Bibi Perigosa 2? O que Juliana Paes diz sobre mafiosa de 'Os Donos do Jogo'

Nas palavras de Ju Paes, Leila Fernandez é uma mulher que aprendeu a jogar o jogo dos homens em um universo dominado por figuras masculinas do submundo carioca. Juliana vê a personagem criada por Heitor Dhalia como um reflexo das desigualdades de poder dentro desse ambiente.

É um universo muito patriarcal, machista, onde as mulheres nunca tiveram lugar à mesa. A Leila tenta subverter essa ordem à sua maneira. Existe essa ideia de uma máfia brasileira, mas o que mais me interessa é como o Rio de Janeiro vive essas relações de poder — que também são familiares, de marido e mulher, de pais e filhos. É quase uma monarquia de reis e rainhas que disputam o trono. Juliana Paes

Chico Diaz, que dá vida a Galego, marido de Leila, concorda que o tema da série vai além da criminalidade e explora a complexidade dessa sociedade. "É uma série que causa muitas reflexões... O material tem uma potência enorme. É um personagem shakespeariano, que lida com poder, ambições e também com o destino. Ele acha que tem as rédeas das coisas, mas as coisas também têm rédeas sobre ele".

Rio de Janeiro protagonista

Gravada em locações por todo o estado do Rio de Janeiro, "Os Donos do Jogo" transforma o Rio em um personagem central. Juliana Paes, que é natural do interior do estado, diz que se sentiu "em casa" ao filmar. "A gente grava em lugares que eu conheço muito bem, ambientes em que já estive. Isso ajuda na composição, porque você sabe como as pessoas se comunicam, a linguagem corporal. Ajuda até a ler melhor os outros personagens."

Chico, por sua vez, faz questão de reafirmar que também se sente um carioca — apesar de ter nascido na Cidade do México. "Sou completamente carioca. Cheguei aqui com nove anos, sou capoeirista, malandro"

O Rio é esse lugar de contrastes abissais, de alegria e malandragem, com o samba e os resquícios da escravatura misturados ao império. O jogo do bicho nasce disso. É um material ímpar para a dramaturgia, uma leitura social e antropológica do carioca.

Para o ator, o público internacional vai se surpreender com a representação da cidade. "O Rio está estonteante na série. É o melhor personagem. E não é o Rio de cartão-postal — é o Rio real, com suas contradições. Isso vai despertar uma leitura muito favorável da cidade."

Juliana concorda e reitera que a série também mostra o Rio fora da zona sul. "Existe uma curiosidade sobre esse Rio distante dos cartões-postais. As pessoas de fora sempre quiseram entender como é a vida nas comunidades, nas escolas de samba, nas favelas. E acho que essa curiosidade vai ser aplacada. A série mostra tudo isso de um jeito muito interessante."

"Inimigos íntimos"

No centro da trama que leva o jovem contraventor Profeta (André Lamoglia) a capital carioca, Leila e Galego vivem uma relação intensa, de tensão e (falta de) cumplicidade. Para Juliana e Chico, a química entre os dois foi construída nos detalhes e, principalmente, nos silêncios.

Existem uns silêncios entre eles que a gente gostou de brincar", conta Juliana. "Nem sempre temos chance de trabalhar os silêncios. Mas, para esse casal, eles dizem muita coisa. Falam sobre o mistério que existe entre eles. São inimigos íntimos: se comunicam pelo olhar, e há sempre tensão nesse olhar. Juliana Paes

Chico reflete que entre a confiança e a desconfiança habita um mundo inteiro. "Há um oceano que nos une e nos separa. Trabalhar com a Juliana foi muito gostoso, porque ela é inteligente, sensível. É uma dança, um jogo em cena, cheio de mistério. A cumplicidade acontece mesmo sem ensaio."

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