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Em 'Sorria', terror é usado como metáfora para saúde mental

"Sorria", novo filme de terror, traz entidade perturbadora e sorridente - Paramount Pictures/Divulgação
'Sorria', novo filme de terror, traz entidade perturbadora e sorridente Imagem: Paramount Pictures/Divulgação

De Splash, em São Paulo

02/10/2022 04h00

Psiquiatra de emergência de um hospital, a Dra. Rose Cotter (Sosie Bacon) é testemunha de um incidente bizarro envolvendo uma paciente, Laura (Caitlin Stasey). A morte da jovem desenterra memórias traumáticas na médica, que precisa entender se o que está vendo é real ou resultado de suas próprias feridas.

Esta é a história de "Sorria", novo filme de terror que conta com o aspecto perturbador de sua "entidade sorridente" para se tornar um viral das redes sociais. Para a protagonista, filha de ninguém menos que Kevin Bacon, a trama é um bom ponto de partida para que o público reflita sobre saúde mental.

"Acho que temos uma tendência a responsabilizar as pessoas mais por questões de saúde mental que de saúde física. E não há nada pior que isso", reflete a atriz, em entrevista a Splash.

"O que está acontecendo não é culpa de ninguém, e nem todos têm acesso a cuidados de saúde. Por isso, eu quis tornar [minha personagem] empática, para que as pessoas soubessem que ela não estava escolhendo aquilo. Queria justamente que as pessoas debatessem o tema."

Reflexos de uma pandemia

Parker Finn - Paramount Pictures/Divulgação - Paramount Pictures/Divulgação
O diretor Parker Finn e Sosie Bacon nos bastidores de 'Sorria', já nos cinemas
Imagem: Paramount Pictures/Divulgação

Passar tempo demais dentro da própria mente, algo que acontece com a Dra. Rose Cotter no filme, desperta uma sensação semelhante ao que o mundo viveu durante boa parte de 2020 nos meses após o decreto da pandemia da covid-19.

"Rose fica bastante isolada durante o filme, e ela não tem muitas pessoas com quem pode compartilhar o que está acontecendo, e isso pode ser muito assustador. O isolamento da covid também foi muito assustador para todo mundo", compara.

"E, acima disso, eu acredito que as pessoas ao redor começam a representar um perigo, e isso foi muito perpetuado justamente por causa da covid, qualquer pessoa poderia transmitir [o vírus]. Sinto que estou traumatizada pela vida, sentindo que pessoas que eu nem conheço podem ser um perigo. Isso é muito triste, e todos nós vivemos um luto de alguma forma.

Por que o terror importa?

Mare of Easttown - Michele K. Short/HBO - Michele K. Short/HBO
Sosie Bacon contracena com Kate Winslet no set de 'Mare of Easttown'
Imagem: Michele K. Short/HBO

Aos 30 anos, Sosie já atuou em séries como "Mare of Easttown" (HBO), "13 Reasons Why" (Netflix), e "Scream" (MTV), baseada em "Pânico", e em filmes como "As Discípulas de Charles Manson", de Mary Harron ("Psicopata Americano").

Sosie e Kevin Bacon - Greg Doherty/Getty Images - Greg Doherty/Getty Images
Sosie é filha do ator Kevin Bacon
Imagem: Greg Doherty/Getty Images

Apesar de ter começado na carreira em 2005, dirigida pelo próprio pai em uma participação no filme "A Educação de Paul", este é o seu primeiro papel como protagonista.

A experiência na carreira e o contato com histórias de terror a fizeram ter uma relação próxima ao cinema de gênero, razão pela qual Sosie acredita que as histórias têm algo importante a dizer.

É uma boa forma para artistas processarem aspectos da sociedade que são difíceis de se entender e fazer sentido. Acho que Jordan Peele, com 'Corra!' e os seus demais filmes, mudou o gênero para que ele fale de coisas que são quase tabus.
Sosie Bacon, atriz

"Muitas vezes, em filmes, ou falamos desses temas de uma forma muito óbvia, ou não falamos de forma alguma", continua."O terror consegue capturar as sutilezas do que nos desafia como sociedade. A partir disso, criou-se um efeito bola-de-neve, o que é bem empolgante."

Sorrisinho encantador

Se o sorriso, um gesto a princípio inofensivo, transformou-se no aspecto mais assustador do longa-metragem, há uma explicação para isso que se conecta com as mensagens do filme sobre a importância de se debater saúde mental.

"[O sorriso] é como uma máscara, que de alguma forma camufla emoções negativas. Acredito que a camada do sorriso de Rose na qual eu quis focar diz respeito ao quão assustador pode ser ter que fingir que você está bem quando você não está, porque essa é a expectativa que existe sobre você", explica a atriz.

"Em uma cena, ela está em frente a um espelho se maquiando e tentando ensaiar um sorriso, que seria o aceitável nesse evento mas não é o que ela sente de verdade", continua, recordando de um momento específico do longa. "Acho que isso pode deixar uma pessoa mais isolada, assustada e triste."