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Venenosa de afiliada da Record relata demissão ao usar vermelho; TV nega

A jornalista Carol Romanini apresentou a "Hora da Venenosa" pela última vez na segunda-feira (12), um dia antes da demissão - Reprodução/ RICtv
A jornalista Carol Romanini apresentou a 'Hora da Venenosa' pela última vez na segunda-feira (12), um dia antes da demissão Imagem: Reprodução/ RICtv

De Splash, em São Paulo

15/09/2022 19h42Atualizada em 16/09/2022 11h42

A jornalista Carol Romanini, apresentadora do quadro "Hora da Venenosa" no "Balanço Geral Londrina", foi demitida na terça-feira (13) pela RICtv, afiliada da Record no Paraná, por supostamente ferir norma da empresa para garantir "neutralidade em aparições" ao ter usado vermelho no dia anterior, quando apresentou o quadro no canal pela última vez. A emissora negou a Splash que esse fosse o motivo da descontinuação.

"Eu fui demitida pela RICtv [...] com uma advogada através de uma chamada de vídeo num notebook por ter usado o vermelho na segunda-feira. Eu, como vocês sabem, eu aposto aqui com vocês quem é que acha que eu voto em quem, porque nem isso eu falo, eu não falo de política [aqui]", afirmou Carol em transmissão ao vivo em seu Instagram hoje.

De acordo com o Sindijor Norte do PR (Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná), o Grupo RIC, dono da RICtv, teria proibido os jornalistas da emissora de irem ao ar com roupas nas cores vermelho e bordô, e denunciou o ocorrido, classificando a ação como "assédio eleitoral" que "resultou na injustificada demissão". A empresa diz que restringe as cores para garantir "neutralidade em aparições no ar".

"O dono do Grupo RIC no Paraná, Leonardo Petrelli Neto [...] tem engajamento notório na campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro. E histórico de assédio eleitoral. Um dia antes (segunda-feira, 12/09) da demissão [...], sua empresa já havia proibido o uso das cores vermelho e bordô pelos repórteres e apresentadores que fossem ao ar. Cores que atribui associação com a candidatura do ex-presidente Lula", afirmou o sindicato em nota.

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O Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná fez duas notas de repúdio direcionadas à RICtv
Imagem: Reprodução/ Instagram @sindijornortepr

O sindicato também informa que a demissão teria ocorrido após pressão do deputado federal Filipe Barros (PL-PR), aliado do dono do Grupo RIC e que atua na campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Paraná, onde também busca ser reeleito.

"O deputado usou como pretexto [um] incidente envolvendo a torcida Falange Azul, do Londrina Esporte Clube, no último sábado (10/09) e integrantes de seu comitê de campanha. O 'crime' da jornalista foi estar próxima à confusão", denuncia o órgão.

No Instagram onde é seguido por 600 mil contas, o deputado fez uma publicação de uma captura de tela no dia em que a jornalista foi demitida. Tratava-se de uma troca de mensagens em grupo da torcida do clube de futebol, sendo uma delas de Carol Romanini. Os contatos telefônicos possuem um borrão vermelho, mas ainda é possível identificar os dígitos.

"A mensagem da faca é da apresentadora de TV. A do revólver é da esposa do presidente da Falange Azul: a que mentiu dizendo ter sido agredida (com panfletos!) pelo meu sobrinho de 18 anos. PF [Polícia Federal] já foi acionada. Faremos a melhor recepção ao Presidente Bolsonaro da história", escreveu Barros na legenda da publicação. Bolsonaro cumpre agenda de campanha em Londrina nesta sexta-feira (16).

Após ser exposta, a jornalista relata a Splash que desde sábado está recebendo ameaças nas redes sociais e em aplicativos de mensagem, pois o número de telefone ficou público. "Muitas ligações [...], as mensagens a gente dá print e bloqueia, orientação dos nossos advogados. Mas a gente recebeu inúmeros ataques pelo WhatsApp. Eu e minha filha [menor de idade]".

A reportagem contatou a equipe do deputado federal pelo WhatsApp. Um membro informou que passaria a demanda para Filipe Barros, mas ainda não houve retorno. O espaço segue aberto e será atualizado se houver alguma manifestação.

'Meu voto eu nunca disse'

Na live realizada na tarde de hoje, Carol Romanini disse que nunca falou sobre seu voto nem suas escolhas políticas, dizendo "achar" que a emissora já tinha projeto para acabar com o programa.

"Meu voto eu nunca disse, nunca falei se sou de esquerda, de direita, de centro, de nada. Então, me mandaram embora, tem várias coisas envolvidas, eu quero explicar todas elas numa live mais tranquila com mais informações", prometeu.

Ainda segundo ela, sua demissão ocorreu em meio ao encerramento do quadro no Balanço Geral em Londrina, sob a justificativa de que o programa não estava tendo faturamento.

