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Elvis era racista? Novo filme traz resposta para antigo questionamento

Elvis (Austin Butler) e B.B. King (Kelvin Harrison Jr.) em cena de "Elvis" - divulgação / Warner Bros.
Elvis (Austin Butler) e B.B. King (Kelvin Harrison Jr.) em cena de "Elvis" Imagem: divulgação / Warner Bros.

Renan Martins Frade

Colaboração para o UOL

14/07/2022 12h00

Esta é a versão online da edição desta quinta-feira (14) da newsletter Na Sua Tela. Nesta semana, destaques para "Elvis", "Crimes of the Future" e outros filmes que chegam aos cinemas e aos streamings, além de uma curadoria do que vale assistir. Inscreva-se para receber a newsletter semanalmente. Assinante UOL ainda tem 10 newsletters exclusivas.

Nesta quinta, 14, chega aos cinemas brasileiros o aguardado filme "Elvis", que conta a vida de um dos maiores ícones da música mundial: Elvis Presley. Entre outras questões, o novo longa-metragem traz a resposta para uma antiga dúvida: será que o Rei do Rock, morto em 1977, era racista?

Explica-se: o astro teria dito em 1957 que "a única coisa que os negros podem fazer por mim é comprar os meus discos e lustrar os meus sapatos". Pouco depois, Elvis desmentiu aquela declaração - só que o boato ficou para sempre como uma mancha em sua biografia. Ainda hoje, alguns o enxergam como alguém preconceituoso.

Mesmo sendo uma obra de ficção, "Elvis" lida, sim, com esse tema, além de honrar a origem negra do rock and roll. Leia mais a seguir.

Aproveitando esse gancho, o Na Sua Tela desta semana lista outras cinco produções que ajudam a entender o contexto da luta pelos direitos civis daquela época, além dos reflexos nos tempos atuais.

Quer mais? O chocante "Crimes of the Future" também chega aos cinemas nesta semana, enquanto a Netflix apresenta a mais nova adaptação da obra de Jane Austen: "Persuasão".

Confira tudo isso - e mais - a seguir.

O que tem de novo?

ELVIS

"Elvis" passa pelas mais diversas fases da carreira do músico - Divulgação/Warner Bros. - Divulgação/Warner Bros.
"Elvis" passa pelas mais diversas fases da carreira do músico
Imagem: Divulgação/Warner Bros.
  • Assista ao trailer
  • Onde: Nos cinemas - clique para comprar ingressos
  • O que tem de bom: A cinebiografia "Elvis", do diretor e co-roteirista Baz Luhrmann ("Moulin Rouge"), faz um extenso - e, em diversos momentos, estilizado e acelerado - relato da carreira de Elvis Presley (Austin Butler) a partir de duas grandes espinhas dorsais. A primeira é o relato do empresário "coronel" Tom Parker (Tom Hanks), que alçou o músico ao estrelato - e que também explorou essa fama. O outro é a partir do pano de fundo cultural e de agitação social dos anos 1940 aos 1970. A obra faz questão de ressaltar a relação de Elvis com a cultura negra em sua infância e adolescência, além da indignação do astro com a segregação da época e, já na década de 60, com as mortes de Martin Luther King e Robert Kennedy. Talvez pela manipulação de Parker, o músico não tenha feito mais pela igualdade étnica - mas, definitivamente, o filme faz questão de ressaltar não só que o seu protagonista não era racista, mas que o DNA da música preta esteve na gênese do rock'n'roll do qual ele é o eterno rei. Por último, mas não menos importante: Austin Butler está extraordinário como Elvis. Vê-lo em cena já vale o ingresso.
  • O que te faz sentir: admirado, atônito
  • Extra direto do Splash: 12 mil remédios e autópsia em segredo: os mistérios da morte de Elvis


CRIMES OF THE FUTURE

Crimes of the Future - imagem - Divulgação / MUBI - Divulgação / MUBI
"Crimes of the Future" é um filme que provoca para causar reflexão
Imagem: Divulgação / MUBI

  • Assista ao trailer
  • Onde: Em cartaz nos cinemas; dia 29 de julho na MUBI
  • O que tem de bom: David Cronenberg (de "A Mosca") é um dos mais inventivos e chocantes cineastas dentro do gênero terror. Em "Crimes of the Future", o diretor reune um elenco com nomes como Viggo Mortensen ("Green Book: O Guia"), Léa Seydoux ("Azul é a Cor Mais Quente") e Kristen Stewart ("Spencer") para encenar um conto que toca em temas como o prazer na dor, a manipulação genética, a pandemia de opioides e muito mais - tudo isso alternando entre o horror exagerado, a excitação e o humor ácido. Certamente não é para todos os gostos, mas agradará quem gosta de sentir aquele incômodo que deixa a poltrona do cinema pequena enquanto a história se desenrola na tela.
  • O que te faz sentir: aflição, desconforto
  • Extra direto do Splash: David Cronenberg recupera seu cinema grotesco em 'Crimes of the Future'

