Spam dos DVDs e alfinetada em Blanchett: as campanhas polêmicas ao Oscar

A campanha de "Emilia Pérez" ao Oscar se tornou um imbróglio complexo nas últimas semanas. A atriz Karla Sofía Gáscon acusou a equipe de Fernanda Torres de orquestrar uma campanha difamatória contra ela e, pouco depois, viu-se envolvida em um escândalo por mensagens racistas que postou em seu perfil no X (ex-Twitter).
Essa não é a primeira vez que estrelas brigam pela atenção dos votantes da Academia e pela estatueta dourada no final. A seguir, relembre outros "arranca-rabos" hollywoodianos.
2023: Michelle Yeoh alfinetou Cate Blanchett

Muitas vencedoras brancas. Durante sua campanha pelo Oscar de Melhor Atriz em 2023, que ela acabou vencendo pelo filme "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", Michelle compartilhou nas redes sociais partes de uma matéria da revista Vogue americana. O título questionava: "Tem mais de duas décadas que tivemos uma vencedora não branca do Osca de Melhor Atriz. Isso mudará em 2023?".
"Queremos ser vistas". O conteúdo do texto também mencionava que a concorrente, Cate Blanchett, já possuía duas estatuetas em casa. Na legenda, Michelle observou: "Isso não é apenas para mim, mas para cada garota que se parece comigo... Queremos ser vistas. Queremos ser ouvidas."
Publicação foi apagada. A postagem dividiu opiniões e parte do público a viu como uma violação de uma regra da Academia do Oscar que proíbe táticas de campanha que citem expressamente nomes de concorrentes. Temendo uma desqualificação da corrida, Michelle apagou a publicação.
2023: Celebridades entraram na briga por Andrea Riseborough

"A Sorte Grande" entrou na corrida pelo Oscar como um filme pouco comentado, apesar do sucesso de crítica. O diretor Michael Morris decidiu que o melhor caminho para garantir uma indicação a Andrea Riseborough na categoria de Melhor Atriz era usar as amizades de sua bem relacionada esposa, Mary McCormack.
Atriz conseguiu uma série de elogios públicos, com direito a tuítes parecidos. Além disso, sessões do filme foram organizadas por celebridades ou contaram com a presença de estrelas como Charlize Theron, Gwyneth Paltrow, Edward Norton, Amy Adams e Kate Winslet, que se derretiam ao dizer como "um filme pequeno tinha tanto coração".
No fim, Andrea foi indicada por um filme de lançamento limitado que rendeu apenas US$ 27 mil de bilheteria, segundo a revista Town and Country. Mas a estratégia foi exposta por internautas no Reddit dias depois, que notaram a semelhança da linguagem nos elogios dos famosos. Assim, a Academia disse que revisaria a indicação, mas acabou mantendo-a.
2019: O "disco riscado" de Lady Gaga

Lady Gaga estava tão determinada a levar um Oscar por "Nasce Uma Estrela" que decidiu repetir o mesmo discurso em toda entrevista que dava. A cantora e atriz afirmou tantas vezes que "pode haver cem pessoas em uma sala e 99 delas não acreditar em você, tudo o que você precisa [para vencer] é uma" que acabou se tornando um meme.
Gaga perdeu o Oscar, mas levou a estatueta de Melhor Canção Original por sua faixa "Shallow" na trilha. Isso não diminuiu sua determinação —ou a fez mudar de estratégia.
Em 2022, em campanha por "Casa Gucci", ela voltou a repetir histórias. Desta vez, eram contos de como ela viveu como sua personagem, Patrizia Reggiani, por um ano e meio, falou com seu sotaque por nove meses, escreveu uma biografia de 80 páginas da vida da assassina e que Patrizia havia mandado mosquitos para segui-la no set no último dia de filmagem. Mas dessa vez ela não levou nem a indicação.
2014: E-mail custou a indicação do concorrente de "Frozen"

