'Morte e Vida Madalena' é comédia que nos lembra de rir da própria desgraça
Colaboração para Splash, em São Paulo
19/09/2025 19h00
"Morte e Vida Madalena" foi o filme escolhido para abrir a mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que acontece até amanhã.
A comédia do cearense Guto Parente acompanha uma produtora grávida que tenta finalizar um filme de ficção científica escrito por seu falecido pai, enquanto enfrenta dificuldades da vida pessoal e profissional. "É um filme delicioso, que nos faz acreditar na comédia", avalia Flavia Guerra no videocast Plano Geral desta quarta-feira. "E, ao mesmo tempo, tudo o que está ali é dramático. O humor é isto: acreditarmos na bagunça em que está vivendo e rir da própria desgraça".
Em entrevista, a atriz Noá Bonoba, que interpreta a protagonista, concorda com a crítica. "O humor vem da crença no drama total da personagem. É preciso acreditar nesse drama para que a situação seja risível. Quanto mais você acredita naquela situação, que é completamente absurda e real, mais engraçado fica", diz.
Segundo o diretor, o filme é um exemplo de como a arte nos ajuda a pensar no ser humano e no seu lugar na humanidade. "O cinema é uma arte excepcional para exercer a alteridade, porque nos permite mergulhar em um universo completamente diferente", diz.
O cinema é um lugar de aprendizado e de crescimento espiritual, intelectual, de transcendência. Na minha relação, é quase como uma religião Guto Parente
'O Agente Secreto' foi opção certeira para o Oscar
A Academia Brasileira de Cinema elegeu "O Agente Secreto" (Kleber Mendonça Filho) como o representante do Brasil para disputar a categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2026 — a mesma que, no ano passado, trouxe a primeira estatueta para o país por "Ainda Estou Aqui".
O filme da vez narra um professor (Wagner Moura) que, em 1977, decide fugir de seu passado violento e misterioso. Ele se muda então para Recife com a intenção de recomeçar —mas começa a ser espionado pelos vizinhos.
No videocast, o jornalista Vitor Búrigo avalia a escolha pelo filme para nos representar como "certeira". "Tivemos seis filmaços [em disputa] que nos representariam muito bem. Falou-se muito na disputa entre "Manas" (Mariana Brennand Fortes) e o "O Agente Secreto", mas parece que esqueceram de outros filmes também muito premiados, como "O Último Azul" (Gabriel Mascaro), nosso grande vencedor do Festival de Berlim, e como "Baby" (Pedro Sotero), "Kasa Branca" (Luciano Vidigal) e "Oeste Outra Vez" (Erico Rassi)", diz.
Segundo Vitor, a escolha não desqualifica os demais filmes. "Todos eles nos representariam muito bem — mas lembremos que já tivemos anos em que filmes como "Que Horas Ela Volta" (Anna Muylaert) e "A Vida Invisível" (Karim Aïnouz) também não passaram [para o Oscar]".
Na minha opinião, essa foi a escolha mais certa. Foi certíssima (...) A escolha é pensada não só pela qualidade do filme, mas por toda a sua trajetória internacional — e 'O Agente Secreto' foi o filme mais premiado no Festival de Cannes, aparecendo desde março nos jornais. Eu tenho a impressão de que é o filme internacional mais falado até agora Vitor Búrigo
Agora, o filme entra em um "longo caminho", diz o jornalista. A lista oficial de filmes selecionados para competir no Oscar costuma ser divulgada apenas em janeiro, enquanto a premiação acontecerá em março de 2026.
Festival de Toronto reforça previsões ao Oscar
O Festival Internacional de Cinema de Toronto encerrou sua 50ª edição no último dia 14, colocando em voga os favoritos para disputar o Oscar 2026. "O festival é um grande termômetro para o Oscar", indica Vitor Búrigo.
"Hamnet", filme da diretora Chloé Zhao ("Nomadland"), foi o grande vencedor do festival, escolhido por voto popular. O filme é uma adaptação do livro homônimo de Maggie O'Farrell e narra a vida de William Shakespeare e sua esposa, que passam por um luto pela morte de seu filho. "Com certeza virão várias indicações para o filme no Oscar", avalia a crítica Flavia Guerra, destacando Paul Mescal como Melhor Ator.
Outra aposta da jornalista é "Frankenstein" (Guillermo del Toro), filme que ficou logo atrás de "Hamnet" na votação popular, e que revive a história do cientista que deu origem a uma criatura monstruosa, levando à sua ruína.
O thriller sul-coreano "No Other Choice" (Park Chan-wook), por sua vez, venceu o prêmio do público internacional, o que alavanca sua carreira para disputar Melhor Filme Internacional, possivelmente ao lado do Brasil. "E ele merece essa vaga", avalia Flavia.
Em segundo lugar nesta categoria, foi eleita a comédia dramática norueguesa "Sentimental Value" (Joachim Trier), que explora as relações de família, com foco em um pai e suas duas filhas adultas.
"O Agente Secreto" também chegou a ser exibido em sessão especial do festival, sendo ovacionado pelo público e elogiado pela crítica.
Apresentado por Flavia Guerra e Vitor Búrigo, Plano Geral é exibido às quartas-feiras, às 11h, no canal de Splash no YouTube e na home do UOL, com as principais notícias sobre cinema e streaming. Você pode ainda ouvi-lo no Spotify, Apple Podcasts e Google Podcasts.