PERSUASÃO

Persuasão - imagem - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Dakota Johnson é a protagonista de "Persuasão", da Netflix
Imagem: Divulgação/Netflix

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  • Onde: amanhã, dia 15, Netflix
  • O que tem de bom: Vamos ser sinceros: "Persuasão" não é a mais fiel adaptação de uma obra da escritora Jane Austen. Por isso, se você procura algo próximo ao livro, certamente irá se frustrar. Tudo porque o longa investe no clima de comédia romântica moderna ao estilo de "Fleabag" - o que, por outro lado, deve agradar quem gosta da série. Mesmo que essa mistura soe como um Frankenstein, "Persuasão'' tem como mérito um design de produção muito bonito, uma fotografia cuidadosa e, principalmente, uma ótima atuação de Dakota Johnson ("Cinquenta Tons de Cinza"). Se você conseguir ignorar que esta é uma adaptação e todas as frustrações que isso acarreta, vai encontrar um divertido "Fleabag" de época.
  • O que te faz sentir: animação, diversão


BEAVIS AND BUTT-HEAD DO THE UNIVERSE

Beavis and Butt-Head Do the Universe - imagem - divulgação/Paramount+ - divulgação/Paramount+
"Beavis and Butt-Head Do the Universe" traz de volta a dupla que fez sucesso nos anos 1990
Imagem: divulgação/Paramount+

  • Assista ao trailer
  • Onde: No UOL Play e Paramount+
  • O que tem de bom: Sucesso da MTV nos anos 1990, a dupla Beavis e Butt-Head retorna em um novo filme. Em vez de reinventar a roda, a produção traz de volta os dois adolescentes como eles eram no passado. Ou seja, os personagens só pensam em assistir a TV e em sexo - ainda que nunca consigam transar. A novidade, mesmo, aparece quando o roteiro coloca o comportamento de ambos em contraponto aos avanços da sociedade nos últimos 25 anos. É assustadoramente hilário quando eles descobrem o que é "privilégio masculino", por exemplo. Um filme ridiculamente cru, vulgar e idiota, no melhor sentido que essa afirmação pode ter, mostrando toda a estupidez da adolescência. Para os fãs (e eu me incluo entre eles), é como diz o meme: "credo, que delícia".
  • O que te faz sentir: galhofa, nostalgia

Entendendo o contexto de 'Elvis'

Como mencionado, a luta pelos direitos civis - principalmente a dos negros - nos anos 1950 e 1960 tem um papel de fundo importante dentro da história contada em "Elvis". Porém, talvez seja difícil entender a dimensão daqueles acontecimentos e o impacto não só no astro da música, mas em toda a sociedade americana.

Por isso listamos aqui alguns filmes que ajudam a entender esse contexto - e que, com sorte, vão abrir os seus olhos ou aprofundar os seus conhecimentos.


EU NÃO SOU SEU NEGRO

Eu Não Sou Seu Negro - Divulgação / Imovision - Divulgação / Imovision
Protesto registrado em "Eu Não Sou Seu Negro"
Imagem: Divulgação / Imovision
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  • Onde: Globoplay, Reserva Imovision ou para aluguel e compra na Apple TV, Google Play, YouTube e Claro tv+
  • O que tem de bom: Baseado no livro inacabado do escritor e ativista James Baldwin, "Eu Não Sou Seu Negro" tem a narração de ninguém menos que Samuel L. Jackson. O documentário explora as memórias de Baldwin sobre a vida e a morte de três grandes líderes da luta pelos direitos civis: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King - esse último mencionado em "Elvis" -, além de tecer comentários sobre a história de segregação nos EUA. É um relato duro, incendiário até, que nos faz entender o contexto daquela época e a relação de forças dentro da sociedade americana (e, porque não dizer, também na brasileira).
  • O que te faz sentir: impotência, indignação

UMA NOITE EM MIAMI

Uma Noite em Miami - imagem - Divulgação/Amazon - Divulgação/Amazon
"Uma Noite em Miami" é baseado em um encontro que realmente aconteceu na vida real
Imagem: Divulgação/Amazon

