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Gloria Perez deu fotos brutais de Daniella morta para série: 'Dói ver'

De Splash, em São Paulo

26/07/2022 04h00

Se passaram 30 anos do assassinato da atriz Daniella Perez, um dos crimes mais rumorosos do Brasil. Morta pelo colega de elenco Guilherme de Pádua e pela esposa dele, Paula Peixoto (à época, Paula Thomaz), a jovem era filha de Gloria Perez, a dramaturga que escrevia a novela em que ambos atuavam, "De Corpo e Alma".

Mãe enlutada, a escritora sempre fez questão de falar sobre o crime, e não mediu esforços para que a verdade prevalecesse. Com a série "Pacto Brutal", Perez encontra mais um meio de expor o que aconteceu com a filha de 22 anos naquela noite de 28 de dezembro de 1992.

Em entrevista exclusiva a Splash, Gloria Perez conta ter entregue à produção documental da HBO Max todos os arquivos e fotos do caso, registros esses que são bastante explícitos quanto à violência sofrida pela atriz, que levou 18 punhaladas. Parte do coração de Daniella ficou à mostra com tamanha agressividade.

"Se você quer contar essa história, tem que mostrar o que eles fizeram", explica a escritora. "O que me incomoda é que esse crime tenha sido cometido e que tenha sido tratado da maneira que foi. Eu acho que as fotos não deixam minimizar nada."

Você olha e foi exatamente aquilo que foi feito. Então, me dói ver aquilo? Muito. Mas me doeu ver aquilo ao vivo, como eu vi. E ver depois como aquilo foi tratado de maneira a minimizar (o crime).

Para Perez, o caso foi reportado pela mídia de maneira errônea, por muitas vezes sendo classificado como "passional", com Guilherme de Pádua afirmando que a morte da atriz foi um acidente. "Ele dizia que foi um acaso. Mas, não foi uma coisa casual. Quando você olha aquelas fotos, você vê que não tem nada de momento, foi feito de uma forma quase ritualística."

Daniella Perez ao lado da mãe, Glória Perez - Reprodução - Reprodução
Daniella Perez ao lado da mãe, Gloria Perez
Imagem: Reprodução

A escritora conta que Tatiana Issa e Guto Barra, diretores de "Pacto Brutal", tiveram a liberdade de usar os registros o quanto entenderam ser necessário. "Entreguei e confiei neles. Não vou discutir a proporção das fotos, mas sim a brutalidade contida naquelas fotos."

Reviver algo tão doloroso como a morte de uma filha não poderia ser em vão e, segundo Perez, já faz alguns anos que ela sente necessidade de voltar a falar do assunto. "Esse tempo todo, essa história foi contada da maneira mais sensacionalista possível. Agora, eu queria que o processo falasse. O que me levou a aceitar fazer parte desse projeto e ceder todo o meu arquivo à HBO foi a proposta de que eles se ateriam aos autos do processo."

"Não se trata mais de apresentar versões. É o processo que fala e é só por ele que você pode entender o que aconteceu e o porquê dois psicopatas foram condenados por homicídio duplamente qualificado."

Para Gloria Perez, apenas uma coisa poderia torná-la contra "Pacto Brutal": se Guilherme de Pádua e Paula Peixoto fossem chamados para participar. "Isso eu realmente não queria que fizessem, mas também não veio na proposta deles."

Hoje em dia, se você quiser saber como eles vão, é só abrir ali as redes sociais. Eles estão lá exibindo a sua impunidade. Não precisa agora perder tempo dando microfone. Seria dar palco a psicopata.

Condenados por homicídio qualificado por motivo torpe, com impossibilidade da defesa da vítima, Guilherme foi condenado a 19 anos, e Paula, a 18 anos e seis meses. Eles nunca receberam um diagnóstico de psicopatia e ficaram presos apenas sete anos, quando foram colocados em liberdade condicional.

Atualmente, Guilherme está casado pela terceira vez e sua esposa vem usando as redes sociais para negar que o marido seja um assassino. "Eu fiquei sabendo", disse Perez. "A minha opinião é: o tempo dirá. As máscaras caem."

Daniella Perez foi assassinada pelo ator Guilherme de Pádua e de sua então esposa, Paula Thomaz - HBOMax/Divulgação - HBOMax/Divulgação
Daniella Perez foi assassinada pelo ator Guilherme de Pádua e de sua então esposa, Paula Thomaz
Imagem: HBOMax/Divulgação

Insegurança

Daniella Perez e Guilherme de Pádua contracenaram juntos em "De Corpo e Alma" como Yasmin e Bira, casal que teve um breve relacionamento na novela que foi escrita pela própria Gloria Perez. Mesmo atuando em uma produção sua, Pádua não era uma pessoa próxima a ela, relembra a autora.

No entanto, o fato de o assassino da filha ter sido um colega de elenco criou um medo coletivo. "Uma coisa que bateu muito forte na época: essa insegurança da gente perceber que o psicopata pode estar do seu lado."

"Porque é o seu colega de trabalho, que trabalha com você aquela tarde inteira e que, de noite, depois do expediente, depois do trabalho, capaz de sair do trabalho, te emboscar, dar 18 punhaladas, atirar num matagal e ir cumprimentar e consolar sua família."

Gloria Perez relembra que a atriz Carla Daniel foi quem informou Guilherme de Pádua sobre a morte de Daniella e que ela teria recebido uma resposta fria por parte do ator. "Como ficam as gravações amanhã?", teria perguntado Pádua, segundo o relato.

Gloria Perez cedeu seu arquivo para 'Pacto Brutal' - HBOMAX/Divulgação - HBOMAX/Divulgação
Gloria Perez cedeu seu arquivo para 'Pacto Brutal'
Imagem: HBOMAX/Divulgação

Próximos episódios

Os três últimos capítulos de "Pacto Brutal" ficarão disponíveis na próxima quinta-feira e a autora acredita que eles serão peças chave para que o espectador entenda toda a história. Será explicado que houve uma emboscada, na qual Daniella levou um soco de Guilherme e desmaiou.

"Até o segundo episódio eles estão mostrando a confusão dos primeiros momentos. Agora o processo vai para a Justiça, né?".

Todas essas versões que vocês estão ouvindo até agora vão cair por terra. Elas não se sustentam.

Outro assunto importante que será abordado nos próximos capítulos é o machismo que envolve todo o caso. O corpo de Daniella Perez foi encontrado em um terreno baldio e, à época, houve quem perguntasse "o que uma mulher estava fazendo com um homem naquele lugar?".

Veja quem são os envolvidos no caso Daniella Perez

Papel da imprensa

Hoje uma possível aliada, a imprensa teve um papel questionado pela autora na época do crime. "A maneira sensacionalista como tudo foi tratado provoca uma reflexão. Mesmo vendo que havia histórias absurdas, várias versões dariam várias matérias. Dar apenas a verdade, gera apenas uma e põe fim nas especulações."

Para Perez, o problema quanto aos veículos de mídia foi o espaço dado aos assassinos, o que ajudou a disseminar narrativas mentirosas, como a que Guilherme e Daniella tinham um caso. "Quando a vítima é mulher, ela sempre tem alguma culpa no que lhe acontece."

Por fim, a autora acredita que, sem dar palco aos condenados pela morte de sua filha, será possível apresentar ao público a verdade sobre o caso de Daniella Perez.