Oscar de Pedaço de Mim trabalha como garçom nos EUA: 'Mexe com meu ego'

Ator que interpreta Oscar em "Pedaço de Mim" (Netflix), Felipe Abib, 41, trabalha de garçom nos Estados Unidos, mesmo com uma carreira sólida na atuação.

"Eu trabalho em dois lugares, faço dois turnos, de 12 horas ou 13 horas. Eu tenho esposa e filha. Fico feliz de conseguir levar dinheiro pra casa e não ficar dependendo de dinheiro do trabalho como ator. Isso causa muita ansiedade", explica o artista, que saiu do país para estudar inglês, mas diz "morrer" de saudade do Brasil, de roda de samba e uma cerveja gelada.

Em entrevista exclusiva a Splash, o ator conta que, após a paternidade, percebeu que precisava trabalhar mesmo que não fosse só com atuação e que ser garçom no país norte-americano compensava. Apesar de Felipe Abib ser um dos principais nomes da trama que alcançou o Top 1 mundial da Netflix, ele descarta qualquer glamour e expõe o lado "momentâneo" da carreira de ator: não dá pra ter certeza de quando será a próxima oportunidade na atuação.

É uma profissão instável, não consigo enxergar uma aposentadoria. Deixa muita gente amargurado. Você nunca sabe quando vai trabalhar de novo, se vai fazer um teste, se seu cabelo tá branco, se você ficou mais velho pro papel... Mexe muito com seu ego, você fica frágil, inseguro, não sabe se você é bom ou não.

Felipe Abib opta por não expor a rotina do seu trabalho de garçom nas redes sociais. "Posto coisas sobre meu trabalho artístico. Mas conversei com muitos atores mais velhos que estão sem dinheiro. São poucos milionários, que têm um fundo de renda pra viver", diz ao refletir sobre a dificuldade enfrentada por atores veteranos.

As dificuldades de 'Pedaço de Mim'

Segundo o ator, não foi fácil dar vida a Oscar, principal vilão da trama. O personagem abusa sexualmente da protagonista Liana (Juliana Paes) e a persegue por boa parte da trama. Apesar de sentir o "baque" ao ler o roteiro pela primeira vez, Felipe Abib não pensou em desistir do trabalho.

Oscar é a mistura de vários masculinos. Um cara bacana, que se justifica e se defende a todo custo, um homem branco-hetero-cis, um narcisista padrão. A ideia era essa, fazer um cara que as pessoas pensem: 'Esse homem está do meu lado?'

Oscar é peça importante da história, mesmo que odiosa. "Oscar precisava ser a oposição ao pensamento feminino. Eu busquei estudar em que lugar o homem distorce o entendimento do que aconteceu. Se ele entende, se ele mente, se omite, se é psicopata, se ele sabe, mas distorce", detalha.

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O mais importante é o público entender e enxergar a dor da personagem de Juliana Paes. Para o ator, a ficção funciona como um auxílio às pessoas que lutam pelas causas das mulheres no processo de reeducação estrutural. "Aquela pessoa consegue sentir no personagem da Liana, tem empatia", reflete Felipe.

Gravar e assistir à série foi um processo intenso. Nas cenas de abuso sexual, por exemplo, elenco contou com o apoio de uma coordenadora de intimidade, profissional responsável por cuidar das cenas que exigem contato físico. "Ela conversa com o elenco e vê os limites de cada um", explica. O ator revela uma conversa com Juliana Paes, nos bastidores da gravação. "Perguntei o que a afetava pessoalmente e profissionalmente, deixamos claro um pro outro, pra gente respeitar qualquer tipo de ação. A Juliana é maravilhosa, e superdisponível pra ter essas conversas, mas nunca é fácil gravar essas cenas", expõe.

Assistir à série pronta foi muito doloroso. Eu não parei de chorar a série toda. A série tem isso, essa coisa familiar. Eu não me assisti como Oscar, eu me olhava como todo mundo. Eu via a Liana se emocionar e doía meu corpo inteiro.

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