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Artista critica vinda de cruz da 1ª missa no Brasil: 'Quanto sangue viu?'

A cantora e compositora indígena Kaê Guajajara criticou a vinda da cruz da primeira missa celebrada no Brasil em 1500. A relíquia saiu de Braga, em Portugal, e chegou em São Paulo nesta semana para o aniversário de 525 anos da celebração católica no Sul da Bahia.

O que aconteceu

A artista fez um vídeo para falar da chegada do objeto no Brasil — dias antes do Dia dos Povos Indígenas, no próximo sábado (19): "A gente segue dependendo do povo para que compartilhem nossas narrativas apagadas (...) e reescrever a história dessas terras que sempre sangraram desde 1500", escreveu Kaê na legenda da publicação para os 197 mil seguidores no Instagram.

Na gravação, que soma 276 mil visualizações apenas em uma rede social, Kaê diz que o Brasil "é a prova de que não adianta o tempo passar": "Eu fico me perguntando o quanto de sangue essa cruz já não deve ter visto e o quanto de corpos já não tombaram sobre a sombra dela, sem que o céu sequer tremesse".

Ela disse ser difícil acreditar que pessoas vão em direção ao objeto sem reflexão do que ele simboliza — como o genocídio indígena e imposição de fé: "Essa cruz não trouxe fé, ela trouxe imposição, catequese, sangue derramado, e homenagear ela hoje é perpetuar uma injustiça histórica contra os povos indígenas, mascarando o genocídio com um verniz religioso".

Essa narrativa, contada sempre do ponto de vista do colonizador, sempre transforma símbolos de violência em orgulho nacional. Povos indígenas seguem lutando, resistindo a tudo isso. A verdadeira justiça não está em erguer cruzes, está justamente em reconhecer as vozes que foram silenciadas, que foram apagadas e devolver o espaço a elas. Reverenciar essa cruz sem ouvir as pessoas que resistiram a ela é manter o silêncio como uma ferramenta de opressão. Kaê Guajajara, cantora, compositora e ativista indígena


A relíquia, que pertence ao Museu da Sé de Braga, em Portugal, chegou em São Paulo na terça-feira (15), e vai passar em peregrinação por outros cinco estados: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pará e Bahia, no local onde teria sido celebrada a primeira missa.

Uma missa utilizando a cruz foi rezada nesta semana pelo cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, na Catedral da Sé, centro da capital paulista. "Hoje temos a alegria de acolher aqui uma relíquia muito importante para a história do Brasil e para a Igreja do Brasil", disse Scherer, segundo o Estadão.

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"A primeira missa celebrada no Brasil, em 26 de abril de 1500, na Praia de Coroa Vermelha, Aldeia do Descobrimento, município de Santa Cruz Cabrália, na Bahia, é amplamente reconhecida como marco fundacional da história nacional", diz o Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, um dos responsáveis pela peregrinação, junto ao Movimento Brasil com Fé e o Instituto Redemptor.

"A cruz original, atualmente preservada no Museu da Sé de Braga, em Portugal, transcende seu significado religioso, simbolizando amor, união e interconexão entre povos", afirma o Santuário.

*Com informações do Estadão (15/04/2025)

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