'Meu corpo parou e eu me vi adoecido': o desabafo de Lázaro Ramos na Bienal

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Lázaro Ramos, 46, relembrou o episódio de burnout que teve em 2024 e fez um desabafo hoje, durante a Bienal do Livro, no Rio.
O que aconteceu
Ator de novelas, Lázaro se encontrou com Edvana Carvalho, Gabz e Bukassa Kabengele em um papo sobre as suas obras literárias. As jovens Duda e Helena Ferreira, conhecidas como Pretinhas Leitoras desde a infância, também participaram do painel. Todos destacaram trechos das obras de Lázaro que dialogam com suas vidas em um forte debate contra o racismo.
Na conversa, Lázaro Ramos compartilhou uma confissão particular sobre adoecimento emocional recente, causado por um período intenso de trabalho, como revelou anteriormente, e por absorver as "dores do mundo" — em especial, as que atingem as pessoas negras. "Uma das coisas que me fez adoecer no ano passado foi porque estava ouvindo os problemas das pessoas, do mundo e eu processava como se fosse comigo. Eu tinha sensações físicas, mentais, pensamento... Não conseguia distinguir um pensamento do outro. Eram quatro coisas ao mesmo tempo".
Até que uma hora o meu corpo parou e eu me vi adoecido. O fantasma me pegou. Lázaro Ramos
Ao falar diretamente com a atriz Gabz, 26, Lázaro expressou admiração por entender que a nova geração sabe se posicionar, mas sem esquecer o autocuidado. "A sua geração, Gabz, eu vejo uma coisa linda. Vocês se posicionam, mas vocês pensam também no bem-estar. Então, talvez a grande pergunta que eu tenho para vocês é assim: 'Agora que vocês estão em busca da cura, qual é a sua expectativa para próxima geração?'"
Entre os livros citados, estiveram "Na minha pele" (2017), "Na nossa pele: continuando a conversa" (2025) e "Sinto o que sinto: Um passeio pelos sentimentos Lázaro Ramos". Em comum, as vivências do ator enquanto um homem negro. "O que você faz nesses livros também é 'escrevivência'. Você fala de você, mas também narra experiencias de outras pessoas [pretas]", destacou Edvana Carvalho, citando o conceito de Conceição Evaristo — trata-se da escrita que nasce da própria vivência, da experiência de vida, da história de alguém, especialmente de mulheres negras, em um contexto social marcado por desigualdades e preconceitos.
Lázaro relembrou ainda o início da carreira no Bando de Teatro Olodum, ao lado de Edvana, e destacou uma função do humor: ele também serve para combater o racismo. "Me deu a compreensão da minha função no mundo como um menino preto, aos 15 anos, enfrentando todos os dilemas que vivia, de ser um menino preto em uma escola de maioria branca. O Bando me traz ferramentas para enfrentar, me deu arte... Vem o humor como ferramenta. A gente ria muito, a gente zoava um com o outro. Também usava isso dentro de cinema".
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