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Carol Romanini já tinha suado vermelho na 'Hora da Venenosa' antes de apresentar pela última vez na segunda-feira (12)
Imagem: Reprodução/ RICtv

Splash confirmou a informação e apurou com a Diretoria de Produto, Conteúdo e Convergência que a emissora está reestruturando o horário de almoço nas quatro emissoras da RICtv (Curitiba, Oeste, Londrina e Maringá), o que foi adiantado em Londrina devido o quadro estar apresentando baixo desempenho de faturamento e audiência.

"Acho até que eles tinham esse projeto de acabar com o programa mesmo, mas não da maneira que foi feito, não no dia que foi feito e eu fui [...] informada de que a 'Hora da Venenosa' não estaria mais no ar, [prestes a estar] no ar. Eu estava sentada no camarim sem saber o que estava acontecendo, esperando pra entrar no programa", disse a jornalista na live.

Ela disse que escutou os apresentadores [de Curitiba] do quadro falarem na TV, mandando um beijo para Londrina. "Não é culpa deles, eles são orientados. [...] Eles entraram falando que a 'Hora da Venenosa' de Londrina não ia ter mais e que todos os dias vocês iam acompanhar a 'Hora da Venenosa de Curitiba'".

Contrato rescindido

A RICtv negou a Splash que Carol Romanini -- que estava no quadro há dois anos -- saiu da emissora devido ao uso de roupa vermelha na última segunda-feira, chamando declarações sobre o código de vestimenta, a possível proximidade entre o deputado e o dono da empresa e a demissão da jornalista por motivo político de denúncias "vazias e oportunistas", dando detalhes de orientação aos profissionais do canal.

"Denúncias vazias e oportunistas foram feitas ao Grupo RIC nos últimos dias, distorcendo a natureza e o objetivo de medidas de rotina adotadas na gestão do Departamento de Jornalismo. Repórteres e apresentadores foram orientados, por mensagens de WhatsApp, a não usarem roupas nas cores vermelha e bordô durante a cobertura eleitoral, a fim de garantirem a neutralidade em suas aparições", diz a empresa em nota.

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Cecilia Comel, da RICtv Curitiba, também usou vermelho e segue empregada; área de entretenimento não tem restrição de vestimenta, segundo o Grupo RIC
Imagem: Reprodução/ RICtv

A nota informa ainda que essas cores estão citadas nas diretrizes do vestuários dos jornalistas em documento interno distribuído a todos funcionários. "Outras cores, como verde e amarelo, que também identificam correntes partidárias, não integram o guia de vestuário dos jornalistas, razão pela qual já não são usadas em looks completos e não precisam ser restringidas", complementam.

O Grupo RIC diz que o contrato foi rescindido conforme previsão em reformulação da programação das emissoras, negando qualquer correlação eleitoral: "As mesmas fontes das falsas denúncias tentaram relacionar uma rescisão de contrato ao momento eleitoral. Essa rescisão, ocorrida na área de entretenimento da RICtv, já estava prevista no projeto que reformula a programação das emissoras do Grupo RIC".

A empresa também enfatiza que a área de entretenimento, em que o quadro "Hora da Venenosa" se enquadra, não está sujeita ao mesmo guia de vestuários do jornalismo. Sendo assim, não seria possível a rescisão do contrato ter ocorrido devido ao uso de vestimenta vermelha pela apresentadora. Ela mesma já tinha usado a cor em outras ocasiões, e outra profissional do quadro em Curitiba, Cecilia Comel, também usou a cor na terça, dia em que Carol foi demitida. Cecilia permanece empregada.

Boletim de ocorrência

Durante sua transmissão ao vivo, Carol disse que chorou ontem. Ela também afirmou que fez um Boletim de Ocorrência e que está com dois advogados. A profissional relatou que está recebendo ameaças junto com a filha de 16 anos desde sábado (10) por acharem que ela estava envolvida na confusão com o deputado Filipe Barros.

Ele e sua família foram agredidos em confusão com a torcida Falange Azul, do Londrina Esporte Clube, no último sábado e boatos diziam que ela teria comemorado agressões que eles sofreram. "Eu jamais comemoraria, quem me conhece sabe que eu jamais ia fazer isso", declarou ela, reproduzindo um gesto que ela fez chamando um amigo, e que foi interpretado como comemoração.

Procurada, a Polícia Civil do Paraná confirmou a Splash que o boletim de ocorrência por ameaça foi registrado hoje em Londrina. O órgão também afirmou que está apurando o caso, contudo não deu mais detalhes.

Choro e xingamentos

Ao falar sobre a trajetória profissional, Carol Romanini afirmou que nunca havia sido demitida nos trabalhos que ela teve em 20 anos. Ela disse que já trabalhou em vários canais de televisão, além de ter passado por rádio e trabalhado em restaurantes.

