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Moro 'samurai', Lula 'picareta': o que José Padilha já falou sobre política

O diretor José Padilha já falou bastante de política ao longo de sua carreira Imagem: Netflix / Bruna Prado

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

28/05/2022 12h42

José Padilha se tornou um dos assuntos mais comentados ontem depois que uma entrevista, na qual ele se diz arrependido por ter defendido o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil), foi publicada pela revista Veja.

O cineasta, que colocou Moro como uma espécie de herói na série "O Mecanismo", ponderou:

"Ele não iria trabalhar para um presidente sem pesquisar um pouco sobre a vida dele. Em suma, eu fui naïve. Fui ingênuo. Mas não só ele, um monte de gente caiu na mesma ilusão". Na mesma reportagem, ele disse que Sérgio Moro se "associou aos milicianos" e disse que, em uma eleição entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT), ele votará no ex-presidente do Partido dos Trabalhadores.

No entanto, esta não foi a primeira vez que José Padilha se envolve em polêmicas envolvendo políticas. Abaixo, Splash relembra algumas vezes que o diretor falou sobre o assunto.

Sérgio Moro 'samurai'

Muito antes de ficar desapontado com a postura de Sérgio Moro, José Padilha escreveu um artigo para o jornal O Globo, em 2016, no qual chamou o então juiz de "Samurai Ronin". No texto, ele o comparou com Sanjuro, um samurai ronin, personagem do filme "Yojimbo", de 1961, dirigido por Akiro Kurosawa.

"Trilhando o caminho do meio e seguindo o código de honra dos samurais, Sanjuro fez justiça de maneira inteligente. Ora ao lado da direita e ora ao lado da esquerda, jogou um bandido contra o outro até libertar completamente a aldeia", explicou Padilha no artigo, em uma alusão bastante positiva a Moro.

Arrependido

O arrependimento de ter elogiado Moro veio em 2019, por meio de outro artigo, desta vez, escrito para a Folha de São Paulo. No texto, Padilha pondera: "Ora, o leitor sabe que sempre apoiei a operação Lava Jato e que chamei Sérgio Moro de 'samurai ronin', numa alusão à independência política que, acreditava eu, balizava a sua conduta. Pois bem, quero reconhecer o erro que cometi", escreveu.
O diretor fez uma análise contrária ao "pacote anticrime" proposto pelo então Ministro Sérgio Moro e chamou o projeto de "pacote pró-milícia". Por fim, disse: "Sérgio Moro foi de 'samurai ronin' a 'antifalcone'."

Lava jato sem viés político

Em sua série para a Netflix, "O Mecanismo", Padilha quis "narrar a operação policial em si e mostrar inúmeros detalhes esclarecedores que a própria imprensa desconhece", como explicou em entrevista de 2016, para a revista Veja. Na mesma reportagem, ele defendeu a operação Lava jato e disse ela "não tem viés político nenhum".

"É uma operação policial, ponto. Para entender o que está ocorrendo hoje no Brasil, é preciso tirar a cortina de fumaça que nubla os fatos", disse à época.

Série de Marielle

Por se colocar a favor de Sérgio Moro e ser contra o PT, uma boa parte da esquerda brasileira ficou enfurecida quando José Padilha foi anunciado como o responsável pela série ficcional sobre a história de Marielle Franco para a Globoplay.

A vereadora do PSOL foi morta a tiros no dia 14 de março de 2018 no centro do Rio de Janeiro. O motorista do carro, Anderson Pedro Gomes, também morreu.

À época do anúncio, Padilha disse: "Tenho uma história com narrativas que contam a violência do Rio de Janeiro, com 'Ônibus 174' e 'Tropa 1 e 2'. Eu tinha vários projetos nos EUA andando com FX, Showtime, mas parei eles para esse projeto, que é onde está meu coração."

A série ficcional de Marielle Franco não foi lançada até hoje e desde o anúncio, em 2020, não houve novidades sobre a produção.

Lula "picareta"

Para a eleição deste ano, Padilha já deixou claro que, caso seja necessário, escolherá votar em Lula na eleição para presidente do Brasil. No entanto, em entrevista à BBC News Brasil de 2019, o cineasta disse considerar o ex-presidente um "picareta". "Qualquer pessoa razoável não consegue fingir que Lula é honesto", disse.

PT "roubou"

Em evento para divulgar a série "O Mecanismo", Padilha deixou claro o que pensava da política em 2019, principalmente do PT.

"Eu sou antipetista, sou antipessedebista e antipeemedebista. O Lula não escreveu 'O Capital', não é Karl Marx. Ele traiu a esquerda ao apresentar um projeto que foi bom, mas ao mesmo tempo claramente entrou no mecanismo. Alguém aqui acha que o Palocci não roubou? Acha que o Dirceu não roubou? Eu não sou antiesquerda, sou antipetista porque o PT roubou", disse o diretor.

Vácuo melhor opção

Em março de 2018, durante entrevista ao "Conversa com Bial", Padilha disse que a Lava jato tinha um "custo" na eleição que aconteceria aquele ano. Ele ainda defendeu que partidos como o PT, o PSDB e o PMDB deveriam ser extintos.

Na mesma conversa, ele disse que o "vácuo" era a melhor opção para o Brasil na época, mesmo que isso levasse à eleição de uma espécie de Donald Trump.

A culpada por Bolsonaro

Meses depois, em outubro de 2018, Jair Bolsonaro foi eleito o presidente do Brasil, algo que, para Padilha, é culpa da esquerda brasileira.

Em entrevista à revista Veja, ao decidir apoiar Fernando Haddad (PT), a esquerda se tornou culpada pela eleição do presidente. "Estava claro que só quem não tinha envolvimento com a Lava jato teria chance de vencer."

Jean Wyllys

Ao ser questionado sobre a "desonestidade intelectual" na "mudança de discurso" de José Padilha, apontada pelo ex-deputado Jean Wyllys, o cineasta acusou o também ex-BBB de não saber o que significa ser intelectualmente honesto.

"Ser honesto intelectualmente é precisamente ser capaz de mudar de opinião quando os fatos contrariam as suas teses", respondeu. "Se os fatos (por exemplo, as falsas palestras de Lula) demonstram que Lula roubou, então Jean Wyllys seria honesto intelectualmente se tivesse a coragem de admitir que apesar de ter defendido Lula, obviamente Lula não deu as palestras pelas quais recebeu."

Desentendimento com Wagner Moura

Colegas de longa data e produções, como "Narcos" e "Tropa de Elite", Wagner Moura e José Padilha se desentenderam e se afastaram por divergências políticas. Em entrevista à Folha de São Paulo, Moura negou que os dois tenham brigado, mas revelou terem trocado "mensagens duras", principalmente quando o assunto era Sérgio Moro.

"Sempre vi o Moro como uma figura desprovida de qualidades. Acho que hoje está provado que ele foi parcial no julgamento do Lula. A perseguição ao PT era óbvia", disse Moura.

"O ponto é manter meu juízo. Não deixei a polarização política que tomou do país atrapalhar a minha amizade com o Padilha. Simplesmente, paramos de trocar mensagens em determinado momento", completou.

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