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Neuro de 'Sob Pressão', David Junior sofreu para achar referências negras

David Junior no lançamento da quinta temporada de "Sob Pressão" - Roberto Filho/Brazil News
David Junior no lançamento da quinta temporada de "Sob Pressão" Imagem: Roberto Filho/Brazil News

Filipe Pavão

De Splash, no Rio

07/06/2022 04h00

Encontrar referências de neurocirurgiões negros não foi uma tarefa fácil para o ator David Junior, que dá vida ao doutor Mauro em "Sob Pressão". Desde a semana passada, dois novos episódios da quinta temporada da série chegam ao Globoplay semanalmente.

Em bate-papo com Splash, durante o evento de lançamento da produção no Rio, o ator de 36 anos revelou que encontrou apenas um nome ao buscar sobre neurocirurgiões negros em atividade no Brasil.

"Quando eu fui pesquisar sobre a neurocirurgia e procurar uma referência negra, eu só achei um, e essa pessoa se aposentou neste ano. Ou seja, o cara que vem a 40 anos atrás nada sozinho", desabafou o ator, referindo-se ao doutor Ivan Santana Dório, que teve seu último plantão médico registrado pelo UOL em abril deste ano.

David ainda refletiu sobre a importância de levar representatividade para o grande público e, assim, criar o imaginário social de que um homem preto pode, sim, ser um neurocirurgião.

É muito dificil ver que precisou chegar em 2022 para colocar um negro representando um cargo de chefia dentro da medicina no imaginário social.

"Isso acontece porque é distante da realidade do negro, especialmente, o periférico, pensar em estudar em tempo integral, mesmo tendo que trabalhar, pensar em pagar um valor absurdo se não passar em uma faculdade pública", ponderou.

Fora da neurocirurgia, o ator também conversou com outros médicos negros, que relataram preconceitos no dia a dia da profissão. Por isso, o ator defende a naturalização de atores negros em papéis de destaque.

"É necessário ter oportunidade para ocupar esse lugar, ser visto e, ainda mais, ser aceito. Muitos médicos negros estão no front de campo, mas quando chega um paciente que precisa de atendimento, ele não quer ser atendido por um médico negro. As referências que busquei me falaram em massa sobre isso. É preciso normalizar o imaginário para que a aceitação venha", argumentou.

Os médicos Mauro (David Junior), Carolina (Marjorie Estiano), Décio (Bruno Garcia) e Evandro (Julio Andrade) no especial de "Sob Pressão" em 2020 - Globo / João Faissal - Globo / João Faissal
Os médicos Mauro (David Junior), Carolina (Marjorie Estiano), Décio (Bruno Garcia) e Evandro (Julio Andrade) no especial de "Sob Pressão" em 2020
Imagem: Globo / João Faissal

Série política

David não escondeu a felicidade de poder lançar a nova temporada em um evento presencial com a presença dos amigos do elenco. No entanto, ressaltou que ainda vivemos um período de cautela, principalmente em período de aumento de casos da covid-19.

Estamos aqui graças à vacinação... Por se tratar de uma série que retrata a saúde, esse lançamento tem peso dois.

Ele ainda destacou que a série pode ter novas temporadas no futuro, pois possui muitas histórias para contar. Além disso, para ele, é o cunho político da produção que mantém o sucesso ao longo de tantas temporadas.

"A gente tem uma responsabilidade social muito grande. A gente fala das mazelas da saúde pública para o Brasil. É muito bom quando a gente faz um projeto que tem um cunho político. A gente quanto artista é um corpo político. Ser instrumento de voz para quem precisa ter voz é fundamental para a gente tentar construir uma sociedade melhor e minimamente mais inclusa", afirmou.

David Junior e Milton Gonçalves em cena de "Pega Pega" - Globo/Estevam Avellar - Globo/Estevam Avellar
David Junior e Milton Gonçalves em cena de "Pega Pega"
Imagem: Globo/Estevam Avellar

Despedida a Milton Gonçalves

Durante a conversa com Splash, David ainda lamentou a morte de Milton Gonçalves, que faleceu aos 88 anos na última semana. Os dois trabalharam juntos como pai e filho na novela "Pega Pega" (2017), uma das mais de 40 novelas que o veterano participou na TV Globo.

"Milton é uma ancestralidade que a gente teve a oportunidade de conhecer em vida. Eu tive a oportunidade de trabalhar e ser filho dele. Ele representa a mudança, abriu portas em um lugar que não existiam oportunidades para a gente. O Milton vem do teatro experimental do negro, o Milton abrindo caminhos para eu estar aqui hoje. Foi um abre-alas para a minha geração e muitas que estão por vir", diz.