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'Preços absurdos': fãs vendem ingressos do Rock in Rio por alta nos voos

Custo de passagem aérea e hospedagem provocam desistência de viagem ao festival - Luciola Villela/UOL
Custo de passagem aérea e hospedagem provocam desistência de viagem ao festival Imagem: Luciola Villela/UOL

De Splash, no Rio

11/08/2022 04h04Atualizada em 11/08/2022 14h31

A edição 2022 do Rock in Rio começa no dia 2 de setembro e marca o retorno do festival, que foi cancelado no ano passado em decorrência da pandemia da covid-19. Com ingressos esgotados, a expectativa é atrair cerca de 700 mil pessoas, incluindo público de outros estados do país.

No entanto, uma parte dos fãs está desistindo de viajar ao Rio de Janeiro devido aos altos custos de passagens aéreas e hospedagem, optando por colocar à venda nas redes sociais os ingressos comprados com meses de antecedência.

A assistente administrativa Leticia Bastos, de 21 anos, que vive em Manaus (AM), recorreu ao Twitter para vender o ingresso que tinha comprado para o dia 4 de setembro, data em que Justin Bieber se apresenta no festival. A viagem, que marcaria a primeira vez dela no festival, teve de ser cancelada.

"Desisti porque a passagem está em torno de R$ 3.000", diz. "Conheço duas amigas que venderam (o ingresso) pelo mesmo motivo", conta a Splash.

Diferentemente de Leticia, o bancário Edmar Moreira, de 35 anos, já esteve em outras edições do festival. Ele compareceu às quatro edições desde a retomada do Rock in Rio no Brasil em 2011. Desta vez, desistiu e não estará presente pelos altos preços das passagens aéreas e da hospedagem na cidade.

"Passagem estava em média R$ 1.500 e hospedagem para três dias estava na mesma faixa, sendo que em 2019, eu não gastei nem R$ 1.000 com passagem, hospedagem e gastos no local... Preços absurdos. Eu tinha comprado ingresso para o dia 11 porque queria ver a Dua Lipa", conta.

Ele, que vive em São Paulo, preferiu trocar a viagem ao Rio e a experiência no festival ao lado de amigos para assistir ao show da britânica na capital paulista. Ela se apresenta no dia 8 de setembro, no Distrito Anhembi. "Acabei comprando ingresso do show dela aqui", completa.

A estudante Pollyana Macedo, de 27 anos, que vive em Natal (RN), comprou os ingressos para os dias 10 e 11 de setembro, com o objetivo de assistir aos shows de Dua Lipa e Coldplay. Mas, no início deste mês, ela recorreu ao Twitter para vender os ingressos por não conseguir pagar o valor das passagens aéreas, mesmo buscando voos com meses de antecedência.

"Seria minha primeira vez no festival. Eu comecei a procurar as passagens por volta de maio e, durante o período do Rock in Rio, as passagens de ida e volta estavam variando entre R$ 2.000 e R$ 2.800", conta.

A decisão de Leticia, Edmar e Pollyana de cancelar a ida ao festival reflete a alta nos preços das passagens aéreas. A inflação acumulada dos bilhetes nos 12 meses encerrados em julho foi de 77,68% segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A média geral da inflação no mesmo período foi de 10,07%.

Quem optou por manter a ida ao festival também passa por perrengues. O advogado Crislan Moraes, de 29 anos, conta que ele e o namorado não sabem como irão de Belém (PA) ao Rio. Entre as possibilidades, ir de avião até São Paulo e depois pegar um ônibus ao Rio ou fazer a viagem de mais de 3 mil km de carro. Ele também reclama do valor para se hospedar próximo à Cidade do Rock.

"As passagens para o Rio estão acima de R$ 2.000. No mesmo período para São Paulo está na média de R$ 1800. Hospedagem está bem complicada também. Vamos passar alguns dias na casa de uma amiga, mas, nos dias do evento, optamos por alugar um apartamento, que é bem próximo e dá para voltar andando. Pagamos R$ 3.500 por quatro diárias", pondera.

O que explica a alta dos preços?

As empresas áreas dizem que houve aumento de custos e muita procura de passageiros no pós-pandemia. Essa demanda ainda aumenta durante grandes eventos, como o Rock in Rio.

Em entrevista ao UOL, em julho deste ano, Joelson Sampaio, professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), explicou que dois componentes principais explicam o valor elevado das passagens hoje. Um deles é a própria alta nos combustíveis, que pressiona os custos. O outro componente é o interesse dos passageiros.

"O setor que sofreu muito com a pandemia, com restrições de mobilidade, entre outros aspectos. Agora as pessoas voltaram a viajar e estão utilizando mais esse meio de transporte", diz Sampaio.

"Se há uma procura maior, as empresas vão recompor suas margens, pois sofreram muito na pandemia. Como as pessoas estão pagando, as empresas vão extrair esse excedente", afirma o professor da FGV.

Procurada por Splash, a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), que representa institucionalmente cerca de 70% do setor aéreo, disse que não comentaria a alta dos preços das passagens aéreas durante as datas do festival.

Splash também procurou a ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado do Rio de Janeiro), mas ainda não obteve retorno sobre a alta no valor das hospedagens na cidade do Rio. O espaço segue aberto.

Rock in Rio 2022

O evento acontece nos dias 2, 3, 4, 8, 9, 10 e 11 de setembro, na Cidade do Rock, no Parque Olímpico, na Barra da Tijuca. Em abril, o festival anunciou que todos os ingressos estavam esgotados, mas abriu venda excepcional na última terça-feira. Os ingressos remanescentes esgotaram em poucos minutos.

Em abril, os primeiros ingressos a esgotarem foram para o show de Justin Bieber. Os bilhetes da apresentação do cantor, que será headliner do Palco Mundo no dia 4 de setembro, acabaram em apenas 12 minutos. Os demais headliners (atrações principais de cada dia) são Iron Maiden, Post Malone, Gus N' Roses, Greenday, Coldplay e Dua Lipa.