Sem apoio de IA, Galvão de 'Senna' passou mais de 7 dias gravando em cabine

Gabriel Louchard, 39, é um dos destaques da série "Senna" (Netflix) interpretando Galvão Bueno. Sem uso de inteligência artificial ou outras tecnologias, o artista reproduziu narrações emocionantes do comunicador mesmo sem nunca ter trabalhado com locução esportiva.

Passei mais de uma semana gravando em uma cabine de transmissão. Era ritmo de novela, estávamos gravando mais de 20 cenas por dia. E era uma quantidade de texto enlouquecedora. Muitas vezes, tive apoio de um teleprompter para poder ler as narrações mesmo com as frases decoradas. Gabriel Louchard, em papo exclusivo para Splash

Como se tornar Galvão Bueno?

As narrações foram exaustivamente treinadas, segundo o ator. "Foram mais de 60 sessões de fono e muita dedicação. Repetia mil vezes aquela mesma frase, gravava e regravava, e depois dublei em estúdio. Foi uma preparação completa. [...] Contamos, inclusive, com o apoio de uma fonoaudióloga que trabalhou com o Galvão em diferentes fases da carreira dele."

As falas não são 100% fiéis ao que o Galvão disse nas transmissões, mas nos aproximamos bastante. [...] Durante a batida que causou a morte do Ayrton, seis pessoas da equipe choraram no estúdio emocionadas. Foi um sinal de que nos aproximamos da emoção no ponto certo.

Fazer um Galvão "extremamente caricato" seria motivo de piadas, na visão de Gabriel. "Se fosse para fazer uma imitação, chamariam o Marcelo Adnet, que é um gênio. Mas não era a proposta. Buscamos algo mais interpretativo e realista. A gente precisava manter uma sobriedade."

Gabriel foi além das narrações e da caracterização na série. Ator afirma ter se preocupado com a cadência nas falas do narrador, além de trazer a "mania" de gesticular o tempo inteiro com as mãos.

O mais engraçado é que muitas pessoas afirmaram ter a voz do Galvão na série, o que é uma mentira. Todas as narrações em português foram gravadas por mim. Minha voz é aguda, e eu trabalhei bastante para que ficasse mais grave. Se você fechar os olhos, vai parecer que é o Galvão em vários momentos. Além do efeito dos microfones antigos, a energia e a cadência da narração estão muito parecidas com as do Galvão.

Ayrton (Gabriel Leone) e Galvão Bueno (Gabriel Louchard) em "Senna"
Ayrton (Gabriel Leone) e Galvão Bueno (Gabriel Louchard) em "Senna" Imagem: Alan Roskyn/Netflix

Uma eterna reta final

Um encontro de três horas entre Gabriel e Galvão Bueno marcou a preparação do ator. Durante o papo, comunicador contou várias das histórias vividas ao lado do piloto, e se emocionou ao relembrar a morte do piloto em 1994. "Só se vira aí, está contigo", foi o conselho dado pelo narrador.

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Ele me pediu para interpretá-lo, e eu não tinha treinado. Comecei a fazer qualquer coisa, no desespero, no improviso. 'Lá vem Ayrton Senna na reta final', eu repetia. Daqui a pouco, o Galvão pergunta: 'Essa reta final não acaba não? Já são dez minutos que não saem de lá. Porra, nunca vi uma reta final tão grande'. Ele foi muito querido e simpático.

Galvão ainda não conversou com Gabriel após o lançamento de "Senna". "Algumas pessoas, inclusive o Gabriel Leone (protagonista da série), disseram que ele assistiu e gostou. Eu ainda quero procurá-lo. Quero perguntar tomando um vinho, né? Batendo um papo. Do jeito que ele gosta."

Interpretar Galvão foi maior desafio da carreira, diz Gabriel Louchard. "O Galvão está vivo, e todos o conhecem. Era impossível evitar a comparação. Sem falar que se trata de um Galvão dos anos 1980 e 1990, diferente do atual. Eram vários detalhes importantes para que o personagem ficasse parecido com o narrador."

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