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Silvetty lamenta sumiço de palcos LGBT+: 'Poucos lugares para trabalhar'

Silvetty Montilla ícone da cena drag brasileira Imagem: Divulgação

De Splash, em São Paulo

21/06/2025 05h30

Ícone da cena drag brasileira e uma das vozes mais potentes do movimento LGBTQIA+, Silvetty Montilla está de volta ao posto de apresentadora oficial da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo em 2025.

A artista, que recentemente enfrentou sérios problemas de saúde, vê o tema "Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro" como uma pauta urgente e necessária, que talvez tenha demorado a chegar.

Fiquei muito feliz com esse tema. A gente sabe que envelhecer no nosso país já é difícil, ainda mais sendo LGBT. Precisava ter um tema como esse para lembrar quem abriu portas, quem veio primeiro e fez tudo isso acontecer. Resgatar e respeitar quem veio antes. Silvetty, em entrevista a Splash

Silvetty foi apresentadora da Parada por 18 anos e, agora, retorna ao comando do evento. "Me afastei da apresentação, mas não me afastei da Parada. Eu sempre estava lá. E esse ano, com esse tema, eles me chamaram novamente. Não teve briga, não teve nenhum tipo de confusão".

'Antigamente só vivíamos em guetos'

Silvetty Montilla é voz potente do movimento LGBTQIA+ Imagem: Divulgação/ Silvetty Montilla

Ela recorda a primeira edição da Parada, em 28 de junho de 1997. "Nós éramos duas mil pessoas, se tivesse isso", diz. De lá para cá, Silvetty vê avanços significativos. "Nós, antigamente, só vivíamos em guetos. Hoje nós estamos na TV, em festas de família, no teatro, na rádio. Hoje a gente está em tudo."

Mas a artista também faz questão de pontuar que a luta continua. "O preconceito não acabou. Ele está bem maquiado, e a gente vai avançando de pouco em pouco", reflete. Ao comentar sobre propostas de lei que buscam proibir menores de idade no evento, Silvetty relembra um episódio marcante:

Uma vez, uma repórter perguntou para um pai por que ele levou o filho pequeno. E o pai respondeu: 'Para ela crescer sem preconceito'. Achei aquilo lindo. Todo mundo tem o direito de estar onde quiser.

'Temos poucos lugares para trabalhar'

Silvetty Montilla fala sobre desafios de envelhecer no Brasil Imagem: Keiny Andrade/UOL

Nome lendário da noite paulistana, Silvetty fala com franqueza sobre as mudanças no cenário de shows em São Paulo. "Já foi a capital que mais teve casas noturnas. Hoje temos duas casas de show com apresentação de drag: a Túnel e a Blue Space", lamenta. Muitas fecharam após a pandemia de Covid-19.

Não é fácil. Hoje, nós temos poucos lugares para trabalhar. Tem umas [drags] que correm atrás, viram DJ, mas não é como antigamente, que a gente tinha muitas casas e uma facilidade maior para trabalhar.

A própria artista, que já chegou a fazer até nove shows em uma única noite, hoje adota um ritmo mais cuidadoso, após enfrentar problemas de saúde como diabetes e complicações renais. Ela também comemora a quarta temporada do reality "Academia de Drags", programa que apresenta na internet.

Hoje eu faço show onde eu quero, para quem eu quero e na hora que eu quero. Em primeiro lugar é minha saúde, em segundo lugar é minha saúde e em terceiro lugar é minha saúde.

Mesmo reconhecendo a importância da internet para a carreira de artistas atuais, Silvetty confessa que não tem tanta afinidade com o mundo digital. "Sou da época do curso de datilografia", brinca. Mas celebra o sucesso das novas gerações: "Se na minha época tivesse internet, a gente estava rico".

'O palco para mim é vida'

Apresentação da drag queen Silvetty Montilla na casa de show Nostro Mondo Imagem: Jefferson Coppola/Folhapress

Um dos momentos mais emocionantes da conversa foi quando a drag relembrou o show beneficente realizado por amigos na Blue Space —casa noturna tradicional em São Paulo—, durante um período delicado de internação, em março deste ano. Mesmo hospitalizada, ela fez questão de comparecer ao evento.

Eu estava internada, pedi alta para o meu médico, ele não queria me liberar. Mas eu fui. Estar ali, com aquela energia, foi o remédio que eu precisava. Depois daquele dia, nunca mais precisei usar oxigênio.

Silvetty segue na fila de transplante de rim, mas encara o futuro com fé. "Eu sou uma pessoa muito religiosa. Acho que tudo tem seu momento. Quando Deus permitir, vai acontecer". Ao final da entrevista, ao falar sobre sua relação com o público, ela é direta: "O palco para mim é vida".

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