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Quem é 'a mulher da casa abandonada'? História tomou as redes sociais

Laysa Zanetti

De Splash, em São Paulo

04/07/2022 12h22

Basta uma passada rápida pelas redes sociais para perceber que o podcast "A Mulher da Casa Abandonada" é o assunto do momento. O programa criado e apresentado pelo jornalista Chico Felitti para o jornal Folha de S. Paulo está repercutindo tanto que tem levado as pessoas às ruas em busca de pistas e informações sobre a tal mulher da casa abandonada.

Mas, afinal, quem é a mulher e qual sua história?

A "mulher da casa abandonada" é Margarida Bonetti, que vive em um casarão com ares de abandono e descaso no tradicional bairro Higienópolis, um dos mais caros de São Paulo.

No podcast, Chico investiga o que levou a mulher, que se apresentou a ele como Mari, a levar a vida que leva, de forma bastante excêntrica, no bairro paulistano.

No entanto, o que poderia ser apenas um mergulho na vida da elite paulistana por trás das cortinas se transforma em algo a mais: o programa revela que Margarida está foragida do FBI há mais de duas décadas, por ter mantido uma mulher em condições análogas a escravidão nos Estados Unidos.

O podcast foi lançado no início do mês de junho. O primeiro episódio, "A Mulher", foi publicado no dia 8 nas plataformas digitais, e começa a narrativa explicando quem é a mulher que chama atenção no bairro por andar com uma pomada branca cobrindo o rosto e morar em uma casa caindo aos pedaços (uma das únicas sobreviventes em meio a prédios e condomínios modernos).

Inicialmente, o podcast aborda seu estilo de vida incomum e a sua obsessão por salvar as árvores do bairro de podas e derrubadas da Prefeitura. Ela tem duas cachorras, de grande porte, que vigiam a casa e evitam a invasão de estranhos. A mulher chega a jogar baldes e sacolas plásticas com excrementos pela janela, o que exala mau cheiro e traz riscos sanitários para a vizinhança.

Logo nos episódios seguintes, a narrativa revela por que Margarida Bonetti se esconde e por que sua história é muito mais sombria do que imaginava-se inicialmente.

Há mais de 20 anos, ela e seu então marido, Renê Bonetti, foram indiciados por manterem uma mulher trabalhando na residência do casal em condições análogas à escravidão, nos Estados Unidos. Procurada pelo FBI, ela fugiu para o Brasil e se mantém escondida no país desde então.

No programa, Chico explica que o Brasil não expatria seus cidadãos nacionais para serem julgados em outros países. Ou seja, mesmo sabendo onde Margarida vive, a mulher não poderia ser presa e levada aos EUA para cumprir pena. Renê Bonetti, por sua vez, já estava naturalizado como cidadão americano quando o caso foi deflagrado.

Como tudo começou?

Casados no Brasil, Margarida e Renê decidiram se mudar para os EUA, e levaram com eles a empregada doméstica, uma mulher brasileira e analfabeta, que antes trabalhava na casa dos pais da mulher e foi dada como "presente" ao casal. Isso aconteceu no final da década de 1970.

Desde então, a mulher, que prefere não ter sua identidade revelada, foi mantida pelo casal sem receber pagamento pelo seu serviço, sem direito a folgas e férias e sendo vítima constante de agressões e humilhações. Nas ocasiões em que ela foi lesionada, teve atendimento médico negado apesar de fraturas e ossos quebrados.

A situação só chegou ao fim quando a vítima conseguiu fugir durante uma viagem de férias do casal. Ela recebeu ajuda de uma vizinha, que deu abrigo e denunciou a situação à polícia. Isso aconteceu no início dos anos 2000.

A partir disso, o FBI começou a investigar o caso. Enquanto Renê foi indiciado pelos crimes e condenado a seis anos de prisão, Margarida conseguiu fugir para o Brasil ainda durante as investigações. Por isso, ela nunca respondeu à Justiça e decidiu ficar na casa que era de seus pais em Higienópolis.

Sensação nas redes e 'turismo'

A popularidade do podcast nas redes sociais gerou uma onda de turismo em volta da mansão abandonada em Higienópolis. Páginas criadas por fãs acumulam-se no Instagram movidas por curiosos que tentam reunir mais informações sobre a mulher e seu estilo de vida. Um perfil com mais de 100 mil seguidores até a publicação desta matéria se descreve como "criado por fofoqueiros obcecados em pesquisar tudo", e anuncia que aquele que tiver informações pode enviá-las através de mensagem direta.

Durante o fim de semana, o Instituto Luísa Mell entrou nos jardins da casa para resgatar as duas cachorras que eram mantidas por Margarida. A entrada aconteceu após denúncia de que os animais haviam sido abandonados após a mulher ter supostamente fugido do local.

Segundo o delegado Bruno Lima, que entrou na residência junto a profissionais do instituto, a Vigilância Sanitária e o Controle de Zoonoses também foram acionados para verificar o local.

"Falamos com vários vizinhos aqui do entorno, Isso aqui é um problema antigo do bairro. Isso é um celeiro de doenças, na verdade. É um problema de zoonose", afirmou.

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