'Ganhei peso de novo': eles contam o que rolou após realities pra emagrecer

Você deve se lembrar: anos atrás, fazia sucesso na televisão brasileira um tipo de reality show que promovia uma competição para ver qual dos participantes perdia mais quilos —uma espécie de corrida pelo emagrecimento.
A proposta, famosa nos Estados Unidos, acabou sumindo das telinhas há pelo menos 10 anos. Mas como ficaram os participantes tanto tempo depois?
Splash ouviu dois homens que fizeram parte de dois desses realities, O Grande Perdedor (SBT) e Além do Peso (RecordTV). Eles narram as dificuldades de manter o peso após o fim do programa e destacam algumas abordagens em relação à obesidade que envelheceram mal.
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Para eles, a participação vale a pena, mas apenas para quem vai sem esperar uma grande transformação —o que, em teoria, seria o grande objetivo do programa.
'Não existe emagrecimento sustentável em 3 meses'
Otávio Costa, 42, participou do reality O Grande Perdedor, do SBT, em 2005, quando tinha apenas 23 anos.
A atração copiava o formato do programa mais famoso nesse nicho, o "The Biggest Loser", sucesso nos Estados Unidos há 20 anos.
No Brasil, o formato não conquistou a audiência e teve apenas duas temporadas, mudando de nome para "Quem Perde, Ganha" na segunda.
O fotógrafo foi um dos quatro finalistas na primeira temporada, mas acabou ficando em segundo lugar "com uns 800 gramas de diferença" para a vencedora.

O prêmio de R$ 300 mil ficou com a operadora de telemarketing Andréia Dutra, de Bauru. Procurada pela reportagem, ela não retornou o contato.
Hoje vivendo na Alemanha, o catarinense diz não se arrepender de ter participado do quadro, mas admite que ele não foi muito útil quando o assunto é emagrecimento.
Ele perdeu muito peso durante a participação, mas voltou a ganhar todos os quilos.
Não me arrependo, foi uma experiência divertida para testar meus limites pessoais. Mas, olhando pelo formato, ele expõe uma coisa: não existe um emagrecimento em três meses que seja sustentável. Eu emagreci 32 kg, saí com 82 kg, mas não é sustentável.
Otávio Costa
Em O Grande Perdedor, os participantes ganhavam R$ 500 por quilo perdido. Ou seja, o catarinense levou R$ 16 mil para casa.
Ele lembra que os participantes tinham treinadores e nutricionistas que não receitavam treinos e dietas "malucas" ou extremistas.
Saindo do programa, eu emagreci ainda mais: cheguei aos 76 kg treinando 8 horas por dia, competindo no jiu-jítsu. Mas, depois, me enfiei na vida profissional e engordei. Emagreci de novo só após ter filhos, para ter saúde.
Otávio Costa
O catarinense, que pratica esportes desde a infância, tinha uma questão com a compulsão alimentar.
Longe da televisão —e ao longo dos anos— ele diz ter aprendido uma maneira mais "consistente" de lidar com o próprio corpo, com dieta e exercícios físicos equilibrados, que o fizeram voltar a perder peso.
"Fiquei meio obcecado por nutrição e ciências metabólicas e fui entendendo como as coisas funcionam. Por exemplo, hoje eu e minha esposa temos mais de 40 anos, sei que preciso aumentar a proteína."
O ex-participante também opina que quem não tem obesidade não consegue entender as dificuldades da condição, considerada uma doença crônica pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Se a pessoa for compulsiva, é como uma droga, mas a comida é legalizada. E naquela época era aceitável ser gordofóbico, era normal, hoje em dia é que é pauta.
Otávio Costa
'Nos levavam à churrascaria'
Para Otávio, sua experiência no reality foi melhorada pelo fato de que ele não se importava com o que era transmitido na televisão —estava mais focado na sua experiência pessoal com o processo.
Suas maiores críticas são à desorganização das regras da competição que, segundo ele, tiveram de mudar com frequência por erros de concepção da produção.
"Por exemplo, a contagem começou com peso absoluto e depois mudou para proporcional. O que fez sentido já que nós, homens, perdíamos peso mais rápido, nunca uma mulher poderia ganhar", lembra.
Também tinha provas, por exemplo, de quem subia a escada mais rápido, o que obviamente era mais complicado para quem tinha quase 200 kg. Às vezes também tinha algum convidado que nos levava até lugares como uma churrascaria, para ver se alguém 'caía' [em tentação e comia].
Otávio Costa
Otávio diz que não repetiria a participação nos dias de hoje —não pela proposta, mas pela repercussão muito maior nas redes sociais. "Hoje eu não faria porque a internet é uma história sem fim. Eu era reconhecido na rua em um lugar ou outro, mas era um nicho."
'Ganhei tudo de novo': a experiência de Daniel Pax

