Topo

Há limite? Humoristas analisam piada que levou SBT a demitir Leo Lins

Léo Lins foi demitido pelo SBT após piada sobre criança com hidrocefalia Imagem: Reprodução/Instagram

Weslley Neto

De Splash, em São Paulo

07/07/2022 04h00

O humorista Leo Lins foi demitido do SBT após fazer uma piada em que cita o Teleton e uma criança com hidrocefalia durante um show de stand up. O agora ex-integrante do programa "The Noite", apresentado por Danilo Gentili, já foi criticado anteriormente por fazer piadas preconceituosas.

O comediante pode ser preso por conta do comentário feito durante a apresentação. O crime está previsto no art. 88 da Lei nº 13.146/2015, que pertence ao Estatuto da Pessoa com Deficiência.

"Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa", diz o texto da lei.

Ontem, Monark, ex-apresentador do Flow Podcast, compartilhou uma publicação afirmando que a profissão de humorista foi "criminalizada" ao citar o caso. Splash conversou com humoristas do cenário stand-up, que analisaram a piada e comentaram sobre a situação.

Existe um limite?

A humorista Thainan Bartô afirma que existiu uma construção de piada feita por Leo Lins, que gerou risos do público no momento. "Se ela é ruim ou boa, não é a minha opinião que vale".

"Eu acredito que o limite é o crime. Racismo, homofobia, entre outros. Aí você ultrapassou um limite. Quando você entra em uma polêmica, o que você precisa fazer é arcar com as consequências. Mas não se deve decidir o que você pode ou não falar", diz a comediante.

Cesar Gaglioni, jornalista, comediante e roteirista, também analisa, de forma técnica, o texto escolhido por Leo Lins para a apresentação no palco.

"Ela não foi engraçada. E não só pelo tema ou pelo tom, isso também, mas primordialmente porque ela não teve estrutura de piada. [...] O Leo não quebrou nenhuma expectativa, portanto, não teve piada, por mais que ela tenha sido lida como tal".

"Ele fez essa mensagem mental super clichê, xenofóbica, preconceituosa. Quando ele chegou no 'punch' — parte mais engraçada da piada, ele relaciona com algo que é muito próximo, ligado à seca e miséria. Isso também colabora para que eu não veja como piada".

Demissão e discussão do tema

Em contato com Splash na última segunda-feira (4), a assessoria do SBT tratou do assunto em poucas palavras. "Leo Lins não faz mais parte do quadro de elenco do SBT. Ele não tem mais contrato conosco", anunciou. Questionado se o vínculo deixou de existir há algum tempo ou em virtude do episódio, o canal confirmou que "foi encerrado" após o caso.

Em contato com a reportagem, Thainan Bartô e Cesar Gaglioni concordam que o SBT, como empresa privada, devem decidir pelo desligamento conforme o impacto que as declarações geram para a imagem da emissora.

"O que me incomoda mais é a cultura do cancelamento. A represália que se faz com uma pessoa é muito dura", disse Thainan sobre o caso.

A piada é feita para você ouvir e discutir sobre o assunto. Eu não me lembro qual foi a última vez que falamos sobre hidrocefalia no Brasil. Voltamos a falar por conta de uma piada, olha a importância.
Thainan Bartô

Cesar lembrou o trabalho do humorista George Carlin ao falar sobre o tema. "Ele falava sobre aborto, um tema delicado. Mas o 'pulo do gato' é que o alvo das piadas era o congresso americano e o partido Republicano, que se manifestava contra os direitos das mulheres".

"O humor sempre vai ter uma dose de crueldade. Agora, há uma regra não escrita da comédia: o ideal é sempre "bater para cima" e não "bater para baixo", como no caso do Carlin. Não acho que exista tema proibido. [...] É uma questão de como abordar o tópico", concluiu.

O caso

Na filmagem que viralizou durante o último final de semana, Leo Lins ironiza o Teleton, maratona televisiva que arrecada dinheiro para a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), entidade que atua no atendimento de crianças e adolescentes com deficiência e sem condição de pagar por um tratamento. Ele cita o caso de uma criança com hidrocefalia no Ceará.

"Eu acho muito legal o Teleton, porque eles ajudam crianças com vários tipos de problema. Vi um vídeo de um garoto no interior do Ceará com hidrocefalia. O lado bom é que o único lugar na cidade onde tem água é a cabeça dele. A família nem mandou tirar, instalou um poço. Agora o pai puxa a água do filho e estão todos felizes", declarou o humorista ao público.

A AACD emitiu um comunicado lamentando o episódio. "A AACD repudia veementemente a 'piada' feita por Leo Lins em vídeo divulgado recentemente nas redes sociais do comediante. Em uma fala extremamente infeliz e bastante capacitista, ele ataca pessoas com hidrocefalia, chama as pessoas com deficiência de "crianças com vários tipos de problemas" e mostra desrespeito aos moradores do Ceará", diz a nota.

Splash entrou em contato com Leo Lins e foi informada que o comediante fará uma manifestação sobre o caso em breve nas redes sociais. "Qualquer pronunciamento será feito através de um vídeo no canal do YouTube dele", disse a equipe.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Há limite? Humoristas analisam piada que levou SBT a demitir Leo Lins - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade