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Autor de 'Sandman' critica políticos do Brasil: 'Tiram coisas de contexto'

Neil Gaiman, autor de "Sandman", reclamou dos políticos brasileiros  - Reprodução
Neil Gaiman, autor de 'Sandman', reclamou dos políticos brasileiros Imagem: Reprodução

De Splash, em São Paulo

10/08/2022 04h00

"Sandman" chegou à Netflix na semana passada e se tornou rapidamente a série mais assistida da plataforma no Brasil. Criador da história em quadrinhos que deu origem à produção, o escritor britânico Neil Gaiman tem um carinho especial pelo público brasileiro: o país foi o primeiro a receber uma tradução da sua obra, lançada originalmente em inglês em 1988.

A relação entre o autor e o Brasil, no entanto, não é apenas de alegrias. Em entrevista a Splash, Gaiman elogia o público brasileiro — com o qual já se desentendeu no passado — mas faz críticas aos políticos do país, a partir de um caso que viveu três anos atrás com a então ministra dos Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos).

"Fico muito feliz com a receptividade do Brasil, eu amo o povo brasileiro. No entanto, não sinto a mesma coisa com alguns políticos brasileiros", diz Gaiman. "Eles tiram coisas de contexto", prossegue o autor, "como aconteceu com aquela arte linda de 'A Bela e a Adormecida', feita pelo ilustrador Chris Riddell".

Em 2019, Damares Alves usou a arte citada pelo escritor em uma apresentação, chamando a imagem de "ideologia de gênero". À época, ela disse que a princesa Elsa, do desenho "Frozen", era lésbica e usou uma arte do livro, com um beijo entre duas personagens, para justificar sua tese. A confusão chegou ao autor pelo Twitter, que demonstrou sua decepção com uma frase de quem sente pena do país: "Oh, Brasil".

Diversidade em 'Sandman'

Em 2020, a relação entre Gaiman e o público brasileiro ficou um pouco estremecida quando, em uma live da CCXP, o escritor rebateu críticas que recebia de parte dos fãs do país. À época, a adaptação de "Sandman" para a Netflix tinha acabado de ser anunciada, e ele foi questionado sobre alguns ataques que recebeu por ter incluído mais diversidade na história.

Na série, personagens que eram brancos na HQ se tornaram negros; alguns que eram homens, agora são mulheres; além de Desejo, personagem não binário.

Tom Sturridge e Mason Alexander Park vivem Sonho e Desejo em 'Sandman' - Divulgação/ Netflix  - Divulgação/ Netflix
Tom Sturridge e Mason Alexander Park vivem Sonho e Desejo em 'Sandman'
Imagem: Divulgação/ Netflix

"No Twitter, parece ser especificamente um fenômeno brasileiro falando disso", disse o autor. " É o mesmo 'Sandman' de 33 anos atrás, então tudo que isso me diz é que você nunca leu 'Sandman'. Essa idiotice em particular, esse sentimento de que você está sendo trollado por pessoas estúpidas que não fazem ideia do que elas estão trollando, é algo especificamente brasileiro."

Agora, em 2022, Neil Gaiman deixou as divergências no passado e relembra com carinho o público brasileiro. "Adoro encontrar pessoas do Brasil, justamente porque foi o primeiro país a lançar 'Sandman' traduzido, foi o primeiro a descobrir a história. Vocês sempre foram os melhores fãs de 'Sandman'."

Durante a conversa com Splash, o autor comentou de uma experiência única que viveu no país, quando, em 2001, ele recebeu, em São Paulo, mais de mil pessoas para autografar a obra. "Vocês têm pessoas fabulosas, mas também bastante barulhentas."

Ele conta que quando a fila foi encerrada, ainda havia 400 pessoas do lado de fora querendo conhecê-lo pessoalmente. "Elas ameaçaram se revoltar e destruir tudo, mas ameaçaram de um jeito divertido e brasileiro. Por isso, fiquei até as 3 da manhã autografando. Eu fiquei completamente sem voz."

"Foi o primeiro lugar que enlouqueceu com a minha presença. O público correu para o palco. Quando terminei de falar, os seguranças tiveram que me levar para fora do prédio", relembra.