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10 anos do Porta dos Fundos: o que se sabe sobre ataque à sede do canal

Fábio Porchat, Gregorio Duvivier, Antonio Tabet e João Vicente, do Porta dos Fundos - Charles Naset/Divulgação
Fábio Porchat, Gregorio Duvivier, Antonio Tabet e João Vicente, do Porta dos Fundos Imagem: Charles Naset/Divulgação

Weslley Neto

De Splash, em Sao Paulo

07/07/2022 04h00

A história do Porta dos Fundos, produtora de humor que completa 10 anos em 2022, também foi marcada por um ataque à sede do canal. Um grupo foi responsável por realizar o atentado em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, na véspera de Natal de 2019.

Na época, o Porta dos Fundos causou polêmica ao retratar Deus mentiroso e Jesus gay em seu tradicional especial de Natal para a Netflix.

O prédio foi alvo de bombas e teve um princípio de incêndio controlado. O episódio foi lembrado em entrevista de Antonio Tabet, ator, roteirista e um dos responsáveis pelo canal, em entrevista ao podcast Podpah no dia 23 de junho.

O grupo, que anunciou se chamar "comando de insurgência popular nacionalista da família integralista brasileira", assumiu a autoria do ataque, segundo relato do jornal Correio Braziliense em 2019.

Três homens encapuzados afirmaram em vídeo que o ato "buscou justiçar o povo brasileiro contra a atitude blasfema, burguesa e antipatriótica", diz a publicação.

Jogamos um holofote na homofobia do Brasil, muita gente xingou e processou a gente. Fomos vítimas do primeiro atentado terrorista no Brasil depois de redemocratização e, até hoje, ainda não pegaram os culpados. Um foi preso, mas quatro ainda estão soltos. O segurança que estava no local quase morreu.
Antonio Tabet em entrevista ao Podpah

Como foi o ataque

Nenhum dos integrantes do humorístico estava no local no momento do ataque. "A perícia foi realizada no local e a equipe do Esquadrão Antibombas arrecadou fragmentos dos artefatos para análise. Diligências estão em andamento para esclarecer o caso", informou a Polícia Civil na época.

O especial foi alvo de várias petições online, com centenas de milhares de assinaturas, que pediram a retirada do ar. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) engrossou o coro afirmando que o Porta dos Fundos atacou a fé de 86% da população brasileira.

O caso foi registrado na 10ª DP, no bairro de Botafogo, como crime de explosão. As imagens das câmeras de segurança do prédio foram encaminhadas para a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro.

Eduardo Fauzi foi reconhecido em uma das gravações que captaram a ação. Ele teve mandado de prisão expedido pela Justiça, mas viajou para a Rússia um dia antes. A Polícia Civil, então, pediu para incluir o nome dele na lista de foragidos da Interpol.

Suspeito preso

O empresário estava preso no exterior desde setembro de 2020, após ser detido no Aeroporto Internacional de Koltsovo, a 1.786 quilômetros de Moscou, capital da Rússia. A extradição só foi liberada em janeiro deste ano.

Segundo informações do site russo Argument i Fakty, Eduardo deixou o país acompanhado por dois policiais brasileiros da Interpol, com destino final ao Rio de Janeiro, em março.

Segundo a defesa de Eduardo afirma a Splash, ele foi encaminhado para o Presídio José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro. O suspeito também passou por uma audiência de custódia.

Os advogados do empresário afirmaram que tentarão afastar a possibilidade de que Eduardo seja indiciado pelo crime de tentativa de homicídio por dolo eventual.

Segredo de Justiça

Em contato por Splash, o TRF-2 (Tribunal Regional Federal) informou que, acompanhando o voto do desembargador federal Marcello Granado, 2ª turma especializada decidiu declinar em fevereiro deste ano, entendendo que não ficou tipificado crime de terrorismo. O caso está registrado no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).

O processo passou a tramitar na 35ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Sem identificar qual a nova categoria em que o crime foi classificado, o TJ-RJ afirmou à reportagem que a ação segue em segredo de Justiça.

"Não temos acesso ao teor das movimentações", informou o departamento de comunicação do tribunal. O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) também foi procurado por Splash, mas não deu retorno sobre o caso.