Em 2014, havia claramente uma favorita na corrida de Melhor Canção Original: "Livre Estou", de "Frozen". Por isso, Bruce Broughton, um dos compositores de "Alone Yet Not Alone", do filme "Indestrutível", decidiu realizar uma campanha mais agressiva para garantir a indicação.
E-mail para membros da área de música do Oscar estragou tudo para o concorrente. Broughton aproveitou suas conexões como ex-governador da Academia do Oscar e enviou um e-mail para os membros da área de música e pediu que ouvissem a música. Ele conseguiu a indicação, mas quando a direção soube da ação de um de seus executivos e antigo chefe, a indicação foi retirada para evitar a perda de credibilidade da Academia.
2011: Ensaio desesperado do próprio bolso de Melissa Leo
MELISSA LEO "CONSIDER" CAMPAIGN YOU WILL ALWAYS BE FAMOUS!!!!!!!! https://t.co/GbLdoy5uTY pic.twitter.com/DFYdCd3wbt
-- bru* (@holyhuppert) January 18, 2025
Atriz pagou ensaio. Mesmo sendo a favorita ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2011, por sua performance em "O Vencedor", Melissa Leo decidiu garantir a estatueta sozinha. Ela pagou, do próprio bolso, por um ensaio em que ela posava com um vestido de festa e peles fake. No topo do anúncio, uma simples mensagem aos votantes da Academia: "Considerem".
Não é tradicional que atores e atrizes tomem a frente de suas campanhas. Mas, temendo ser deixada de lado por ser uma atriz mais madura, ela informou aos seus empresários e assessores o que estava disposta a fazer, contou ao site Deadline, sem arrependimentos. Melissa queria garantir que teria as melhores chances possíveis de vencer e por isso resolveu surpreender, subvertendo a imagem que a indústria tinha de mulheres mais velhas. Deu certo.
2006: O spam dos DVDs

"Crash", de Paul Haggis, não era o favorito ao Oscar de Melhor Filme daquele ano, com todos os holofotes sobre "O Segredo de Brokeback Mountain". Mas a distribuidora Lionsgate Films resolveu que queria conquistar o maior bloco de votantes da Academia: os atores.
Empresa gastou US$ 4 milhões para enviar 100 mil DVDs do seu filme às estrelas da Academia. A ideia era lembrar a todos o quanto o filme tinha sido aclamado pela crítica. No fim, Jack Nicholson ficou chocado ao anunciar que o vencedor era "Crash". Nem ele esperava pelo sucesso do spam.
2003: A campanha suja nos jornais por Scorsese

Harvey Weinstein era famoso por pegar pesado nas campanhas de seus filmes. Em 2003, o fundador da produtora Miramax que hoje cumpre pena por estupros e abusos de atrizes estava determinado a conseguir o primeiro Oscar de Martin Scorsese.
Ele pagou por anúncios com manchetes sensacionalistas em grandes jornais. "Vencedor de dois Oscar, Robert Wise declara que Scorsese merece o Oscar por 'Gangues de Nova York'", dizia um. Os comentários eram retirados de um editorial de outro jornal, o Los Angeles Times, para o qual Wise teria escrito uma coluna opinativa. No entanto, o presidente da Academia da época, Frank Pierson, considerou que os anúncios violavam as regras da Academia.
Um consultor de publicidade da Miramax confessou que rascunhou o texto do editorial supostamente escrito por Wise. No entanto, ele afirmou que o próprio diretor pediu a ele. Após o escândalo, a Academia mexeu em seu regulamento para banir qualquer forma de propaganda que incluísse aspas ou comentários de membros votantes. Scorsese seguiu sem seu Oscar por mais quatro anos.
2002: O boato homofóbico e antissemita que saiu pela culatra

Em 2002, o alvo da boataria e conspiração não era o ator, mas o retratado de um filme favorito: o matemático e vencedor do Nobel, John Nash. Ron Howard retratou sua batalha contra a esquizofrenia no popular filme "Uma Mente Brilhante", em que ele era interpretado por Russell Crowe, e claramente parecia à frente na disputa por indicações.
No entanto, uma campanha difamatória, cuja origem jamais foi identificada, começou a circular mensagens de que Nash era antissemita e gay. O recluso matemático teve que ir até o programa "60 Minutos" negar as acusações. Após o filme receber oito indicações, o boato perdeu tração, mas voltou a ganhar força durante a fase final de votação. Mesmo assim, "Uma Mente Brilhante" levou a estatueta de Melhor Filme, e Ron Howard a de Melhor Diretor.
1999: O fatídico "roubo" de Fernanda Montenegro

Jogo sujo de Harvey Weinstein? Apesar de o alvo da campanha difamatória do produtor não ter sido Fernanda Montenegro, o resultado da estratégia dele tirou da brasileira a chance histórica de levar a estatueta de Melhor Atriz por "Central do Brasil", ou ainda de ver a favorita, Cate Blanchett, contemplada por "Elizabeth". Gwyneth Paltrow e seu "Shakespeare Apaixonado" levaram os Oscar de Melhor Atriz e Melhor Filme de 1999.
Boatos financiados por Weinstein detonaram outro favorito do ano: "O Resgate do Soldado Ryan", de Steven Spielberg. O dono da Miramax pagou consultores para fazer lobby entre membros da Academia e iniciar discursos de que o filme só tinha força nos seus primeiros 15 minutos, durante o desembarque na Normandia em 1944.
Weinstein conseguiu convencer os votantes e "Shakespeare Apaixonado" levou sete estatuetas, enquanto o filme de Spielberg ficou com cinco. No entanto, ele instaurou um precedente de campanhas negativas, pouco baseadas na divulgação dos trabalhos e mais na boataria, para os anos seguintes.
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