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Zuleica em Pantanal, Aline Borges viveu relação abusiva: 'Tenórios por aí'

Aline Borges é Zuleica em 'Pantanal' Imagem: Globo/João Miguel Júnior

Filipe Pavão

De Splash, no Rio

26/06/2022 04h00

Zuleica é rival de Maria Bruaca (Isabel Teixeira)? Jamais! É o que defende a atriz Aline Borges, responsável por interpretar a segunda esposa de Tenório (Murilo Benício) no remake de "Pantanal" (TV Globo). Em conversa com Splash, a atriz carioca de 47 anos diz que não enxerga rivalidade feminina entre as esposas do fazendeiro.

Acho lindíssima a relação (entre Zuleica e Maria Bruaca). O que a gente está acostumada a ver em trios? Que as duas mulheres vão quebrar pau para ficar com esse homem, mas, no caso delas duas, isso não acontece. Elas não vão rivalizar.

As atitudes tóxicas de Tenório contra Maria Bruaca (Isabel Teixeira) na fazenda e Zuleica, que vive na cidade com os filhos, geram indignação entre os telespectadores que comentam a trama de Bruno Luperi no Twitter. Assim como as personagens, Aline conta que já passou por um relacionamento abusivo na juventude.

"Tenho 47 anos e já errei muito nos meus relacionamentos. Na minha juventude, tive relacionamentos que olho pra trás hoje e me pergunto: por que me submeti a isso? Sou uma mulher inteligente e para frente, mas, em algum lugar, a minha autoestima devia estar ferida. Eu não precisava daquilo, mas por escolha, estive naquela situação. Eu vivi uma situação tóxica, de violência, machismo e opressão. Me permiti viver um relacionamento desse por 2 anos", lembra.

Para ela, a novela tem o papel de mostrar o que acontece com muitas mulheres e pode inspirar transformações positivas. "Quantas mulheres, hoje, estão olhando a novela e se identificando tanto com a Bruaca, com a Zuleica e dizendo: 'eu não quero isso para mim'. A arte tem esse poder", pensa.

"Que nós, mulheres, a gente entenda o nosso poder e não abaixe a cabeça para nenhum homem Que não exista mais espaço para rivalidade. Graças ao feminismo, a gente vê que precisa dar às mãos. Quando a Zuleica dá as mãos para a Maria Bruaca na novela, ela está dizendo ao Brasil que nós precisamos estar juntas. Assim, vamos mais longe", completa.

Por Zuleica ter entrado na trama na metade da trama e Maria Bruaca ser popular, Aline pensou que a personagem fosse sofrer rejeição do público, mas não foi o que aconteceu em sua visão.

"Achei que o público ia querer tacar pedra na Zuleica porque a Mari Bru é a namoradinha do Brasil — ela tem um magnetismo em sua história e na construção da Bel (Isabel Teixeira), que eu tiro chapéu, ela é uma artista muito potente e visceral. Mas quando a Zuleica abriu a boca para defender essa mulher, as pessoas gostaram. Elas querem ver as mulheres se unindo. Se as colocasse rivalizando, seria mais do mesmo", opina.

Por que Zuleica aceita o Tenório?

Depois de estudar a história de Zuleica, a atriz diz entender os motivos que levam a personagem, mesmo sendo uma mulher empoderada, a se relacionar com Tenório, um machista de carteirinha.

"Para mim, foi uma dificuldade quando peguei o roteiro e comecei a ler... Como iria defender essa personagem sabendo que ela é tão dona de si, mas está nessa relação? Existe uma trama do passado, que ainda vai ser revelada, ele chegou no momento de maior fragilidade da vida da personagem", adianta.

"Apesar de ser politicamente correta, sensata, empática e f*da, ela não é uma mocinha perfeita. É um ser humano como outro qualquer, que erra e acerta. O Tenório é fruto de uma escolha errada do passado. Ela só viveu a vida inteira com esse homem justamente por ele não estar presente o tempo todo, ter essa presença turista".

Para Aline, Tenório é a representação o "homem lixo" ao ser machista, preconceituoso, racista e individualista.

O Tenório é tudo de ruim. Temos 'zilhões' de Tenórios perto da gente. Não é só na ficção que existe esse homem branco, racista, no alto da pirâmide, que se acha o f*dão, que acha que é para ser servido porque a mulher é inferior.

Tenório tem duas famílias em 'Pantanal'; em uma delas, ele tem três filhos com Zuleica Imagem: Globo/João Miguel Júnior

Racismo em pauta

Diferente da versão de 1990, escrita por Benedito Ruy Barbosa, o remake traz a família de Zuleica composta por pessoas negras para debater o racismo na sociedade.

"O Bruno Luperi escolher uma família preta para trazer luz às questões raciais é de suma importância. Não é em toda obra que a gente vê isso acontecer. A gente não tem igualdade na TV, no audiovisual e nos espaços de poder. É um país racista, onde os pretos são excluídos. E as pessoas têm dificuldade de ver isso. Enquanto elas pensarem que é mi mi mi, a gente não caminha", desabafa.

"A gente precisa desconstruir o racismo por meio da escola, da política e da arte. A forma como uso minha voz para combater o racismo hoje só vai trazer resultado, talvez, para as minhas netas. O que estou colhendo hoje é fruto de quem veio antes de mim: Neusa Borges, Ruth de Souza, Zezé Motta, Chica Xavier, Abdias do Nascimento", completa.

"Achada" no Instagram

Durante a conversa com Splash, Aline explicou que o autor Bruno Luperi a viu pela primeira vez no Instagram. Ela realizou o teste para a novela quase juntamente aos testes de "Verdades Secretas", mas, pelas tramas terem sido gravadas em momentos diferentes, ela pôde participar das duas produções.

"O Bruno me disse que criou um Instagram para procurar atores. Ele viu um vídeo meu e da minha filha falando sobre a cultura e a história dos turbantes. Ele disse que quando viu aquele vídeo, ele encontrou a Zuleica... Você como a representatividade é importante. Eu uso as redes sociais para mostrar quem eu sou, a minha luta, as causas que acredito", finaliza.

Estou na luta há 27 anos. Fiquei muito tempo na Record, fiz coisas pequenas na Globo, mas nunca tinha feito um papel tão grande na emissora. Chorei de felicidade.

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