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Com MC Lan e pirotecnia, Bring Me The Horizon celebra metal antipurista

Um funkeiro divide os vocais com um ídolo emo no palco de uma banda de metal que bebe hectolitros de cultura pop oriental enquanto simula uma disputa de videogame. Parece confuso, mas faz total sentido para as quase 60 mil pessoas que lotam o Allianz Parque para celebrar o Bring Me The Horizon na noite de sábado (30).

Formado em 2004, em Sheffield, na Inglaterra, o BMTH é cria direta do nu metal, de Slipknot a Linkin Park. Tem, portanto, a experimentação e a quebra de paradigmas impressas em seu DNA. O mesmo vale para The Plot in You, Spiritbox e Motionless in White, bandas escaladas para aquecer o público antes da atração principal.

Estamos falando, portanto, de bandas que esticaram a corda do metal até arrebentar. Sua base pode ser composta por guitarras distorcidas, vocais potentes e baixo galopante, mas o purismo passa longe. Rap, divas do pop, filmes de terror, hardcore, desenhos animados, videogames — tudo vira música para eles. São emocore, metalcore, post-metal, screamo... Pode escolher o rótulo. Todos e nenhum servem.

Show do Bring me The Horizon em São Paulo
Show do Bring me The Horizon em São Paulo Imagem: @anendorf/Divulgação

Essa diversidade no palco reflete-se na plateia. Camisetas pretas do Slayer transitam entre camisetas pretas do mangá One Piece. Tatuagens de carpa japonesa dividem espaço com tatuagens de gatinhos, pin-ups e do anime Sailor Moon. A pluralidade de corpos, looks, penteados, maquiagens e gêneros faz duvidar que se trata de um espetáculo de metal.

Mas não se engane: três passos para o lado, e você está dentro de um mosh pit animadíssimo — ou no meio de dois deles, a maioria incentivados pelos próprios músicos. E, se não abaixar a cabeça, vira "pista" para sessões de crowd surfing. Tudo como manda o figurino de qualquer show de metal — só que mais gentil, mais amistoso.

MC Lan e Di Ferrero no palco

Grande atração da noite, o BMTH faria seu primeiro show em estádio. E decidiu não brincar, montando um palco superproduzido, repleto de efeitos visuais e práticos, com fogo, papel picado, fumaça, faíscas, lasers e craft no telão em tempo real dos músicos.

Tudo para apoiar a narrativa do espetáculo, baseado no último disco do grupo, Post Human: Nex Gen (2024). O resultado foi uma espécie de ópera pós-apocalíptica conduzida por personagens virtuais bizarros (mas fofos!) que apareciam nos telões para conectar as histórias.

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O setlist seguiu à risca o apresentado dois dias antes na Áudio, priorizando faixas de Post Human: Nex Gen e do trabalho anterior, Post Human: Survival Horror (2020). Além de músicas do álbum responsável por levar o BMTH para o grande público, Sempiternal (2013).

Deste último, entraram o hino "Can You Feel My Heart" e os singles "Shadow Moses" e "Sleepwalking" — além de "Antivist", faixa que levou ao palco o funkeiro agora "convertido" em roqueiro MC Lan e Di Ferrero, vocalista do NXZero. Coincidência ou não, foi a mesma música que o BMTH chamou Pabllo Vittar para cantar na passagem anterior da banda pelo Brasil, em 2022.

Purismo não é mesmo com eles. Ainda bem.

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