Fórmula do mistério: por que o 'Quem Matou Odete Roitman' não sai de moda?

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Entramos na reta final de "Vale Tudo" e só se fala de uma coisa: quem matou Odete Roitman?
A pergunta de milhões gera assunto nas redes sociais, nas rodas de amigos e nos almoços de família, tudo porque se tem uma coisa que o público gosta é de um bom mistério. Marco Aurélio? Heleninha? Ou será que foi a Fátima? A verdade é que saberemos apenas nos últimos minutos da novela e, até lá, cada um de nós se sentirá o próprio Sherlock Holmes.
Essa fórmula de sucesso de mistérios tem um próprio: whodunit (também grafado como whodunnit), e tem sido cada vez mais usado no meio do entretenimento para categorizar este tipo de narrativa. O termo pode parecer novo para o público, mas é a maneira correta de chamar um subgênero do suspense que existe há muito tempo.

O que é whodunnit?
Também conhecido como "who [has] done it" ("quem fez isso?", em português), este gênero de ficção apresenta um crime - geralmente um assassinato - desvendado por um detetive. O grande atrativo está em acompanhar a investigação: analisar suspeitos, criar teorias e, é claro, aguardar o desfecho revelador.
A identidade e os motivos do verdadeiro culpado são o clímax da trama, cabendo ao autor manter o público intrigado até o último instante. Os detetives costumam ser figuras excêntricas, o que adiciona humor e permite soluções engenhosas.
Um recurso clássico é o "red herring" (pista falsa), inserido para desviar a atenção e semear dúvidas, fazendo com que o público suspeite de vários personagens antes de descobrir o verdadeiro vilão.

Nas novelas
A teledramaturgia brasileira soube como ninguém incorporar a estrutura do whodunit para criar momentos de pura histeria coletiva e engajamento popular. O frenesi em torno de Odete Rotiman não é nada novo: em 1988, durante a exibição da primeira versão de "Vale Tudo" o país parou para tentar desvendar quem matou a ricaça. O mistério durou apenas 13 capítulos, mas foi o suficiente para mobilizar plateias, virar capa de revista e pautar conversas em todos os cantos. Para evitar vazamentos, a Globo gravou cinco finais diferentes no mesmo dia da exibição — um verdadeiro golpe de mestre em storytelling televisivo. O mesmo aconteceu com a nova versão.
Esse formato seguiu vivo e eficaz. Títulos como "A Indomada" (1997), "Celebridades" (2003), "Avenida Brasil" (2012) e "O Sétimo Guardião" (2018) também apresentaram mistérios que prenderam o público curioso às narrativas.

Na literatura
No universo do romance policial, o whodunit é um dos pilares da literatura de gênero, consagrando autores que se tornaram imortais através de suas tramas e personagens. Sir Arthur Conan Doyle deu ao mundo, em 1887, a figura icônica de Sherlock Holmes, que surgiu em "Um Estudo em Vermelho" e se tornou, séculos depois, o personagem humano mais adaptado da história — recorde certificado pelo Guinness World Records. Sua influência permanece viva em produções como "Sherlock" (BBC, 2010), estrelada por Benedict Cumberbatch, que revitalizou o detetive para uma nova geração, ao lado de Martin Freeman como o leal Dr. Watson.
Do outro lado do espectro britânico, temos Agatha Christie, a rainha do crime. Nascida em 1890, a autora criou dois dos mais astutos "solucionistas" de mistério: o metódico Hercule Poirot e a sagaz Miss Marple. Suas histórias, marcadas por engenhosos whodunits, continuam a inspirar adaptações de sucesso, como "Assassinato no Expresso do Oriente", refilmado em 1974 e 2017, comprovando a perenidade de seu legado.
A tradição do mistério investigativo, no entanto, não se restringe aos clássicos. Autores contemporâneos como Harlan Coben, Stieg Larsson e Gillian Flynn mantêm a chama acesa, com tramas complexas e personagens ambíguos que frequentemente migram para as telas. E no Brasil, nomes como Raphael Montes, Tony Bellotto, Gustavo Ávila e Victor Bonini vêm construindo uma cena nacional robusta de romance policial, provando que boas histórias de crime são, de fato, universais.

No cinema
Assim como na literatura, o cinema abraçou com força o subgênero, seja por meio de adaptações de clássicos — como as incontáveis versões de Sherlock Holmes e Hercule Poirot —, seja por meio de roteiros originais, criados especialmente para as telas.
Um marco recente foi "Entre Facas e Segredos" (2019), dirigido e escrito por Rian Johnson. O filme não só cativou o público, como conquistou uma rara indicação ao Oscar de melhor roteiro original - um reconhecimento incomum para o gênero, frequentemente negligenciado pela Academia. Com Daniel Craig no papel do detetive Benoit Blanc, a trama investiga a morte de um famoso escritor e revitaliza o whodunit com estilo e inteligência. O sucesso foi tão grande que, em 2022, a sequência "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" foi lançada, sendo indicada novamente ao Oscar - desta vez, de roteiro adaptado - e segue a mesma premissa de saber "quem matou?". Agora, em 2025, um terceiro filme será lançado.
Já "Os 7 Suspeitos" (1985), dirigido por Jonathan Lynn, trouxe uma abordagem lúdica e inovadora: inspirou-se não em um livro, mas no clássico jogo de tabuleiro "Detetive". A trama segue a mesma premissa interativa - descobrir o assassino, a arma e o local do crime -, transportando para o cinema a experiência de um mistério participativo e repleto de pistas.

E a receita não perde o fascínio. Quando bem construído, o whodunit consegue transformar o espectador em detetive, estimulando a criação de teorias, alimentando debates e gerando aquela sensação gostosa de "eu sabia!" ou "não acredito que errei!". Colocar o público na trama, com a chance de resolver o enigma ao lado dos personagens, é uma das formas mais inteligentes e imersivas de contar histórias. E no fim, a surpresa — seja ela qual for — é que guarda a maior das recompensas.
Que venham os próximos mistérios. O público agradece — e espera ansioso pela próxima charada.



























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