, Laurence-Marie (que morreu de câncer em 2016, mesmo ano em que Juliette Greco foi vítima de um acidente cardiovascular), na década de 1960 a francesa interpreta os maiores nomes da época: Serge Gainsbourg, Léo Ferré, Jacques Brel e Georges Brassens.

"Conheci as pessoas mais 'maravilhosas' possíveis", reconhecia Gréco.

Atriz por vocação, atuou em "Bonjour tristesse" (1958), dirigido por Otto Preminger. Atuou na novela "Belphégor", que a fez ter sucesso na telinha, em 1965.

Juliette Gréco sobreviveu ao tempo e à moda. Em 2015 fez uma grande turnê de despedida, na qual comemorou seus 89 anos no palco do Théâtre de la Ville, onde teve grande sucesso em 1968, com "Deshabillez-moi".

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