"A maneira que eles administraram o processo foi muito injusta, não teve profissionalismo, não teve cuidado [com a demissão]. Foi assim, de um jeito triste [...] e em 20 anos da minha profissão, em 20 anos de formada, eu nunca fui mandada embora. [...] Nunca fui tratada, como eu fui tratada por essa empresa", lamentou.

Poucos minutos depois, ela chega a chorar na live ao ler comentários de seguidores: "Eu fico emocionada porque eu não imaginava mesmo que eu passaria por isso da maneira que eu fui humilhada, da maneira que eu fui demitida, a maneira que eles trataram e da maneira que essas pessoas estão tratando a minha filha e me tratando, com ameaça, me xingando de assassina, de gorda, safada", desabafou.

Confira íntegras de notas do Sindijor Norte do PR

Nota oficial (13/09)

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte do PR) vem, de público, denunciar e repudiar decisão do grupo RICtv de assediar moralmente seus jornalistas (repórteres e apresentadores). O grupo do senhor Petrelli Neto (Leonardo) proibiu os jornalistas de irem ao ar com roupas nas cores vermelho e bordô.

A proibição, em um momento de grave polarização eleitoral, evidencia um claro posicionamento do grupo em prol da candidatura do atual presidente à reeleição. Uma opção eleitoral incompatível com o caráter de uma emissora que é concessão pública.

E é também um atentado às liberdades individuais dos jornalistas (repórteres e apresentadores). Esse cerceamento é inadmissível em pleno século 21. É irônico que a empresa, em seu site, apregoa uma independência editorial que é contrariada por essa ridícula proibição.

Coletivo de Diretores do Sindijor Norte do PR

Nota oficial (14/09)

Jornalista é demitida no Paraná a pedido de bolsonarista

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná (Sindijor Norte PR) vem a público denunciar ataque às garantias individuais e assédio eleitoral da RICtv a seus jornalistas. Esse assédio eleitoral resultou na injustificada demissão, na última terça-feira (13/09), da jornalista Carol Romanini, apresentadora da emissora em Londrina (PR).

A demissão se deu após pressão do deputado federal Felipe Barros (PL), que se intitula o número 01 de Bolsonaro no Paraná. O deputado usou como pretexto incidente envolvendo a torcida Falange Azul, do Londrina Esporte Clube, no último sábado (10/09) e integrantes de seu comitê de campanha. O "crime" da jornalista foi estar próxima à confusão.

O dono do Grupo RIC no Paraná, Leonardo Petrelli Neto, aliado de Barros, tem engajamento notório na campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro. E histórico de assédio eleitoral. Um dia antes (segunda-feira, 12/09) da demissão da jornalista, sua empresa já havia proibido o uso das cores vermelha e bordô pelos repórteres e apresentadores que fossem ao ar. Cores que atribui associação com a candidatura do ex-presidente Lula.

Além das afiliadas da Record TV no Paraná, Petrelli Neto é o dono das afiliadas da Jovem Pan FM no Estado, emissoras que fazem a defesa intransigente do bolsonarismo. Felipe Barros, o deputado bolsonarista, possui influência direta sobre a linha editorial do Grupo RIC. E essa influência levou à demissão da jornalista. Em um evidente abuso de autoridade e assédio eleitoral contra os trabalhadores.

Coletivo de Diretores do Sindijor Norte do PR
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR)
Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ

Confira íntegra de nota do Grupo RIC

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Denúncias vazias e oportunistas foram feitas ao Grupo Ric nos últimos dias, distorcendo a natureza e o objetivo de medidas de rotina adotadas na gestão do Departamento de Jornalismo. Repórteres e apresentadores foram orientados, por mensagens de WhatsApp, a não usarem roupas nas cores vermelha e bordô durante a cobertura eleitoral, a fim de garantirem a neutralidade em suas aparições.

Essas cores foram expressamente citadas porque compõem o "guide line" do vestuário desses profissionais, conforme documento interno distribuído a todos. Outras cores, como verde e amarelo, que também identificam correntes partidárias, não integram o guia de vestuário dos jornalistas, razão pela qual já não são usadas em looks completos e não precisam ser restringidas. Ainda assim, a orientação foi de que fossem reservadas para a cobertura da Copa do Mundo de Futebol.

As mesmas fontes das falsas denúncias tentaram relacionar uma rescisão de contrato ao momento eleitoral. Essa rescisão, ocorrida na área de entretenimento da RICtv, já estava prevista no projeto que reformula a programação das emissoras do Grupo RIC.

O Grupo RIC refuta toda e qualquer tentativa de relacioná-lo a comportamentos que estejam em desacordo com o respeito aos seus colaboradores e com a ética na comunicação com o público.

Diretoria Corporativa de Produto, Conteúdo e Convergência do Grupo RIC