O comediante Daniel Pax, 37, era um grande crítico do formato antes de participar e, inclusive, não fez a própria inscrição.
Curiosamente, acabou vencendo a quarta temporada do reality Além do Peso, em 2015.
"Minha mãe sempre teve problema com obesidade e assistia muito ao programa. Eu odiava, toda vez que eu ia na casa dela eu falava: 'para de ver essas coisas'. Mas ela me inscreveu sem eu saber e eu acabei indo pela experiência mesmo."

O programa da Record teve cinco temporadas entre 2013 e 2015, em um formato bem parecido com o da concorrente.

A rotina era dura: "Os dias começavam às 7h e acabavam às 23h. Só no final de semana eu ficava em casa, trazia umas marmitinhas em uma bolsa térmica para seguir na dieta", detalha Pax.
Ele eliminou 50 kg no programa, mas acabou engordando. "Eu ganhei tudo de novo", diz.
Após o reality, só me deram um carro zero e tchau e benção.
Daniel Pax
Em um de seus shows de stand-up, o comediante chegou a brincar que usou o carro que ganhou para não precisar mais andar, o que o ajudou a voltar a engordar.

"De todos os participantes ali, não só na minha temporada, mas em todas em que eu conheci a galera, houve um reganho de peso."
Pax retomou o processo de emagrecimento recentemente, após passar por uma série de baques. Há dois anos, depois de perder o pai e o sogro —o que causou um abalo psicológico—, Daniel decidiu fazer um novo processo de perda de peso.
No total, até hoje, ele já perdeu 100 kg. "O que fiz foi déficit calórico e muito treino mesmo, muito exercício, e aí eu fiz alguns contatos com cirurgiões depois de eliminar 40 kg, para fazer a bariátrica."
'Reforçava um estereótipo'
Ele lista vários "prós" da participação, mas diz não ter gostado de algumas edições feitas pelo programa.
Algumas coisas na edição me incomodavam, coisas que a gente passava nas filmagens também, registrando muita vulnerabilidade, mas eu não me arrependi da experiência pelo meu objetivo, de usar [o programa] para ser uma vitrine [para o trabalho como comediante].
Daniel Pax
No fim das contas, ele decidiu abraçar a chance na televisão para promover seu trabalho na comédia e na música —e o emagrecimento ficou em segundo plano.
"Eu gravei várias coisas com celebridades, muita coisa legal para a televisão, mas é uma linha tênue entre tratar a obesidade como entretenimento e com sensacionalismo", diz Pax.
Eu imagino que a galera mais anônima não tira tanto proveito. Teve gente que falou que não gostou. Para mim, foi interessante, mas eu acho que não é o caminho para emagrecer. Caiu um pouco em desuso e reforçava muito um estereótipo.
Daniel Pax
O que dizem as emissoras
Procurado, o SBT informou que, "por se tratar de conteúdo produzido há mais de 15 anos", não tem mais o registro dos profissionais que fizeram parte da produção. A Record também foi procurada —o texto será atualizado se houver resposta.
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