Descobridora do PCC: quem é a repórter que cobriu enchente em SP de barco

Fátima Souza, 68, chamou atenção nas redes sociais na cobertura dos alagamentos provocados pelas chuvas na região metropolitana de São Paulo ao usar um barco ao vivo. Ela foi a responsável por descobrir o PCC na década de 90.

O que aconteceu

Chuvas atingiram São Paulo e provocaram alagamentos desde a última sexta-feira (31). Conhecida por ter descoberto o PCC, Fátima fez reportagem diretamente de Itaquaquecetuba (SP). "Nesta segunda a reportagem foi em Itaquaquecetuba onde vários pontos alagaram invadindo residências onde moradores perderam tudo", escreveu ela no Facebook.

Fátima mostrou imagens dentro de um barco puxado por moradores e falou da experiência: "Fui de 'barquinho' para chegar às residências mostrando todo o sofrimento das pessoas no Tá Na Hora, comandado pelo Datena no SBT".

A Splash, ela contou o que a motivou na cobertura: "Embora eu trabalhe há 40 anos com [jornalismo policial], nesses dias, quando a cidade está sofrendo com tantos alagamentos, eu tenho ido mostrar esse sofrimento da população. (...) A cobertura das chuvas em São Paulo tem sido bastante intensa".

A repórter diz que é difícil de encarar a realidade de quem está sofrendo, mas reconhece que é "parte do trabalho": "[É sobre] representar a população através desses descasos constantes de várias prefeituras. E a gente tem se dedicado bastante (...) para que a população fique informada e representada".

A água estava realmente muito alta. Eu cheguei a ficar com água no joelho e os moradores apareceram lá com esse barquinho (...) que eles já usam lá constantemente, porque há 40 anos naquele local acontece a mesma coisa, alaga quando chove. Eles ofereceram para mim e para o Pulga cinegrafista. A gente embarcou e atravessamos até o outro lado para mostrar a casa das pessoas, aquela calamidade. Fátima Souza

Quem é Fátima Souza

Fátima Souza é uma célebre jornalista formada pela FIAM em São Paulo com importante trabalho no jornalismo investigativo. Com passagens pela Record, TV Cultura e Band, ela já tem quase quatro décadas de carreira.

Continua após a publicidade

Os 40 anos de profissão jornalística serão completados no início de setembro. Recentemente ela fez aniversário: "Completei 68 anos no último dia 25 de janeiro. Sou paulistana da clara e da gema, nascida em São Paulo. Vou completar no próximo dia 1º de setembro 40 anos de carreira. Sempre no jornalismo policial e jornalismo investigativo".

Não tenho nenhum problema em falar da minha idade e dos meus cabelos platinados. É muito importante, represento muitas mulheres desde o começo da carreira. Fui a primeira repórter policial a aparecer no vídeo fazendo matérias de polícia. Comecei no SBT em 1986, quando não havia mulheres ainda fazendo polícia, já tive essa oportunidade lá depois de muita insistência, porque era um mercado machista. Ali consolidei uma carreira que continua até hoje, graças a Deus. Fátima Souza em entrevista a Splash

Responsável pela descoberta do PCC, Fátima é autora do livro "PCC A Facção". Ela foi a primeira a entender a dinâmica da organização criminosa ainda na década de 90: "Eu estava na TV Bandeirantes que acreditou no que eu tava falando".

Fátima conta que foi descredibilizada e até desmentida por autoridades: "Muita gente duvidou, até colegas de imprensa e até o próprio secretário da administração penitenciária na época, João Benedito de Azevedo Marques. Ele chegou a dizer que eu estava mentindo e inventando matérias. O que não era verdade e o tempo mostrou. Foi um marco na minha carreira".

[Na descoberta do PCC] era uma época, na década de 90, que [os jornais] mandavam os repórteres para a porta de cadeia. Houve uma rebelião, como de praxe, mas não era uma rebelião como antes, era alguma coisa muito coordenada. (...) Saí da rebelião pensando que tinha algo de diferente. Fátima Souza, em entrevista ao canal Iconografia da História em setembro de 2024

Continua após a publicidade

Matéria sobre a organização criminosa foi ao ar na Band. Fátima havia solicitado pedido de entrevista para uma reportagem sobre a vida na cadeia — com a intenção de investigar o que havia visto de diferente na rebelião.

Com a autorização, ela pôde entrevistar um dos responsáveis pelo motim, que fazia parte do PCC, ainda sem nome público. "Ela não foi ouvida. O governo fez questão de desmenti-la publicamente", escreveu Mauro Malin no Observatório da Imprensa em 2007,

Eles [os membros do PCC] não me ligavam contando só dos crimes que fizeram. Eu falava 'se me contar antes, eu deduro. Não quero saber, não sou amiga de vocês, sou jornalista'. Fátima Souza, em entrevista ao canal Iconografia da História

Após trabalhar na Record de 2006 a 2023, Fátima foi contratada pelo SBT no início de 2025
Após trabalhar na Record de 2006 a 2023, Fátima foi contratada pelo SBT no início de 2025 Imagem: Reprodução/Instagram @fatima_souza_reporter

Fátima anunciou que estava de volta ao SBT no início de janeiro: "Em 40 anos de carreira fazendo reportagens todos os dias, são muitas reportagens que já fiz na vida. Fiz a cobertura de todos os grandes casos, seja na Bandeirantes ou na Record, como a descoberta do PCC, Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Escola Base, Maníaco do Parque".

Para Splash, ela conta que ficou honrada com o convite para voltar para a televisão — antes do SBT, ela esteve na Record entre 2006 e dezembro de 2023: "Aceitei na hora, já fiz as malas e partiu SBT. (...) Trabalhei no SBT de 1986 a 1990, quando comecei a minha carreira de jornalista policial, uma carreira machista, só tinha homens", lembra.

Continua após a publicidade

Fui a primeira mulher repórter policial, insisti e lutei para isso. Na primeira reportagem que fiz já apareceu o assassino na minha frente, acabei entrevistando ele, que se entregou e daí nunca mais saí da área policial. Isso foi no SBT lá atrás e agora estou de volta com muito orgulho da emissora. Acredito demais na administração do Leandro Cipoloni, conheço muito bem ele como diretor e também a Mariana Ferreira, chefe de redação. Fátima Souza

Em post no Instagram, Fátima recordou o dia em que esteve na emissora no programa da Hebe ao lado de Datena, que hoje também é seu colega de trabalho novamente. Eles trabalharam juntos na Band por dez anos: "O Datena também me convidou para voltar ao ar, uma honra tremenda e agradeço muito".

Fátima Souza quando esteve no Programa da Hebe, no SBT, junto com Datena na época em que estavam na Band
Fátima Souza quando esteve no Programa da Hebe, no SBT, junto com Datena na época em que estavam na Band Imagem: Reprodução/Instagram @fatima_souza_reporter

Na rede social, a repórter lembrou quando descobriu o PCC: "Eu havia descoberto a facção criminosa PCC, sendo a primeira repórter a contar a existência deles. Fui falar [no programa da Hebe] sobre isso e também do fato de ser repórter policial sendo mulher".

Sua volta ao SBT possibilitou o resgate de fotos do momento: "Foi uma noite em que senti muito orgulho. Estar no sofá da querida Hebe é de inflar o peito de orgulho e alegria! Tantos anos passados finalmente consegui as fotos daquele dia que nunca esqueci. O carinho da Hebe e o respeito com que nos tratou são mesmo inesquecíveis".

Continua após a publicidade


Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.