'Vale Tudo' foi só o começo: a trilogia de Gilberto Braga sobre honestidade

"Vale Tudo" não foi a única novela de Gilberto Braga a levantar a pergunta: vale a pena ser honesto num país onde todo mundo é desonesto? O autor explorou temas ligados à ética e à moral brasileira também em outras duas tramas.

O que aconteceu

A trilogia — "Vale Tudo" (1988), "O Dono do Mundo" (1991) e "Pátria Minha" (1994) — nasceu de uma provocação ouvida em um jantar de família. Na ocasião, Braga escutou de um parente que seu padrinho, um delegado conhecido como "policial não corrupto", era "medíocre e babaca" por não ter enriquecido no cargo. Afinal, outros delegados da fronteira de Foz do Iguaçu (PR) e Belém (PA) haviam ficado ricos e comprado apartamentos na Avenida Vieira Souto, um dos endereços mais caros do Rio de Janeiro.

'Vale Tudo' nasceu da figura desse padrinho e dessa distorção de que quem não é corrupto é babaca. Única novela que não nasceu de uma história, mas sim de uma temática: vale a pena ser honesto num país onde todo mundo é desonesto? Tenho muito orgulho em saber que ele [meu padrinho] não foi corrupto. Gilberto Braga ao Memória Globo

Gloria Pires, Beatriz Segall e Regina Duarte em 'Vale Tudo'
Gloria Pires, Beatriz Segall e Regina Duarte em 'Vale Tudo' Imagem: Divulgação/Globo

"Vale Tudo", agora recontada por Manuela Dias, tornou-se um marco na teledramaturgia brasileira. A novela é lembrada por ter mudado a forma de se fazer TV e por popularizar o "quem matou", a partir do assassinato da vilã Odete Roitman (Beatriz Segall). A personagem se tornou símbolo da desigualdade social do país com suas falas elitistas e preconceituosas. A trama foi escrita ao lado de Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, e acompanhava o embate entre uma mãe honesta, Raquel (Regina Duarte), e sua filha ambiciosa, Fátima (Gloria Pires), em plena redemocratização e sob a nova Constituição Federal.

Anos depois, Braga retomou o mesmo dilema moral em "O Dono do Mundo", abordando a dignidade e a cidadania no Brasil contemporâneo. A história acompanha o renomado e arrogante cirurgião plástico Felipe (Antonio Fagundes), que faz uma aposta com um amigo no dia do casamento de Walter (Tadeu Aguiar), seu funcionário. Em troca de uma caixa de champanhe, promete que vai transar com a noiva virgem do rapaz antes dele. A novela foi escrita em parceria com Leonor Bassères, Ângela Carneiro e Ricardo Linhares.

Antônio Fagundes e Malu Mader em 'O Dono do Mundo'
Antônio Fagundes e Malu Mader em 'O Dono do Mundo' Imagem: Divulgação

Em 1994, Gilberto Braga manteve o olhar crítico sobre o país em "Pátria Minha". A trama tinha quatro histórias centrais, e uma delas mostrava o confronto entre a estudante idealista Alice (Cláudia Abreu) e o poderoso empresário Raul Pelegrini (Tarcísio Meira), dono de um conglomerado envolvido em negócios escusos. A novela também tratou da discriminação racial, reforçando a tradição do autor em unir crítica social e drama humano.

Continua após a publicidade
Lima Duarte interpreta Sassá Mutema na novela 'O Salvador da Pátria'
Lima Duarte interpreta Sassá Mutema na novela 'O Salvador da Pátria' Imagem: Divulgação

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.