De camelô a estrela global: a trajetória de Letícia Vieira, de 'Vale Tudo'

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Cria da Baixada Fluminense, a jovem Letícia Vieira estreou na TV aos 26 anos como a Gilda do remake de "Vale Tudo". Mas até pouco tempo ela nem imaginava que poderia estar em uma novela das 9. Pelo contrário, ela nem sonhava que poderia ser atriz.
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Da Baixada a tela da Globo
Natural de Belford Roxo, uma das cidades de menor desenvolvimento socioeconômico do Rio de Janeiro, Letícia não enxergava a arte como um possível ofício. Isso começou a mudar em 2022 quando uma produtora de elenco da Globo enviou uma mensagem pelo Instagram para que ela fizesse um cadastro na emissora. "Sempre gostei de fazer boas fotos e cuidar da minha imagem no Instagram, mas achei que fosse golpe... Eu não fiz o cadastro (risos). Semanas depois, ela mandou de novo, com um teste pra 'Justiça 2'. Foi quando percebi que era sério mesmo."
Em "Justiça 2", ela interpretaria uma jovem periférica que namorava um motoboy — algo que dialogava diretamente com a própria história. "Eu morava na Rocinha e namorava um motoboy. Pensei: 'Isso eu sei fazer'. Mandei o teste, mas não fui chamada. Mesmo assim, fiquei com aquela sensação de que algo tinha mudado. Que era só o começo."

A escalação para a "Justiça 2" não foi para frente, mas rendeu convite para novo teste: "Vermelho Sangue", série que estreou no Globoplay há poucas semanas. Na produção criada por Rosane Svartman e Cláudia Sardinha, ela interpreta uma lobimoça. "Foram nove meninas no workshop. A cada dia caía uma, até que ligaram dizendo que eu tinha passado. Eu não acreditei. A Luna foi minha primeira gravação para a TV e logo como protagonista".
A primeira vez que pisei num teatro foi aos 22 anos. Nunca tinha ido antes. Em Belford Roxo, a cultura é muito escassa. A cidade é feita de mercado, igreja, farmácia... Mas não tem teatro, ONG, incentivo cultural. O meu primeiro contato com a arte foi na igreja evangélica, cantando. Depois comecei a trabalhar com 16 anos, até que, aos 22 para 23, recebi uma proposta de teste pra Globo. E aí tudo mudou. As oportunidades não chegam em Belford Roxo. Eu costumo dizer que é um milagre eu estar fazendo arte vindo de onde eu vim. Como eu ia chegar na Globo, bater na porta e dizer "me dá uma chance"? Não tinha como. Então é um milagre mesmo. Letícia Vieira

Destaque em "Vale Tudo"
Apesar de "Vermelho Sangue" ter estreado em 2025, a série foi gravada bem antes de "Vale Tudo", em 2023. Letícia diz que estar no remake ao lado de Taís Araujo e Matheus Nachtergaele é um privilégio. "A Gilda foi outro presente. Muita gente me para na rua pra falar que se emocionou, que se vê nela. E isso é lindo, porque a Gilda é uma mulher preta, periférica, leal, que sonha. Ela é o retrato de muitas de nós."
Na nova versão da novela, a personagem ganhou outra dimensão — em 1988, era um homem, o Gildo, vivido por Fernando Almeida, com trajetória mais marginalizada. "A Gilda é uma sobrevivente. Ela já errou, já mentiu, mas é movida por afeto. Acho que consegui trazer um pouco da minha doçura pra ela".
A atriz também se orgulha do impacto que "Vale Tudo" tem tido entre os jovens. "É muito doido ver criança de 13 anos pedindo pra assistir à novela. Minha sobrinha maratona 'Vale Tudo'! A novela resgatou um público que não tinha esse costume, e isso é muito bonito."
Eu e a Gilda fomos ambulantes, trabalhamos muito e tivemos nossas 'Raquéis', pessoas que abriram caminhos pra gente. Ela é pau pra toda obra, abraça as oportunidades — e eu também sou assim. Desde os 16 anos, qualquer oportunidade que aparece, eu agarro. Vou com medo, com angústia, com tremedeira, mas vou. Vindo de onde eu venho, não dá pra abrir mão das chances que aparecem.

Protagonismo em "Vermelho Sangue"
A atriz passou por um intenso processo de preparação para viver a personagem, uma mulher que se transforma em loba. "A Luna é uma mulher dividida entre a razão e o instinto. Fiz preparação de corpo, bioginástica, até observei lobos de verdade no Santuário do Caraça, em Minas. Queria entender o olhar deles. O olhar da Luna é muito animal, muito vivo", conta.
Série foi gravada no Santuário do Caraça, no Cerrado mineiro, onde se estuda e se preserva o lobo-guará. "Lá tem a 'hora do lobo'. Às 19h30, ele aparece nas escadas pra se alimentar. Eu ficava todo dia esperando pra observá-lo. Ele é calmo, assustado, respeitoso. Isso me inspirou.
Logo no primeiro episódio, uma cena chama atenção: Letícia aparece totalmente nua correndo em um túnel. "Fecharam o túnel pra gente gravar. Tinha carro, moto, figuração, e eu completamente nua, correndo no túnel. Foi libertador! (risos) Eu até brinquei com o pessoal do Globoplay: "Um dia vou contar pros meus filhos que corri nua no Túnel 450 [no centro do Rio]. Foi uma experiência única".
Nas cena da transformação, quis mostrar a dor de virar outra coisa. Gravamos várias vezes, foi exaustivo. Eu gritava, me contorcia, mas valeu a pena. Letícia Vieira







































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