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50 anos sem Jimi Hendrix: em Londres, músico morou em apartamento 'assombrado'

O quarto de Jimi Hendrix e Kathy Etchingham em Londres (Reino Unido) - Reprodução
O quarto de Jimi Hendrix e Kathy Etchingham em Londres (Reino Unido) Imagem: Reprodução

De Londres

17/09/2020 11h50

Atrás de uma porta com maçaneta de porcelana, um apartamento decorado com cores quentes e um certo ar de quarto de estudante. Jimi Hendrix descreveu o lugar como seu primeiro "verdadeiro lar" em Londres, onde sua genialidade musical explodiu e ele morreu há 50 anos.

No bairro de Mayfair, o pequeno prédio branco na 23 Brook Street foi entre 1968 e 1969 a casa do lendário guitarrista, nascido nos Estados Unidos em 1942.

Depois de viver uma infância "muito, muito infeliz" e passar um tempo no Exército, ele "não tinha ideia" do que era um "lar", explica Christian Lloyd, pesquisador especializado em Hendrix.

Hendrix chegou a Londres em setembro de 1966 e mudou de apartamento diversas vezes, até decidir morar com a namorada.

Foi justamente ela quem encontrou seu ninho de amor, embora com esforço.

"Fui a uma ou duas imobiliárias em Mayfair, mas assim que sabiam que era para Jimi Hendrix diziam não", explicou Kathy Etchingham em 2016 ao Channel 4, lembrando o conservadorismo da época.

Jimi Hendrix se apresenta em Woodstock - Allan Koss/Authentic Hendrix LLC - Allan Koss/Authentic Hendrix LLC
Jimi Hendrix se apresenta em Woodstock
Imagem: Allan Koss/Authentic Hendrix LLC

Música alta e fantasma de Handel

Quando finalmente conseguiram, o pequeno apartamento tinha "tapetes cinza" com os quais Jimi não conseguia lidar, então eles foram a uma loja de departamentos na Oxford Street.

Foi justamente a Etchingham a quem recorreram em 2016 para recriar de forma idêntica a decoração do local, desde então transformado em museu, com os seus inúmeros tapetes persas, alguns dos quais precisaram ser mantidos enrolados por falta de espaço.

Na sala, decorada em vermelho, laranja, rosa, há um cinzeiro cheio, xícaras vazias e um jogo de Banco Imobiliário.

O apartamento era cercado por lojas e escritórios, "permitindo que Hendrix tocasse discos no último volume, conectasse sua guitarra e tocasse no meio da noite se quisesse, sem que os vizinhos reclamassem", explica Sean Doherty, diretor do museu.

"Este lugar era um verdadeiro refúgio" para ele, assegura.

Quando o casal se separou e deixou o apartamento em junho de 1969, Hendrix "instruiu seu empresário a vender ou se desfazer do que pertencia a ele", acrescenta. "Não sabemos o que aconteceu com todas essas coisas".

Mais de dois séculos antes, outro gênio musical havia morado no local: Handel. Na verdade, na porta ao lado, no número 25, mas a placa indicando o ilustre ocupante ficava entre os dois prédios, então Hendrix achou que estava morando em sua casa.

"Ambos eram músicos, ambos imigrantes, ambos inovadores", diz Lloyd, relembrando uma anedota que Hendrix uma vez acreditou ter visto o fantasma de Handel em um espelho.

Quando chegou a Londres, o guitarrista tinha 23 anos e era totalmente desconhecido do público britânico.

No avião que o levava para o Reino Unido, ele decidiu mudar o nome artístico de Jimmy James para Jimi Hendrix (seu sobrenome verdadeiro).

"Era o sinal de que iria se reinventar em Londres, onde ninguém sabia quem ele era", disse Lloyd.

Mesmo que isso significasse tomar algumas liberdades em suas primeiras entrevistas, sobre sua idade, sua família ou as razões pelas quais teve que deixar o exército.

"Só queria tocar", explica o pesquisador, que trabalha em um instituto vinculado a Queen's University do Canadá.

Ele então gravou "Hey Joe", o disco "Are You Experienced", e sua ascensão à fama foi fulgurante.

A tecnologia dos estúdios avançava rapidamente e permitia "novos efeitos". Hendrix se destacou então por sua "autenticidade" e essa "orientação futurista só era possível em Londres naquela época", segundo Lloyd.

Como os Rolling Stones ou os Beatles, Hendrix era "uma figura icônica de Londres na década de 1960", uma cidade que "permitiu que ele se tornasse ele mesmo", acrescenta.

O artista morreu em 18 de setembro de 1970 em um hotel de Notting Hill, vítima de um coquetel de drogas e vinho, aos 27 anos.