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  • Onde: Prime Video
  • O que tem de bom: Em 1964, o boxeador Cassius Clay - que depois seria conhecido como Muhammad Ali - lutou contra Sonny Liston pelo cinturão de campeão mundial de boxe. "Uma Noite em Miami" se passa quase que totalmente na noite daquele embate, imaginando como teria sido o real encontro de Clay (Eli Goree) com outras grandes personalidades dos anos 1960: o ativista Malcolm X (Kingsley Ben-Atir), o jogador de futebol americano e futuro ator Jim Brown (Aldis Hodge) e o cantor Sam Cooke (Leslie Odom Jr.). Em um acalorado papo, o espectador aprende mais sobre a luta contra a segregação, as diferenças de pensamento entre essas personalidades e um pouco sobre o que elas acreditavam. Além de trazer muita reflexão sobre a época, é um verdadeiro cartão de visitas para, depois, explorar e conhecer um pouco mais da vida e obra de todos ali presentes.
  • O que te faz sentir: provocação, inspiração


JUDAS E O MESSIAS NEGRO

Judas e o Messias Negro - imagem - Divulgação/Warner Bros. - Divulgação/Warner Bros.
Daniel Kaluuya venceu o Oscar pela atuação em "Judas e o Messias Negro"
Imagem: Divulgação/Warner Bros.

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  • Onde: HBO Max
  • O que tem de bom: Mais um filme recente, baseado em fatos, que retrata a luta contra a segregação nos anos 1960. Aqui acompanhamos como um líder do Partido dos Panteras Negras, chamado Fred Hampton (Daniel Kaluuya, vencedor do Oscar pelo papel), é traído por Bill O'Neal (Lakeith Stanfield), um homem que o FBI de J. Edgar Hoover (Martin Sheen) infiltra na organização. Dessa forma, descobrimos os contornos e nuances das disputas que ocorriam na época, e como as instituições dos Estados Unidos buscavam manipular essa luta. Se você quiser se aprofundar mais na história, os eventos de "Judas e o Messias Negro" se passam em paralelo à história de "Os 7 de Chicago", da Netflix.
  • O que te faz sentir: raiva, desgosto

MISSISSIPI EM CHAMAS

Mississipi em Chamas - imagem - divulgação/Orion/MGM - divulgação/Orion/MGM
"Mississipi em Chamas" usa os conflitos sociais para construir um enredo de suspense
Imagem: divulgação/Orion/MGM

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  • Onde: Prime Video Channels, ou para alugar e comprar na Apple TV
  • O que tem de bom: Mesmo que extremamente ficcionalizado - nomes de personagens foram trocados, por exemplo -, "Mississipi em Chamas", de 1988, permanece como um dos grandes thrillers criminais que usam como pano de fundo a luta por direitos civis dos anos 1960. Na história, dois agentes do FBI (Gene Hackman e Willem Dafoe) vão até o Mississipi investigar o assassinato de três ativistas (dois judeus e um negro) que estavam organizando o registro eleitoral de afro-americanos. Lá eles dão de cara com a temida Ku Klux Klan. O elenco ainda conta com Frances McDormand ("Nomadland"), Michael Rooker ("Guardiões da Galáxia") e outros rostos conhecidos. Agrada quem gosta de um misto de suspense com drama histórico.
  • O que te faz sentir: amargura, ansiedade

A 13ª EMENDA

A 13ª Emenda - imagem - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
"A 13ª Emenda" traz uma visão mais ampla e atual do problema da segregação nos EUA
Imagem: Divulgação/Netflix

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  • Onde: Netflix e grátis no YouTube
  • O que tem de bom: Dirigido por Ava DuVernay (de "Selma"), o título deste documentário faz referência à 13ª Emenda da Constituição dos EUA, aquela que acabou com a escravidão. O ponto de vista, no entanto, é estarrecedor: a partir do momento em que houve a abolição foi iniciada uma outra criminalização dos negros. O comportamento das forças policiais, além de ações como a desastrada guerra às drogas, apenas criaram uma nova espécie de privação da liberdade, nas prisões. Hoje, os descendentes dos escravos sofrem com linchamentos e com a violência das forças de segurança - e o destino de muitos é retornar às correntes, como os seus antepassados, ou até perderem a vida.
  • O que te faz sentir: raiva, revolta

Vale ainda citar outros dois filmes. Um deles é o clássico "O Sol Tornará a Brilhar", de 1961, que apresenta uma família negra lutando contra décadas de descriminação - e você pode comprar ou alugar na Apple TV. Outro é "Selma: Uma Luta pela Igualdade", sobre Martin Luther King e que, infelizmente, não está mais disponível no Brasil. Resta torcer para que, em breve, a Disney traga o longa para o catálogo do Star+.

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