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Sem proteção, polícia tenta encaixar obra de arte recuperada em porta-malas

Obra de arte é empurrada por agente da polícia para dentro de porta-malas de carro - Reprodução/ Twitter @disangermano
Obra de arte é empurrada por agente da polícia para dentro de porta-malas de carro Imagem: Reprodução/ Twitter @disangermano

De Splash, em São Paulo

10/08/2022 16h35Atualizada em 11/08/2022 13h16

Nesta manhã uma mulher foi presa no Rio de Janeiro suspeita de dar um golpe na própria mãe, uma idosa de 82 anos, e subtrair, por meio de um esquema, cerca de R$ 720 milhões em bens que incluem 16 obras de arte de artistas renomados como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Cícero Dias.

O momento em que a Polícia Civil recupera uma das obras chama atenção. Os agentes tentam colocar um quadro, aparentemente uma aquarela verde que mostra uma figura, dentro de um porta-malas empurrando-o e sem proteção para manuseio.

Em trecho de vídeo compartilhado nas redes sociais, é possível ver que a obra mal cabe no porta-malas, que já tinha outros objetos dentro.

"A Polícia Civil coloca uma obra de arte no porta-malas do carro igualzinho eu faço com minhas compras de supermercado", escreveu Diego Sangermano, diretor de Jornalismo do SBT Rio.

"Imagina a [...] dona dos quadros vendo isso. 'Deixa com os bandidos [...], pelo menos eles não destruíram nada'", brincou o perfil do mestre e doutorando Gustavo Dainezi.

Splash fez contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro para saber o nome e o autor da obra, além do valor em que ela é avaliada, e também a falta de uso de proteção ao manusear a obra. O órgão informou que se recusa a responder quanto ao uso ou não de proteção no manuseio, e que ainda vai divulgar balanço com nome e autoria das obras detalhadas.

Os obras

Entre os itens subtraídos, estão obras da época antropofágica de Tarsila, a mais prestigiada da artista e que chegam a custar mais de R$ 300 milhões. Há também obras de artistas franceses, romenos e russos.

Confira a seguir imagens e a lista das obras.

"O Sono", de Tarsila do Amaral (1928)

Obra 'O Sono', de Tarsila do Amaral - Reprodução - Reprodução
Obra 'O Sono', de Tarsila do Amaral
Imagem: Reprodução

A obra de óleo sobre tela é avaliada em R$ 300 milhões, a mais valiosa da coleção. Faz parte da fase antropofágica da artista brasileira, o de maior prestígio de sua carreira. As obras desse período têm cores fortes e trazem temas do imaginário de Tarsila, como sonhos e lembranças da infância.

"Ela tentou descrever o início do sono, o começo da passagem para o estágio de latência", disse Tarsilinha, sobrinha-neta da artista, à revista Veja.

"Sol Poente", de Tarsila do Amaral (1929)

A obra "Sol Poente", de Tarsila do Amaral  - Reprodução - Reprodução
A obra "Sol Poente", de Tarsila do Amaral
Imagem: Reprodução

A obra de óleo sobre tela é avaliada em R$ 250 milhões e também faz parte da fase antropofágica de Tarsila. De acordo com Tarsilinha, o quadro foi pintado com base em uma paisagem observada da fazenda de café onde a artista morava, em Itupeva.

O quadro foi encontrada no estrado de uma cama em uma das casas visitadas pela operação policial, onde outras obras também estavam escondidas.

Pont Neuf, de Tarsila do Amaral (1923)

"Pont Neuf", de Tarsila do Amaral - Reprodução - Reprodução
"Pont Neuf", de Tarsila do Amaral
Imagem: Reprodução

A obra de óleo sobre tela é avaliada em R$ 150 milhões. Foi pintada nos primeiros anos de Tarsila do Amaral como artista, durante sua ida a Paris em 1920 para frequentar a Académie Julien, uma escola privada de pintura e escultura na capital francesa.

A Pont Neuf (ou Ponte Nova, em português) é a mais antiga das pontes que cruzam o Rio Sena. Sua construção começou em 1578 e foi concluída em 1607.

Rue des Rosiers, de Emeric Marcier

"Rue des Rosiers", de Emeric Marcier - Reprodução - Reprodução
"Rue des Rosiers", de Emeric Marcier
Imagem: Reprodução

A obra de óleo sobre tela do pintor e muralista romeno naturalizado brasileiro é avaliada em R$ 150 mil. Representa o endereço no 4º arrondissement de Paris, França.

"Eglise Saint Paul", de Emeric Marcier

"Eglise Saint Paul", de Emeric Marcier - Reprodução - Reprodução
"Eglise Saint Paul", de Emeric Marcier
Imagem: Reprodução

Outra obra do romeno que representa um endereço em Paris, a igreja Saint-Paul Saint-Louis. O quadro também é em óleo sobre tela e avaliado em R$ 150 mil.

"Mulher na Igreja", de Ilya Glazunov (1992)

"Mulher na Igreja", de Ilya Glazunov - Reprodução - Reprodução
"Mulher na Igreja", de Ilya Glazunov
Imagem: Reprodução

A obra em óleo sobre tela é avaliada em R$ 500 mil. Ilya Glazunov foi um pintor e filósofo russo contemporâneo, condecorado com diversos prêmios em sua terra natal, como a Ordem por Mérito à Pátria.

"Elevador Social", de Rubens Gerchman (1966)

"Elevador Social", de Rubens Gerchman - Reprodução - Reprodução
"Elevador Social", de Rubens Gerchman
Imagem: Reprodução

A obra de acrílica sobre madeira é avaliada em R$ 1,5 milhão. É parte de um conjunto de obras críticas da situação brasileira, que inclui também os quadros "Caixas de Morar" e "Ditadura das Coisas", apresentados na exposição coletiva Opinião 66, no MAM-Rio, em 1966.

"Retrato", de Michel Macreau

"Retrato", de Michel Macreau - Reprodução - Reprodução
"Retrato", de Michel Macreau
Imagem: Reprodução

Óleo sobre tela, avaliada em R$ 150 mil. O pintor francês, que nasceu em 1935 e morreu em 1995, é um dos precursores do movimento artístico figuração livre.

Entre outras obras roubadas, estão:

  • "Ela", aquarela de Cicero Dias, avaliada em R$ 1 milhão;
  • "Aquarela sem título", de Cicero Dias, avaliada em R$ 1 milhão;
  • "Desenho representando uma paisagem", de Alberto Guignard, avaliada em R$ 150 mil;
  • "Porto de pesca em Hong Kong", de Kao Chien-Fu, avaliada em R$ 1 milhão;
  • "Coruja ao luar", de Kao Chi-Feng, avaliada em R$ 1 milhão;
  • "Mascaradas", de Di Cavalcanti, avaliada em R$ 1,5 milhão;
  • "O Menino", de Alberto Guignard, avaliada em R$ 2 milhões;
  • "Maquete para meu espelho", de Antônio Dias, avaliada em R$ 1,5 milhão.

Três obras foram recuperadas em uma galeria de arte de São Paulo. Outras duas foram vendidas pelo proprietário da galeria para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires e ainda não foram recuperadas.